23 - O estudo da political action.

 

Está assim definido o perfil de uma disciplina que, a partir dos anos vinte, se volta para o estudo da political action, do comportamento político dos indivíduos situados num determinado sistema social.

O autor marcante do segundo período da ciência política norte-americana é Charles E. Merriam (1876-1953), principalmente a partir de New Aspect of Politics [1925], obra que inaugura a chamada Escola de Chicago, onde se aplicarão os modelos do psicologismo e do behaviorismo aos domínios da ciência política que passa, então, a ser entendida como simples ciência social que tem como fenómeno central o poder.

As propostas de Merriam já constavam do manifesto The Present State of the Study of Politics [1921], onde propunha duas bases para renovação dos estudos politológicos: por um lado, a exploração das bases psicológicas e sociológicas do comportamento político; por outro, a introdução dos métodos quantitativos na análise política.

Merriam, doutorado na Columbia University em 1900, principiou a sua carreira como professor de história das doutrinas políticas, tendo publicado, em 1903, American Political Theories. Em 1922, destacou-se com a obra The American Party System e, no ano seguinte, cria, na APSA, um Committee on Political Research que, para além de desenvolver os esquemas do psicologismo e do behaviorismo nos domínios da ciência política, se dedica à unificação das ciências sociais, para o que recebe fortes apoios da Fundação Rockefeller. Outras das suas obras fundamentais são Political Power [1934] e Systematic Politics [1945].

Contudo, o autor que mais se salienta nos anos trinta e quarenta é um antigo aluno do primeiro, Harold D. Lasswell (1902-1978), autor da célebre obra Politics: Who Gets What, When, How [1936], um título que, por si mesmo, constituía o resumo do programa de uma geração que defendeu, como objecto da ciência política, a acção de conquista e conservação do poder, entendido como jogo de soma zero.

Lasswell destaca-se a partir da publicação de Psychopatology and Politics, New York, 1930, onde aplica as ideias de Freud à análise política. Com Politics: Who Gets What, When, How [1936], mantendo os esquemas compor­tamentalistas, introduz no universo norte-americano autores como Gaetano Mosca (1854-1941), Robert Michels (1876-1936) e Carl Schmitt (1888-1985), sem se esquecer da herança de Maquiavel. Isto é, aquilo que muitos hão-de ver como um cunho tipicamente norte-americano, volta a não passar de mais um dos cíclicos recepcionismos europeus, agora da teoria das elites, embora sujeita a uma releitura democrática, dado que a mesma servira de invocação para as ideologias do fascismo e do nazismo na Europa dos anos trinta.

Lasswell, considerando que o estudo da política é the study of influence and influential, aceita uma visão piramidal da distribuição de valores, onde, na parte de cima, estão poucos, a elite que preserva a sua ascendência, manipulando símbolos, controlando supplies e aplicando a violência.

Em nome do realismo, reagia assim contra o sentimentalismo e o moralismo dominantes na ideologia do internacionalismo liberal, principalmente como fora assumido por Thomas Woodrow Wilson.

Em 1949 publica outra obra fundamental, em colaboração com N. Leites, The Language of Politics, Studies in Quantitative Semantics (New York, Georges W. Stewart) e, em 1952, em colaboração com Abraham Kaplan, edita Power and Society. A Framework for Political Enquiry [1952]. Neste último trabalho, considerado como uma espécie de bíblia do modelo empírico-analítico da ciência política, proclamava expressamente que the basic concepts and hypotheses of political science não poderiam incluir elaborations of political doctrine, or what the state and society ought to be [1].

Com estes contributos do sociologismo e do behaviorismo, a ciência política norte-americana, depois de conquistada a autonomia académica, via consagrada a autonomia científica da disciplina, em nome de uma metodologia empírico-analítica.

É também nos anos trinta que os cientistas sociais norte-americanos estruturam o modelo das sondagens à opinião pública, começando a ganhar contornos o estudo do comportamento eleitoral. É nesta senda que se inserem os posteriores trabalhos de Paul F. Lazarsfeld, nomeadamente The People’s Choice [1944] e Voting [1954]. Idêntica perspectiva é assumida pelas análises micro-sociológicas da incidência do político, feitas pelas equipas da Universidade de Chicago.

Merece também destaque a teorização de David B. Truman que, em The Governmental Process de 1951, retoma as teses de Bentley, actualizando-as.

 

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[1] Harold Lasswell e Abraham Kaplan, Power and Society. A Framework for a Political Enquiry, Londres, Lowe and Brydone, 1952, p. XI. Há uma trad. port., Poder e Sociedade, Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1979.