Conflito com Roma

Mais funestas consequências teve a chamada questão dos ritos chineses, ocorrida a partir do século XVII, quando Roma decidiu proibir a utilização, pelos 300 000 católicos chineses, de alguns ritos admitidos pelos jesuítas portugueses aí estabelecidos, nomeadamente o culto prestado a Confúcio e aos antepassados. Tudo se desencadeou a partir de 1631, quando os jesuítas portugueses estabelecidos na China, dependentes do Padroado Português do Oriente, passaram a estar acompanhados por outros sacerdotes, dependentes directamente de Roma, através da Sagrada Congregação da Propaganda da Fé (Propaganda Fide), os quais não admitiam a manutenção desta especialidade do catolicismo chinês. A questão foi agravada a partir da Restauração de 1640, quando Roma, influenciada por Espanha, não tinha relações normais com Lisboa, situação que durará durante os 28 anos de guerra.

Em 1690 a questão levou a conflitos internos em Macau, com o governador e o bispo a tomaram o partido de Roma, enquanto o Senado e os jesuítas defendiam as especialidades do rito chinês.  Em 1700, por sugestão dos jesuítas, o Imperador da China intervém directamente na questão, quando declara e comunica a Roma que os ritos em causa eram puramente civis e políticos. Seguem-se, em 1702, novas desordens entre os cristãos de Macau. A vitória na cúria romana das teses contrárias à perspectiva dos jesuítas portugueses, quando o Papa, em 1704, aprova um decreto da Inquisição contra os ritos chineses, depois de idêntica medida ter sido tomada em 1703 contra os ritos malabares, vai levar a sucessivas retracções do catolicismo chinês. Em 1717 chega a ser proibida a pregação cristã, a que se segue, em 1724, a própria expulsão dos missionários, entretanto instalados em Macau. Roma, contudo, em vez de apostar na conciliação, como a proposata pelo núncio Mezzabarba, enviado a Macau em 1720, endureceu posições e em 1742 o papa Bento XIV optou por proibir a utilização dos ritos chineses pelos católicos, impedindo, deste modo, o crescimento do catolicismo na China. E tudo se agravou quando em 1773 o Papa extinguiu a Companhia de Jesus.