Os tratados desiguais

Só depois do chicote soberanista de Ferreira do Amaral é que Portugal entra na senda dos chamados tratados desiguais  estabelecidos entre as potências ocidentais e o Celeste Império.

O primeiro, negociado por Isidoro Francisco de Guimarães, que será o primeiro visconde da Praia Grande de Macau, é o Tratado de Amizade e Comércio com a China, o chamado Tratado de Tientsin de 13 de Agosto de 1862, que reconhecia Macau como território português, mas que nunca chegou a ser ratificado pela China.

Só em 1 de Dezembro de 1887, com o Tratado de Pequim, é que Macau passa a ser equiparado às restantes possessões portuguesas, atingindo-se a plenitude de uma soberania que, apesar de tudo, continuava condicionada, dado que Portugal não podia ceder Macau a outra nação sem o consentimento do Império de Pequim. Diga-se, aliás, que este tratado resultou da pressão dos britânicos que, no anterior anterior, haviam passado a dirigir as alfândegas chinesas, não podendo admitir uma porta aberta no sistema através de Macau.

Ficava assim destruída toda uma formidável rede de acordos entre Pequim e Cantão, entre o Imperador, os mandarins e os subprefeitos que nos começam por dar foro de chão, um domínio útil que íamos pagando de várias formas: tributos, peitas, subornos, invocadas ligações ao céu, matemática ou missionação, mas fazendo sempre Kau tau  com muita imaginação.

Mas nem por isso deixámos o estilo da nossa política de bambu que sempre nos mandou fazer as nossas prostrações e talvez por isso é que adquirimos o simbólico direito de partir dois anos depois de na vizinha Hong-Kong ser arreada a bandeira de Sua Majestade britânica.

Eis o mistério de Macau, a perdição de Macau. Malhas que o Império foi tecendo sem balas nem minas de guerra. Malhas, aliás, de vários impérios que em Portugal houve junto do mais permanecente de todos os impérios da terra.