6 - Espanha.
Começando por nuestros hermanos, direi que me impressiona a circunstância do actual pensamento espanhol nestes domínios ser marcado por inúmeras teorias do Estado, talvez um reflexo de alguns dos principais cultores da ciência serem provenientes do universo jurídico.
Nomes como Luis Legaz y Lacambra, com El Estado de Derecho en la Actualidade [1934], Filosofia del Derecho [1953], Humanismo, Estado y Derecho [1960], Problemas y Tendencias de Filosofia del Derecho Contemporaneo [1971] e El Pactismo en la Historia de España [1980]; Luís Sanchez Agesta, com Lecciones de Derecho Politico [1943], Principios de Teoria Politica [1955], El Concepto del Estado en el Pensamiento Español del Siglo XVI [1959], Los Principios Cristianos del Orden Politico [1962], Los Campos de Investigación de la Ciencia Politica [1969], Direcciones de la Ciencia Politica Contemporanea [1973] e Elementos de Ciencia Politica [1986], Pablo Lucas Verdú, com Estado Liberal de Derecho y Estado Social de Derecho», In Acta Salmanticensia, Salamanca, 1955. Introducción al Derecho Político. Transformaciones Sociales del Derecho Político Actual, Barcelona, Ediciones Bosch, 1958. Curso de Ciencia Política, Madrid, Editorial Tecnos, 1969. Principios de Ciencia Política, 3 vols., vol. I - Introducción. Hombre y Política. Ideologías. Mitos y Tecnocracia, 3ª ed., 1973; vol. II - Estrutura y Dinámica Políticas; vol. III - Estado Contemporáneo y Fuerzas Políticas, Madrid, Editorial Tecnos, 1969, 1971. La Luta por el Estado de Derecho, Madrid, Publicaciones del Real Colegio de España, 1975. La Lucha contra el Positivismo Jurídico en la República de Weimar, Madrid, 1987. , J. M. Bosch, [1958], Curso de Ciencia Política [1969], Principios de Ciencia Política [1969-1973], La Luta por el Estado de Derecho [1975], Jose Maria Robles, com Por un Estado de Derecho [1964], e Eliaz Días, com Estado de Derecho y Sociedad Democratica [1966], De la Maldad Estatal y la Soberanía Popular [1984] e Sociologia y Filosofia del Derecho [1984], consequentes militantes da ideia de Estado de Direito, marcaram um notável ponto de encontro entre o direito político e a ciência política, enraizado numa profunda investigação histórica sobre a matéria, com realce para os trabalhos do anterior Instituto de Estudios Políticos e do actual Centro de Estudios Constitucionales, criado em 1977.
Juan Beneyto recolhe os textos políticos espanhóis da Idade Média [1944] e procura fazer uma história das doutrinas políticas [1947 e 1964], e das origens da ciência política em Espanha [1949], para além de realizar uma análise da obra de Carl Schmitt, em Teologia Política como Teoría Política [1983]. José Antonio Maraval destaca-se, sobretudo, com Estado Moderno y Mentalidad Social [1972], bem como F. Elías de Tejada, em Historia de Filosofia del Derecho y del Estado [1946], para além de Antonio Truyol e Serra, sobretudo na monumental Historia de la Filosofia del Derecho y del Estado [1954-1982]. Mas outros autores são de salientar, como Luis Diez del Corral [1945], Francisco Javier Conde [1974], Manuel Fraga Iribarne, Tierno Galvan e Raul Morodo.
Manuel Garcia-Pelayo analisa os mitos e os símbolos políticos [1959 e 1964], consagrando-se com Las Transformaciones del Estado Contemporáneo [1985, 2ª edição] e El Estado de Partidos [1986]. Manuel Jiménez de Parga salienta-se com Los Regimes Politicos Contemporaneos [1960 e 1987] e La Ilusion Politica. Hay que Inventar la Democracia? [1993].
Juan Ferrando Badiá teoriza a democracia perante a autarcia [1980] e o autoritarismo [1987], os vários modelos de Estado [1986] e os regimes políticos actuais [1987], sendo também autor de Estudios de Ciencia Política y Teoria Constitucional [1988].
Mais recentemente, nota-se o esforço de Ramón Garcia Cotarello, tanto no domínio da teoria do Estado [1981, 1986 e 1988], como na teoria dos sistemas [1979], dos partidos políticos [1985], para além de uma visão geral da democracia [1990]. Destaque-se a Introducción a la Ciencia Politica [1987, com J.L. Paniagua Soto] e um balanço sobre a ciência política em Espanha [1991]. Javier Pérez Royo é também outro dos teóricos do Estado [1980, 1987 e 1988], tal como J. Picó [1987]. Remedio Sánchez-Ferriz, com Introducción al Estado Constitucional [1993]; A Torres del Moral, em Estado de Derecho y Democracia de Partidos [1991]; José Rubio Carracedo, em Paradigmas de la Política. Del Estado Justo al Estado Legítimo [1990]; Ferrán Requejo Coll, Las Democracias. Democracia Antigua, Democracia Liberal y Estado de Bienestar [1990] e Teoria Crítica y Estado Social [1991]; Blas Guerrero, Nacionalismos e Ideologias Políticas Contemporáneas [1985]; C. de Cabo, Crisis del Estado Social [1986] e Teoría del Estado y Derecho Constitucional [1988].
Nestas encruzilhadas, destaca-se, sem dúvida, o Departamento de Ciencia Política y de la Administración da Universidade Complutense de Madrid, criado em 1944, onde actualmente laboram Manuel Pastor [1975, 1977 e 1981], Paniagua e Santa Maria, e donde emergiu o primeiro manual colectivo espanhol de ciência política [1ª edição de 1988].
Também em Madrid, importa referir o recente Departamento homónimo da Universidade Autónoma, dirigido por Fernando Vallespín [1], bem como a Facultad de Ciencias Políticas y Sociologia da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), com Blas Guerrero [2], e a Facultad de Ciencias Políticas y Sociologia Leon XIII da Universidade Pontificia de Salamanca, estabelecida na capital de Espanha desde 1950.
Em Barcelona, refira-se o Departament de Ciencia Politica i de Dret da Universitat Autonoma de Barcelona, bem como o Departamento de ciência política da Universitat Pompeu Fabra, dirigido por Ferran Requejo [3]. Aliás, em 1988 a Universidade Autónoma, num acordo com o governo catalão, criou o Institut de Ciences Politiques i Socials.
Na Facultad de Ciencias Politicas y Sociologia da Universidade de Granada, há um departamento de ciência política, herdeiro do anterior departamento de direito político. Na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Salamanca funciona uma área de ciência política. Na Faculdade de Direito da Universidade de Málaga existe também um departamento de Ciência Política, tal como na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade do País Basco, em Bilbau.
Mas, para além do mundo universitário, funcionam entidades com grande fulgor, como a Fundación Balmes, dirigida por Fernandez de la Mora [4], a Fundación Sistema, ligada ao PSOE, e a Fundación Canovas del Castillo. Refira-se também a Real Academia de Ciencias Morales y Politicas.
Todo este esforço talvez seja explicável, em primeiro lugar, pela estreita relação que a cultura jurídico-política espanhola sempre manteve com a especulação germânica, reavivando um krausismo que, com Ortega y Gasset, aprofundou as relações com a filosofia dos valores e a sociologia da Verstehen.
Acresce que se foram traduzindo em castelhano as grandes obras da politologia norte-americana. E quando Madrid o não podia, ou não queria, fazer, eis que o promoviam outros centros culturais de língua castelhana, como o México e a Argentina. Basta recordar a linha de publicações de ciência política e sociologia política do Fondo de Cultura Económica do México, onde podemos encontrar traduzidas quase todas as grande obras da politologia anglo-saxónica.
Mesmo na América de língua castelhana não são de esquecer recentes obras de reflexão política, simbolizadas nos trabalhos do chileno Manuel António Garretón, Reconstruir la Politica [1987] e do argentino Carlos Strasser, Para una Teoría de la Democracia Posible. Idealización y Teoría Política [1990] e Para una Teoría de la Democracia Posible. La Democracia y lo Democrático [1991], sendo também de salientar outros autores como Atilio Borón, M. Cavarozzi e B. Martinez Vazquez.
[1] De Fernando Vallespín, ver Historia de La Teoria Política (ed.), 2 vols., Madrid, Alianza Editorial, 1990, Nuevas Teorias del Contrato Social. John Rawls, Robert Nozick y James Buchanan, Madrid, Alianza Editorial, 1985, e La Vuelta a la Tradición Classica. Leo Strauss y Eric Voegelin, 1993.
[2] De Blas Guerrero, ver Nacionalismos e Ideologias Políticas Contemporáneas, Madrid, Espasa-Calpe, 1985, e Teoria del Estado y Sistemas Políticos, Madrid, UNED, 1988 (com Ramon Garcia Cotarello).
[3] De Ferran Requejo, ver Las Democracias. Democracia Antigua, Democracia Liberal y Estado de Bienestar, Barcelona, Ariel, 1990, e Teoria Crítica y Estado Social, 1991.
[4] Gonzalo Fernandez de la Mora, célebre por El Crepúsculo de las Ideologias [1965], é também um analista da razão de Estado [1952] e da partidocracia [1977].