63 - O espírito interdisciplinar.

 

Este processo empírico de organização da ciência política talvez constitua a única maneira de não empobrecermos a dinâmica daquilo que os cientistas políticos fazem, demonstrando como, na prática, não há confusão com os mundos do direito, da sociologia, da economia e da filosofia, dado que nenhum destes atinge o nível de sistema aberto da ciência política.

Com efeito, o panorama da ciência política norte-americana reflecte claramente a circunstância do alargamento da base cognoscitiva da disciplina, provocado pelo behaviorismo, ter recebido um importante choque teórico com a revolução pós-behaviorista, corrigindo-se alguns dos excessos etnocentristas, descritivistas e formalistas.

De qualquer maneira, vive-se ainda o espírito interdisciplinar, seguindo-se aquele conselho de Pascal, segundo o qual, uma vez que não se pode ser universal e saber tudo o que se pode saber sobre tudo, é necessário saber um pouco de tudo. Porque é muito mais belo saber qualquer coisa de tudo do que saber tudo de uma só coisa. Se alguns continuam a tradição empírica, pondo o acento tónico nos métodos quantitativos, outros prosseguem as sendas sociologistas, refugiando-se na análise das elites. Surgem também os que, mergulhando na teoria dos grupos de Arthur Fisher Bentley e David B. Truman, continuam na senda da poliarquia de Robert Dahl.

A persistente via comparativista demonstra como o principal laboratório da ciência política é todo o mundo das relações internacionais, principalmente neste momento de revolução global.

A perspectiva pluralista, desencadeada num primeiro momento com o sociologismo de Arthur Bentley e, depois, mantida com o behaviorismo de David Truman, apesar de poder enveredar por uma perspectiva fragmentadora, fez uma correcção de rota com as teses da poliaquia de Robert Dahl, o qual aceitou algumas das críticas que foram feitas pelo elitismo democrático e pelas teorias da democracia competitiva.

Mantém-se em Arend Lijphart com a defesa da democracia consociativa, herdeira da perspectiva federalista e retomando algumas da teses da simbiótica de Althusius, reagindo contra todas as formas de monismo, mesmo as democráticas.

Redescobre, com John Kenneth Galbraith, a categoria do poder compensatório (countervaillling power) como o contrário da licenciosidade de um laissez faire não marcado pelo liberalismo ético.

Defender a autonomia da sociedade civil é procurar entender o corpo político, essa bela metáfora dos publicistas dos séculos XVII e XVIII que também se designava por sociedade civil enquanto sinónimo de sociedade política. Uma metáfora que foi, progressivamente, substituída por terminologias mais mecanicistas, como as de balança de poder ou de checks and balances, numa defesa do controlo do poder que, mais recentemente, foi entre nós vituperada como forças de bloqueio.