21 - A sociologia de luta.
A ciência política norte-americana insere-se, assim, no ambiente da chamada sociologia de luta do darwinismo que também tem uma inevitável vertente germânica em Gustav Ratzenhofer (1842-1904), autor de Wesen und Zweck der Politik [1893] e Rudolf Von Ihering (1818-1892), bem como no polaco Ludwig Gumplowickz (1838-1909), principalmente em Die soziologische Staatsidee [1892] [1],
Ihering, em Der Kampf ums Recht [1872] e Zweck im Recht [1877-1884, dois volumes], influenciado por Darwin, considera que, tal como na natureza não há actos sem causa, também na sociedade não pode haver actos sem fim. Adoptando este finalismo e conjugando-o com o utilitarismo social, insurge-se contra o excesso de logicismo que tendia a converter a jurisprudência numa espécie de matemática do direito.
A partir dele, desenvolver-se-á a corrente jurídica da jurisprudência dos interesses, em que se destaca Philipp Heck e a Escola de Tubinga, especialmente em Das Problem der Rechtsgewinnung [1912] e Begriffsbildung und Interessenjurisprudenz [1929], onde o direito é concebido como um processo de tutela de interesses e as normas como resultantes dos interesses de ordem material, nacional, religiosa ou ética que, em cada comunidade jurídica se contrapõem uns aos outros e lutam pelo seu reconhecimento, como meras soluções valoradoras de conflitos de interesses, em que, para a respectiva interpretação, em lugar da vontade pessoal dos legisladores, se deveria antes determinar os interesses reais que as causaram, dado que aqueles não passariam de meros transformadores.
[1] Ludwig Gumplowicz (1838‑1909) é também um dos clássicos da concepção naturalista de Estado, entendendo‑o como mero poder de facto resultante da luta entre raças diversas, em que estas são entendidas mais como grupos sociais do que como entidades étnicas. Assim, considera que o Estado surgiu da submissão violenta de hordas débeis a hordas mais fortes (Urhorden) que se encontravam na forma de Estado‑Nómada (Urschwärme), a primeira forma de Estado. O Estado ainda se manteria como uma relação entre vencedores e vencidos, entre dominadores e dominados, ainda seria uma organização de domínio e ordenamento da desigualdade.