A singela linguagem dos olhos

O que se segue não é um desses conjunto de páginas pesadamente científicos em que me tenho perdido, mas antes umas  notas de viagem que pretendem ser uma breve peregrinação interior pelas sensações reais e imaginadas de uma visita ao Oriente.

Macau, aliás,  talvez seja apenas um pretexto para falar desta paixão que sinto pela descoberta dos restos do tempo perdido do século de Quinhentos, quando os portugueses cumpriam, conforme a divisa dada por D. João II ao futuro rei D. Manuel I,  o destino de uma esfera que era espera, isto é, esperança, esse glorioso símbolo que nos deu colectivamente a armilar, ao mesmo tempo que impôs, a cada um de nós, o profundo esotérico da portugalidade que é a aventura de procurarmos a cidadania do género humano.

Como os mestres de Quinhentos, também eu tentei seguir os ditames da singela linguagem dos olhos de que falava Pêro Vaz de Caminha. Também eu quis ser fiel ao dito de Duarte Pacheco Pereira, no Esmeraldo de situ orbis, para quem a experiência que é a madre de todas as cousas, nos desengana e de toda a dúvida nos tira.

Aliás, Macau, para mim, antes de o ser já o era, nessa preparação psicológica de uma viagem de Ocidente para Oriente, através de uma visitação pouco inquisitorial, levada a cabo por um português antigo ao último pedaço simbólico de um Império que já não há, nessa viagem pelo camoniano ir além da Taprobana naquelas pessoanas naus que são feitas daquilo que os sonhos são feitos.

Valeram-me, sobretudo, os testemunhos literários do meu saudoso amigo Almerindo Lessa, as indicações do meu antigo companheiro Luís Sá Cunha, os textos dos padres Manuel Teixeira e Benjamim Videira Pires, as orientações cronológicas de Beatriz Basto da Silva e as informações vivas do Jorge Rangel, do Jorge Bruxo, do José Lobo do Amaral e do António Augusto Jorge Mendes, sem falar nas longas conversas que mantive com o meu mestre Professor Doutor Adriano Moreira e com o meus colegas Ana Maria Amaro e António Vasconcelos Saldanha.