DICIONÁRIO
DE MACAU
ADVENTÍCIOS Macau é cidade de toda a gente
onde, por ironia, os filhos da terra se sentem a mais e parecem dispostos a
partir antes de 1999. Como os adventícios funcionários portugueses que aqui
estão sem ser por missão, mas antes em regime de comissão de serviço na árvore
das patacas. Em muitos destes funcionários, sente-se a doença do Portugal
actual, este europeísmo contabilístico que nos transformou em exploradores de
circunstâncias. Num recente concurso para 17 vagas de juristas apareceram 600
concorrentes lusitanos, esses cidadãos europeus dispostos a correr aos restos
do negregado império. É fartar vilanagem, sobretudo quando se tem prazo
marcado para a saída, quando começa a pesar a falta de horizonte no tempo e no
espaço que vai até à fronteira.
ADVENTÍCIOS Procurar os restos de
portugalidade nas pedras vivas dos portugueses que aqui trabalham é como
detectar agulha num palheiro. A comunidade, dominada pelos funcionários adventícios,
entre o Maio 68 e o ganha bem depressa
perde-se nas quezílias típicas do pós-abrilismo, transportando para estas
paragens os eternos complexos de um país politicamente derrotado. É nestes
contratados que actuam como mercenários que eu sinto a principal doença do
Portugal actual, todo esse ocidentalismo importado, matricialmente contabilístico
que até nos torna maus exploradores das circunstâncias. Aliás, os chineses,
que tão bem nos conhecem, acham que estes portugueses são muito complicados.
ADVENTÍCIOS Uma das nódoas negras nos últimos
anos da nossa presença no foz do Rio das Pérolas está nos funcionários
adventícios que viram Macau como a simples árvore das patacas, esse europeísmo
contabilístico que nos faz um mau explorador das circunstâncias. Falhos de
qualquer espírito de missão, chegaram a Macau como podiam ter chegado à Patagónia
ou a Bruxelas, alguns deles dotados daquele eurocentrismo selvagem que,
desconhecendo a cultura local, passam a considerar os chineses como bárbaros.
Basta recordar que, em determinados concursos para técnicos superiores,
surgiram 600 concorrentes para uma dezena de vagas, demonstrando como esta falta
de cuidado no recrutamento gerou uma espécie de corrida aos
recursos do último resto do império. É fartar vilanagem. Sobretudo,
quando se tem um prazo marcado para a saída, quando se tem falta de horizonte
no tempo e no espaço que vai até à fronteira.
AEROPORTO FLUTUANTE Uma das maneiras de
resolvermos os problemas de Macau seria o de termos construído um aeroporto
flutuante que, depois de 20 de Dezembro de 1999, se deslocaria para Portugal,
levando em cima todos os macaenses que restassem. Seria uma jangada de pedra a
navegar ao contrário...
AMARAL, JOSÉ LOBO DO Chefe de gabinete do
Secretário Adjunto para a Administração, Educação e Juventude. Um angolano
que, desfeito o Império, se transformou em andarilho do Oriente. Ei-lo que vai
contando da Índia, do Ceilão, de Malaca, de Java, da Tailândia, das quantas
terras onde outrora semeámos prestígio. Fala sobretudo de Damão, dessa Óbidos
do Malabar. Dos Pereiras e Silvas que abundam na lista telefónica do Sri Lanka,
nossa Taprobana, donde fomos além.
ANEDOTA A principal diferença entre
portugueses e chineses está na circunstância dos primeiros comerem passarinhos
e levarem os cães a passear, enquanto os segundos passeiam os bichos com penas
e gostam de comer os que têm pelos.
ASSUMPÇÃO, CARLOS DA. Líder dos macaenses,
morto nos primeiros anos da década de noventa.
BAIRRO CHINÊS Percorrer as traseiras do bairro
chinês. Muita habitação em altura, alguma pobreza, mas com muita dignidade e
saem porcaria. E não se vê um único pedinte. O chinês que leva o passarinho
a passear pelo jardim e que assobiando o vai ensinando a chilrear. Aliás,
conta-se a anedota que separa o chinês do português: o português leva o cão
a passear e come passarinhos; o chinês leva o passarinho a passear e come cão.
Nas traseiras dos grandes prédios convive-se, jogando às cartas, ao dominó e
outras artes de tabuleiro e pedras.
BÁRBAROS Algumas descrições clássicas
chineses referiam os portugueses como uns bárbaros que comiam pedras e bebiam
sangue. Isto é, que comiam pão e bebiam vinho. É que os chineses preferiam as
massas e o chá. Mas hoje as padarias e as pastelarias já entraram na moda e o
vinho, especialmente o tinto, começa a ser apreciado.
BARREIROS, JOSÉ ANTÓNIO. Advogado lisboeta
que foi secretário adjunto para a justiça. Entrou em conflito com o governador
Melancia. Na despedida declarou: saio de Macau de cabeça erguida. Resposta de
Melancia: a única autoridade no território é o governador; os secretários
adjuntos são ajudantes. Ao que parece não trouxe de Macau boas relações com
um então seu dependente, o actual ministro Alberto Costa.
BOXER, CHARLES RALPH. São fundamentais deste
historiador do nosso Império, as obras Fidalgos
no Extremo Oriente, de 1968, e The
Great Ship from Amacon, de 1988.
CAMPINO DO HOTEL LISBOA No hotel Lisboa, há
sempre um porteiro português de campino vestido, com um ar de reformado, que
abre a porta aos carros que vão chegando e chama os táxis assobiando num
apito. Um gorducho portuga à espera da gorjeta oriental. Não tem pernas para
dançar o fandango, mas servindo o china vai invertendo a relação que nos
trouxe aqui.
CARVALHO, NOBRE DE. Basta recordar a figura do
governador Nobre de Carvalho, que tanto sofreu os efeitos da Revolução
Cultural como da Revolução do 25 de Abril, mas à qual soube resistir.
CEILÃO O Oliveira Dias conta de uma viagem que
fez à muralha da china em dia de calor. Quando depois de subir e depois de
descer se dessedentavam numas barraquinhas lá existentes e conversando com um
casal oriental que descobriu ser de Ceilão e tratou de tentar dizer-lhes das
antigas relações que os portugueses tiveram com a terra deles, obteve a
seguinte resposta: my name is Pereira, Sir...
COBRAS
COMEMORAR O 25 DE ABRIL Numa recente sessão
sobre o 25 de Abril, onde o advogado Henrique Fernandes, testemunhava
publicamente o orgulho em ter sido membro da União Nacional, ao mesmo tempo que
o arquitecto Marreiros se manifestava da mesma forma pelo facto de ter sido da
Mocidade Portuguesa. Enquanto isto, um funcionário português recém-chegado,
pediu a plavra e , de forma muito abrilista, estranhou o revivalismo.
O arquitecto Marreiros respondeu, saudando a intervenção e dizendo que
este era o entendimento que em Macau se fazia da tolerância.
COMIDA PORTUGUESA Também comi aquilo que oa
chineses impropriamente chamam de português. Caldo verde, bacalhau cozido e uma
galinha dita portuguesa que afinal veio de Malaca. Comi da comida toda que aqui
me deram. Salada de manga e melancia pela manhã; sopa de ostras e caranguejo à
hora da ceia e, depois da meia noite, até cheguei a experimentar chá de
ginseng. Aliás, nem sei se teho comido restos de cão, cobras ou rãs. Tenho
comido qualquer coisa de carne no meio da sopa. Tenho comido de tudo o que me dão,
fiel à máxima do que não mata engorda. Aliás, o meu sistema de canalização
intestinal não se tem dado mal com o uso
COMPRAS Voltas de Macau, em torno do Leal
Senado. Circular por Macau em horas caniculares e humidiculares, subindo e
descendo calçadas, cansa, desidrata, faz esquecer a fome e leva-nos a perder o
próprio apetite que era preciso. Mas quando sentados, num ar condicionado, os
pratos aparecem, eles acabam por apetecer. Voltas de compras no vaivém da
procura do preço que mais convém. E até aqui aparece o zé povinho com se
queres fiado, toma. Há inúmeras casas de penhores, principalmente à volta dos
casinos, dado que, entre as formas de vida típicas da terra é a de viver-se
totalmente empenhado. Poucos são os pedintes, e os que persistem, passamos a
conhecê-lo de ginjeira, ao fim de alguns dias.
COSTA, ALMEIDA. O governador macaense do
eanismo que procurou estabelecer em Macau e sonhou estender a Lisboa uma
terceira força, capaz de ultrapassar a dialéctica bipolarizadora do PS e do
PSD. Teve em Macau uma forte oposição da imprensa portuguesa afecta aos
socialistas.
CUNHA, LUÍS SÁ CUNHA. O responsável pela
Revista Macau. Uma das figuras típicas da transição
DESCER DA NOITE A noite vai descendo sobre
Macau. Reparo sobretudo nos barcos que partem para Hong Kong. Estou farto de
estar aqui. Da vida de hotel, de subir as rampa em dias tropicais, de passar as
pontes não sei quantas vezes por dia. Apetece partir. Apetece regressar. O espaço
é imenso e o tempo uma infinidade.
DINHEIRO Em Macau, entre a população chinesa,
não há crise de valores. Há a chegada de um novo valor predominante: o
dinheiro.
DRAGÃOZINHO Macau pode tronar-se num dragãozinho
quando os dragõezinhos passarem a dragões e contra outros dragões começarem
a expelir o fogo da competitividade. Contra isso Macau assume a vantagem de ter
mais tempo à frente e de ser pequenino
EANES, RAMALHO
EMAUDIO. Um dos escândalos macaenses da era
Melancia. Um grupo, ligado a Rui Mateus e Robert Maxwell, que promete a instalação
em Macau de um canal de rádio e de um canal de televisão.
ESQUERDA DESCOLONIZADORA Certa esquerda
descolonizadora que respondeu ao rapidamente e em força do salazarismo no nem
mais um soldado para as colónias, dos primeiros dias de Abril. Uma certa
esquerda que, no tocante aos trópicos, chafurdava sobretudo no desconhecimento,
transformando a crença num dogma, não admitindo que a realidade os pudesse
fecundar.
FRANCESES. No ano de 1885, no parlamento
lisboeta, alguns deputados tiveram a vergonhosa ideia de trocar a Guiné-Bissau
e Macau por certas regiões do Congo francês, para se aumentar o território de
Angola. Os britânicos, estabelecidos em Hong Kong temeram o aparecimento de uma
colónia dos rivais franceses na outra margem do Rio das Pérolas e logo
passaram a mudar de atitude perante a nossa presença em Macau.
FRANCISCO RODRIGUES, autor de
Jesuítas Portugueses Astrónomos
na China. 1583-1895, Porto, 1925, obra reeditada pelo Instituto Cultural de
Macau, em 1990, com prefácio de Benjamim Videira Pires
FREI LOURENÇO Foi por volta de 1246 que um
português, o leigo franciscano Frei Lourenço, terá penetrado nas terras da
China, tendo assistido, juntamente com Frei Giovanni da Pian di Carpini, à
coroação de Kuyuk como khan
mongólico.
FUTEBOL O que de mais vivo aqui chega em termos
noticiosos é o Portugal futebolístico. De duas vezes que aqui pousei foi-me
dado assistir a duas madrugadas de Benfica-Sporting. Os portugas reinóis de
Macau unem-se mais pelas transmissões directas de futebol e pelos concursos
televisivos, transmitidos em directo por satélite, do que pela emoção de ler
Camões. De facto, a portuguese way of
life começa a pouco ter a ver com a
maneira portuguesa de estar no mundo.
HESPANHA, ANTÓNIO. O actual comissário do
governo socialista para a Comemoração dos Descobrimentos foi professor na
Faculdade de Direito de Macau de história das instituições. É autor de uma
obra fundamental sobre o território: Panorama
da História Institucional e Jurídica de Macau, editada pela Fundação
Macau em 1995.
HO YN. O líder dos chineses de Macau, durante
o salazarismo e nos primeiros anos do abrilismo. Morre nos primeiros anos da década
de oitenta. Por ele passou o destino do território e o diálogo entre o maoísmo
e o Estado Novo.
HONG KONG Antes de Macau, há uma hora de
voltas e voltinhas nas bichas e túneis da ainda colónia britânica de Hong
Kong, esse ritmo de espera, aeroporto, passaporte, alfândega, carro, jetfoil,
alfândega, malas, passaporte, carro, malas. Uma hora de voltas e voltinhas nas
bichas e túneis de Hong Kong, com outras tantas esperas. Aeroporto, passaporte,
alfândega, carro, jetfoil, alfândega, malas, passaporte, barco, viagem,
passaporte, malas, alfândega, carro. Muito pó, muita humidade,
HOTEL LISBOA Nos corredores das caves deste
hotel circulam os maníacos do jogo e das apostas, as prostitutas à procura de
clientes, os compradores de bilhetes para o jetfoil e os casais ocidentais
tentando comprar anéis, colares de pérolas e filigranas de prata. Podemos
beber um desses sumos naturais de melão, manga e de outras esquisitas frutas e
vegetais com cores muito vivas. E aquele magnífico aquário, com dezenas de
peixes tropicais, coloridos ou translúcidos.
ILEGAIS. Durante a era Melancia quando se
tratou de proceder à legalização dos chineses residentes em Macau, eis que,
em vez dos 4000 previstos, surgiram num só dia 50 000 ditos ilegais. Face à
confusão que promovem uma manifestação, com alguns confrontos. No dia
seguinte, são os próprios polícias que se manifestam exigindo aumento de
vencimentos. Nesta manifestação são agredidos alguns jornalistas, bem como o
deputado Eduardo Ho.
IMAGEM DE MACAU NA IMPRENSA DE LISBOA Jorge
Mendes manifesta-se agastado com a imagem que Macau tem na imprensa portuguesa
que só refere os aspectos negativos, da prostituição ao jogo, com passagem
pelos incidentes de segurança, inevitáveis, como se a mesma segurança não
tivesse que aqui ser quase sacrossanta, principalmente para os donos do jogo
que, além da segurança da autoridade pública, recorrem tanto a empresas
privadas de segurança como às suas próprias seitas.
INDONÉSIA Em Macau, fala-se muito de Timor e
da Indonésia e abundam perspectivas diversas sobre a questão. Com efeito,,
aqui fala-se mais do Indonésia do que de Timor e até se fala da Indonésia sem
se falar de Timor. Aqui, por exemplo, há quem fale na Ilha das Flores, onde foi
marcante a nossa influência, e onde ainda hoje, um velho canhão português é
símbolo de fertilidade, um metálico falo onde as moças recém-casadas se
enroscam, para que possam ter filhos.
Instrução Portuguesa para o Bispo de Pequim e
outros Documentos para a História de Macau, Macau, Imprensa Nacional/ Casa da
Moeda, 1988, com prefácio do Padre Manuel Teixeira, reedição fac-similada de
obra com o mesmo título, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1943.
JAPONESES Chegam a Macau quase 800 japoneses
por dia que vêm jogar golfe em Coloane e tomar banho nas piscinas dos hotéis,
actividades que praticadas em Macau ficam bem mais baratas do que no próprio
Japão. E uma das alternativas desta terra está precisamente em ser poiso dos
agentes da nova esfera de co-prosperidade asiática.
JOGO Macau é STDM, Stanley Ho, Sociedade do
Turismo e Diversões de Macau, jogo, casino, contrapartidas, esse modelo de
desenvolvimento lançado pelo governador Jaime Silvério Marques, nos últimos
anos da década de cinquenta que talvez tenha permitido que Macau como entidade
política autónoma tivesse passado os maremotos da Revolução Cultural da
Revolução de Abril e atingido os finais do século como entidade política
semi-autónoma. E tem sido nesse quadro de hedonismo capitalista que a Macau
antiga, as dos místicos padres conversores da China e da miscigenação
macaense, permaneceu como minoria, salvaguardando a alma antiga que, sem ter
sido decepada, se vai contudo desvanecendo, como a imagem do Padre Manuel
Teixeira, uma das última relíquias dos portugueses de quinhentos passeando-se
entre arranha-céus, uma espécie desses pedaços vivos de um biombo oriental
relatando a nossa chegada a estas paragens.
JORGE MENDES Conversa com o António Augusto
Jorge Mendes que é neste momento a única entidade que está directamente
dependente do governo de Lisboa. Actua em conformidade com os habituais tiques
do diplomata, com a fatiota impecável, o pescoço erecto e sobretudo aquela
necessidade que tem de pesar as palavras de quem espreita o observado. Aquele ar
de jogar à defesa que imediatamente nos coloca também numa posição de defesa
e que faz do jogo da conversa um eterno empate. Almoçamos no terraço do Hotel
Bela Vista, num estilo colonial de influência inglesa, onde apenas há oito
quartos. Fazemos uma viagem pelos meandros da diplomacia sem que me seja dado
descobrir algum segredo de Estado. Depois de uma breve lição sobre como os
chineses negoceiam,
LESSA, ALMERINDO. Para além d’ A
História e os Homens da Primeira República Democrática do Oriente. Biologia e
Sociologia de uma Ilha Cívica, de 1970, há que referir a obra póstuma
VIAGEM AÉREA. Desde que foram inauguradas as
viagens aéreas entre Lisboa e Macau, primeiro com paragem em Bruxelas e depois
em Bangcoque, deixou se ser necessário utilizar Hong Kong, via Londres, Paris
ou Zurique. Já não temos que ir de Lisboa a Roma, e daqui para Abadão, na
ex-Pérsia, pousando, depois, em Carachi, no Paquistão, e em Banguecoque, na
Tailândia, antes de se rumar para Hong Kong.
LUSOTROPICALISTAS Há por aqui alguns que lei
da descolonização africana se libertaram e trataram de voltar a viver o
lusotropicalismo na foz do Rio das Pérolas. Esses que acreditaram na dimensão
lusotropical de Portugal podia ser e que não só deram o coração a essa
causa, com o também a razão, procurando, pela racionalidade, as efectivas
realidades de um mundo que o português criou.
MACAU, ANOS SESSENTA. Como é diferente este
Macau do outro Macau dos anos sessenta. Agora voltou a ser península, antes era
ilha, quando nem sequer se podia ir até à China, com apenas dois barcos que
ligavam a terra a Hong Kong, com viagens que demoravam cerca de três horas.
Nesse tempo ainda se vivia a pacatez de um tempo colonial de que os filhos da
terra, apesar de tudo, cultivam com saudade.
MELANCIA, CARLOS. O governador-chave da transição.
Chega a Macau em 9 de Agosto de 1987 e traz consigo os projectos e o
desenvolvimentismo que geraram a grande política de obras públicas,
concretizadas na nova ponte para a Taipa e no aeroporto. É o primeiro dirigente
político de um país ocidental a visitar Pequim depois de Tien An Men.
MEMBRO DO GOVERNO Estou no gabinete de Sua
Excelência o Senhor Secretário Adjunto da Administração, Educação e
Juventude. Aqui, membro do governo, ainda tem categoria de mandarim. Em primeiro
lugar, manda; em segundo lugar, cultiva a imagem de quem gosta de mandar. Entrei
de carro preto, com motorista vestido de branco, com botões dourados. Passei a
barreira de um porteiro e de duas secretárias de carne. Sento-me nos sofás da
sala de espera. Aceito um cafèzinho
expresso e espero. Mesmo que não tenha de esperar. Poder oblige. Vem primeiro o
adjunto do secretário adjunto. Que por acaso é meu amigo pessoal. Sento em
cadeira de pau preto. Converso. Longa conversa.
MICHAEL HARRIS BOND, Beyond the Chinese Face.
Insights from Psychology, Hon Kong, Oxford University Press, 1991
MONÇÃO Quando cai a monção, a cidade Macau
fica envolta numa bola de chuva. Ver da Taipa, onde ainda não chove, este fenómeno,
com grossas pingas caindo, com relâmpagos riscando o horizonte, é curioso.
Depois da chuva, o ar fica lavado e com a bonança vê-se mais longe e mais nítido.
Surgem depois de alados insectos castanhos que me dizem ser a célebre formiga
branca.
MONJARDINO, CARLOS
NABO, MURTEIRA. Principal colaborador do
governador Melancia. Será governador substituto durante seis meses, até à
chegada de Rocha Vieira.
NACIONALIDADE PORTUGUESA I Com efeito, para as
autoridades chinesas não há dupla nacionalidade. O passaporte chinês de um
desses 80 000 chineses qaue a ele têm direito serve apenas como cartão de
embarque previamente autorizado. Mas quando esses formais cidadãos portugueses
estão na dependência da formal soberania chinesa, não podem invocar a
nacionalidade portuguesa, recorrendo, por exemplo, aos serviços de um nosso
consulado.
NACIONALIDADE PORTUGUESA II Neste sentido, se
tivéssemos programado uma certa forma e preservação da língua portuguesa no
território, teria sido bem útil, embora um pouco violento, condicionarmos a
obtenção da nacionalidade portuguesa a quem fizesse prova do conhecimento mínimo
da língua de Camões, como já sucede para a integração dos funcionários públicos.
NEGOCIAÇÃO Importa sobretudo ter em atenção
o processo chinês de negociação. Onde o ritual colectivo e as formais declarações
escritas preponderam e aonde as próprias comunicações orais são ritualmente
ditadas. Mesmo no plano económico e empresarial, há certas regras orientais
que têm de seguir-se Aliás, os chineses da banda diplomática se ao almoço
falam português, contando histórias de família e memórias do tempos da
revolução cultural, nada adiantam em termos negociais. Muitas vezes, durante a
fase formal das negociações, tratam de bloquear o processo, voltando à fase
anterior, quandp invocam directivas de um dos intrigados departamentos da formidável
administração chinesa.
OBRA DAS MÃES PELA EDUCAÇÃO NACIONAL Em
Macau ainda hoje existe a chamada Obra das Mães pela Educação Nacional, de
matriz salazarista.
OBRAS PÚBLICAS A fase das grandes obras públicas,
desde a nova ponte para a Taipa ao aeroporto, acabou. Agora, as grandes obras são
as apostas em bens imateriais, desde os funcionários bilingues ao ensino secundário
luso-chinês.
ORIENTALISTAS Na actual cultura portuguesa não
abundam orientalistas. Falta, por exemplo, uma história global sobre a presença
de Portugal no Oriente. Uma circunstância explicada pela necessidade que, neste
século, tivemos de nos mobilizar em torno da nossa presença em África. Ou
talvez porque toda a nossa presença no Oriente passar por Goa e de ter
acontecido o que aconteceu no dia 18 de Dezembro de 1961.
PADRE ANDRÉ PEREIRA No ano de 1716 o padre
André Pereira, morto em 1743, fez uma viagem directa para estas paragens,
demorando 24 semanas, um dia e 12 horas. A viagem por Goa demorava onze mesesa.
Este padre foi um dos correspondentes de António Ribeiro Sanches, quando este
se encontrava em Sam Petersburgo.
PADRE BENTO DE GÓIS Nos finais do século XVI
o jesuíta português, Bento de Góis, demonstrou que o Império da China
correspondia ao Grã Catai, referenciado por Marco Polo.
PADRE BERNARDO DE ALMEIDA Foi em 1805 que
morreu o Padre Bernardo de Almeida, concluindo-se assim o período de permanência
dos jesuítas na China, iniciado em 1583. O sacerdote em causa era então
primeiro presidente do Tribunal de Astronomia de Pequim, com a qualidade de
mandarim.
PADRE FRANCISCO CARDOSO Em 1710 o Padre
Francisco Cardoso foi encarregado de traçar o mapa das várias províncias
chinesas, trabalho que foi publicado em 1718.
PADRE TOMÁS PEREIRA Foi graças à acção do
Padre Tomás Pereira (morto em 1708) que o imperador chinês emitiu em 1692 um
decreto concedendo liberdade para a religião cristã em todo o império chinês.
PEQUIM Pequim sempre esteve a seiscentas léguas
de Macau, distância que, ainda hoje, por estrada, implica onze dias de viagem,
com paragens para dormir, evidentemente.
PINTO MACHADO. O governador nomeado por Mário
Soares em 1986, na altura de coabitação com o cavaquismo. Mal chegou a Macau,
tratou de fazer um discurso humanista, declarando que tinha como programa a
defesa dos marginalizados e dos desfavorecidos.
PIZZA Os fast food tipo pizzarias são iguais a
todos os fast food do mundo. A diferença está nas saladas e numa ou outra piza
de peixe com molhos japoneses. Nas velhotas com criancinhas às costas, nas mães
de mãos soltas que vão dando ordens aos pais rechonchudos que vão cervejando.
Em todos os cantos há crianças que vão chorando e gente que deu longos
passeios ao domingo, mesmo que fosse uma simples ida ao cinema.
POLÍCIA Na polícia há membros de 22 nações,
onde apenas a cadeia de comando é portuguesa. Macau, onde os portugueses
administram porque os chineses apreciam a autoridade. Aliás, foi graças à
China que pararam todas as tendências de alguns portugueses e de alguns
chineses macaenses que nos primeiros tempos de 1974 pretendiam a imediata devolução
do território à China.
PONTE NOBRE DE CARVALHO Primeiro, há a ponte número
um, a chamada ponte Nobre de Carvalho, a obra de regime, do antigo regime,
inaugurada já em Outubro de 1974, pelo último governador do Estado Novo que o
abrilismo manteve. Uma ponte que esteve para ser uma espécie de obras de Santa
Engrácia, feita durante muito tempo, pilar a pilar, placa a placa, num tempo em
que as compensações pela concessão do jogo ainda não eram árvore de patacas
e que pela demora foi custando dez vezes mais do que aquilo que estava
inicialmente orçamentado. Aliás, conta a anedota que o engenheiro construtor,
no fim da obra, voltando-se para o governador, terá dito que se dissessem o
custo real, nunca os poderes oficiais de então se teriam lançado na aventura.
A ponte é o sítio que dá mais espaço a Macau, que leva a península à outra
banda das ilhas, de Taipa e Coloane.
POPULAÇÃO Dois terços da população de
Macau vive no território há menos de vinte anos. A maior parte dos habitantes
de Macau é flutuante e até existem flutuações bruscas - há aterros onde se
prevê o estacionamento, a curto prazo de mais de 200 000 pessoas e as
autoridades chinesas prevêem que a população do território poderá chegar a
um milhão de pessoas.
PORTO INTERIOR Visitar o porto interior.
Percorrer as suas várias pontes, todas datadas de 1948. Olhar o casino
flutuante, os barcos e as barcaças. Recordar Macau da primeira metade do século.
A Macau marítima, o local que deu razão de ser a este estabelecimento.
PORTUGAL DOS PEQUENINOS As notícias do
Portugal político chegadas a este lado do mundo, mostram bem como nos transformámos
num Portugal dos pequeninos imerso em guerrazinhas de homenzinhos. Em Maio de
1994, quando se estava em pleno cavaquismo, a Rádio Macau noticiava movimentos
especulativos sobre o escudo, com base em boatos que referiam a hipótese de um
grande escândalo político-financeiro, prevendo-se até a hipótese de um
eventual golpe de Estado em Lisboa, numa altura em que Ramiro Ladeiro Monteiro
pedia a exoneração de director do SIS e a oposição pedia a cabeça do próprio
Ministro da Administração Interna, Dias Loureiro que respondia, dizendo que se
ele caísse por tal motivo, teria que arrastar no processo todo o governo.
Diga-se que afinal o eventual golpe de Estado em Lisboa derivou de um telegrama
da Reuters baseado numa informação prestada por agentes da bolsa. Uma
brincadeira que terá custado ao país cerca de dez milhões de dólares.
PORTUGUÊS ARCAICO Os vendedores ambulantes são
vendilhões; as tascas chamam-se lojas de fitas, é um português portuguesinho
com sabor arcaico, em perfeito contraste com a linguagem jornalística dos semanários
que tentam imitar o Expresso, o Independente e a Visão.
PRAÇA DO LEAL SENADO A Praça do Leal Senado
é um misto de Rossio e Terreiro do Paço. No edifício da edilidade, encimado
pela divisa de não há outra mais leal, está agora afogueado por um lote de
gigantescos blocos de apartamentos. Segue-se o prédio dos Correios e Telégrafos
que ostenta a data inauguracional de 1931, mas invocando, num cartaz, a comemoração
dos 112 anos da instituição. Vem depois a brancura da Santa Casa da Misericórdia
e a casa da Pharmácia Popular. Em frente, as arcadas amarelas, um dos ex libris
da cidade. Os carros passam em fila contínua, com inúmeras motoretas de
permeio. Chegam os jornais às bancas, mas só nalgumas delas podemos encontrar
a imprensa portuguesa da cidade.
PROSTITUIÇÃO I A clássica prostituição dos
cabarets passou a ter uma forte concorrência, a das vias públicas, muito
principalmente nos corredores do Hotel Lisboa, a efectiva baixa da cidade. As
raparigas chinesas que por lá se passam, vêm a Macau por períodos curtos, de
seis a oito dias.
PROSTITUIÇÃO II Macau da perdição da noite,
com prostitutas russas a mil patacas. Segundo me dizem os principais
frequentadores destes antros da perdição já não são as gentes de Hong Kong
e do Japão, mas os novos ricos chineses que chegam a gastar às 80 000 patacas
por noite nalguns night clubs. Na China do socialismo de características
chinesas, só o capitalismo é revolucionário...
RANGEL I Certo dia, encontro no gabinete do
Rangel três antigos comandantes de falange da Mocidade Portuguesa: o angolano
branco Lobo do Amaral; o beirão Jorge Bruxo e o Professor do Instituto Superior
Técnico Farragento Gonçalves. Descobri que também dos militantes da
portugalidade há uma sucessiva onda de solidariedades formativas e de pertença
a grupos que mantêm fidelidade a certos valores que nos vão marcando e
demarcando. Fala sobre a reforma da educação, na possibilidade de privatização
do ensino público português, a fim de o poder manter depois de 1999 e refere a
actual explosão do ensino privado, 40% do qual está nas mãos de associações
chiesas e 50% com a Igreja Católica.
RANGEL II Conta que durante a discussão da Lei
Básica de Macau, no Palácio do Povo de Pequim, ele próprio pediu que fosse
utilizado o português como língua de trabalho porque poderia ser uma das línguas
de uma futura minoria nacional chinesa. A parte chinesa, depois de umas
habituais pausas negociais, acabaram por aceder, sublinhando o facto de a
primeira vez que uma língua estrangeira entrava oficialmente no Palácio do
Povo. Refere que não se nota em Macau um ambiente de desmobilização
generalizada. Conta que nos últimos anos têm surgido alguns macaenses a contraírem
o matrimónio com chinesas - antigamente seriam votados ao ostracismo e lamenta
que parte dos macaenses, em intervenções públicas, nomeadamente na televisão,
não assinalarem a circunstância de serem filhos de portugueses e de mulheres
chinesas. Explica que a TDM, canal chinês, não é controlada pela parte
portuguesa, reflectindo sobretudo as posições oficiais chinesas, com uma ou
outra abertura aos chamados grupos liberais, enquanto o canal português
constitui, muitas vezes, uma activa oposição à própria administração.
Conta-me sobre o processo dos arquivos administrativos do território que estão
a ser microfilmados, enquanto os mais sensíveis acabam por ser discretamente
enviados para Portugal.
RIBEIRO, ANTÓNIO. Jornalista dirigente da TDM
que foi preso na era Melancia. Acusado de peculato e de favorecimento da
Emaudio, esteve na cadeia durante dois meses.
RIBEIRO, DELFINO O último deputado de Macau no
hemiciclo da Velha Senhora, isto é, do regime português da Constituição de
1933. O típico macaense ou filho da terra que ainda proclama as virtude da
portugalidade lusotropical.
SALAZAR, AVENIDA A actual Avenida que começando
por ser da Amizade passa a certa altura a chamar-se de Mário Soares, já teve
toda um só nome: Salazar. Fazem-se apostas para o nome que passará a ter
depois de 1999. Talvez Deng Xiao Ping, que não de Tian An Men. Mas tudo pode,
aliás, acontecer. Sugiro que continue da amizade. E Soares também não
incomoda. Está aliás melhor colocado do que Ramalho Eanes que tem apenas nome
de largo na ilha de Coloane.
SALDANHA, ANTÓNIO VASCONCELOS Professor
Associado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, autor de uns
recentes Estudos sobre as Relações
Luso-Chinesas, Lisboa, 1996, onde, na senda do labor de um Visconde de
Santarém, analisa de forma minuciosa e segura o processo das relações de
Portugal e da China, a propósito de Macau, principalmente com o levantamento de
fontes inéditas do século XIX e XX.
SEGURANÇA Até há pouco tempo, Macau era uma
das cidades mais seguras da Ásia, na linha de Tóquio. As duas anterires tríades,
a Gasosa e a 14 Quilates, que até há pouco tempo tinham uma influência
estabilizada, foram desafiadas pela chegada de novas fidelidades importadas da
China e de Hong Kong. Para além das questões do jogo e do comércio sexual,
basta recordar que há prédios de apartamentos onde vivem cerca de cinco mil
pessoas.
SINDICALISTAS Há uns anos, visitou Macau uma
das nossas centrais sindicais que pediu para ter uma reunião com a Associação
dos Operários de Macau que, apesar do nome, agrupa, sobretudo, patrões. Soou a
ridículo. Mais grave foi um episódio ocorrido durante um Congresso das
Comunidades Portuguesas no começo da década de oitenta, quando um comendador
macaense, natural de Trás-os-Montes, mas há muito radicado em Macau, onde vive
desde os 7 anos, elogiava o labor da gente da terra que até trabalha aos sábados
e domingos. Foi o bom o bonito,
dado que viu-se alvo de uma salva de apupos que o alcunharam de fascista,
fascista. Ter-se-á seguido uma cena de bofetadas, onde se envolveu o próprio
representante presidencial, Vítor Alves. Com efeito, defender em Macau ou na
China os refinados mecanismos do nosso Estado Providência soa a ridículo.
SINÓLOGOS O maior erro cultural da nossa
presença em Macau nestas últimas décadas está na circunstância de não
termos gerados sinólogos. Nem sequer existe um suficiente conhecimento de
portugueses que saibam falar e escrever chinês. Continuamos a não conhecer o
que os chineses pensaram e pensam de nós; falta a publicação de materiais
literários chineses, clássicos e contemporâneos, que refiram Portugal.
SODOMA DO ORIENTE Alguns dos funcionários
portugueses mais recentes perdem a cabeça em Macau, entre o jogo, a droga e a
prostituição mais finória. Nem o muito que ganham chega para pagarem as dívidas.
Por isso ficam empenhados , tendo que requisitar dinheiro a Lisboa. Segundo um
deles, durante dois meses, os portugueses que aqui chegam solitários, perdem a
cabeça; depois, quando acaba por dominar o bom senso, mandam vir as mulheres e
os filhos, e lá acabam por poupar alguma coisa.
SUN IAT SEN. Nascido em 1886, a 30 quilómetros
de Macau, o líder da revolução republicana da China e o fundador do
Kuomintang, viveu em Macau entre 1892 e 1894, onde exerceu medicina. Amigo do
macaense Francisco Hermenegildo Fernandes, editor do jornal Echo Macaense, que
conheceu em Hong Kong, quando aí estudava medicina, utilizou várias vezes a
sua tipografia para imprimir propaganda revolucionária. Afastado do território
português, sob o pretexto do não reconhecimento das habilitações, voltará a
passar por lá em 1896 e 1912. Nesta data já foi alvo de homenagens, tanto do
governador como dos republicanos locais, entre os quais se destacava Camilo
Pessanha.
TELEFONAR Em Macau vive-se há muito na
civilização do telemóvel e do bip, e as comunicações internas por via da
rede fixa já são de graça. Isto é, nesta ribeira do Pacífico, sente-se palpável
o sinal da futura aldeia global.
TELEVISÃO I As televisões orientais são
quase todas uma chachada. A televisão oficial da China, nos telejornais, passa
minutos infindos a mostrar entrevistas de presidentes e ministros a dignitários
do Terceiro Mundo, naqueles sofás com rendinhas, onde todos vão fazendo
salamaleques. A de Hong Kong põe chinocas com ar de yuppies disfarçando os
traseiros do Oriente. A de Macau sempre com as ruínas de São Paulo, as ruas
velhas e o exótico de cinco séculos de edifícios comerciais. No canal chinês
de Macau, há sempre os mesmos dois locutores em intermináveis directos sobre
corridas de galgos, transmissões que vão alimentando não saei quantas casas
de apostas e outras tantas de penhores.
TELEVISÃO II O canal português da TDM
aborrece pelos programas requentados que em Lisboa já vimos no mês passado.
Pela recordação que nos traz diariamente das politiqueiradas lisbonenses,
pelos concursos tipo António Sala que aqui nos chegam em directo, etc.
TERRA DO PECADO Macau continua a ser olhada da
China como uma espécie de terra do pecado, do jogo à prostituição e com um
bocadinho de droga, onde, ao contrário do rigoroso planeamento vigente mesmo em
Zhuai, há um pouco de caos desenvolvimentista.
TIAN AN MEN. Surgem em Macau grandiosas
manifestações de apoio aos revoltosos. Numa delas chegam a reunir-se cerca de
100 000 pessoas junto às ruínas de São Paulo.
TRANSIÇÃO EM HONG KONG Jorge Mendes critica a
administração arrogante do actual governador de Hong Kong, na sua política de
constante confrontação com Pequim. Assinala o facto daqueles que, há meses,
assinalavam louvaminheiramente a mão dura dos ingleses, terem agora mudado de
opinião, passando a defender a flexibilidade sempre praticada pelas autoridades
portuguesas.
TRANSIÇÃO Preocupa-o fundamentalmente o período
que decorrerá ente 1997 e 1999, quando Macau se defrontar com uma Hong Kong sob
administração chinesa. Uma incógnita que pode causar sérios embaraços à
administração portuguesa, afectando substancialmente os fundos que a
sustentam: os casinos e a política de terras.
UNIVERSIDADE A primeira universidade ocidental
do Oriente foi sem dúvida o colégio universitário dos jesuítas de Macau. A
actual Universidade de Macau, propriedade do governo local, assentou numa
anterior Universidade da Ásia Oriental, fundada por ingleses de Hong Kong. É
evidente que a universidade, de matriz anglo-saxónica, onde os lobbies de tal
acto fundacional continuam a manipular face a um conjunto de portugueses que,
pensando apenas nos respectivos projectos pessoais, não se assumem como um
conjunto. Esse grupo que inconscientemente se tem aliado a estrangeiros, a fim
de poderem dar prebendas aos respectivos amigos de Lisboa e de Paris. Quanto
interessava uma universidade mobilizada pelos interesses de Macau
VIEIRA, ROCHA Finalmente, é elogiada a acção
do governador Rocha Vieira, que tirou Macau duma situação de insolvência e
tratou de praticar uma política de Estado sem cedência à corrupção,
principalmente à maneira de certa parcela da Administração Pública,
nomeadamente na área das obras públicas. Aliás, sobre a corrupção, os
chineses sabem sempre tudo, até porque são eles que pagam...
VITORINO, ANTÓNIO O actual número dois do
governo Guterres, começou o seu cursus honorum de governante como Secretário
Adjunto de Macau. Outros membros do actual governo viveram também em Macau
algumas experiências burocráticas nos tempos dos governadores soaristas, como
Jorge Coelho, Alberto Costa e Maria de Belém Roseira, quando essas paragensa
eram das poucas reservas dos jobs for the boys do partido da rosa e da mãozinha.
Ficou célebre a cena de António Vitorino a perseguir um seu colega de partido
no interior do próprio aeroporto de Hong Kong para lhe reter um cheque, coisa
que foi relatada na imprensa de então e até teve direito a cartoons em
Hong-Kong