7 - Brasil.
Do Brasil, se admiramos o esforço editorial tanto da Fundação Getúlio Vargas [1] como da Editora da Universidade de Brasília [2], e se temos de reconhecer que o manual de Ciência Política do Professor Adriano Moreira muito deve ao desafio de uma experiência docente em terras brasileiras, onde também foi um dos coordenadores da edição d’O Legado Político do Ocidente, não podemos deixar de lamentar que grande parte do aparelho universitário da maior potência da língua portuguesa se tenha enredado nos cantos de sereia das ideologias, onde prepondera um neomarxismo que, apesar de adoçado pela filosofia do desejo à francesa, é fundamentalmente marcado pela importação da sociologia histórica da New Left anglo-saxónica para uso no Terceiro Mundo, apesar de, aqui e além, ser tingido pelas cores locais da chamada teologia da libertação [3]. É evidente que no nosso vizinho do oceano moreno, há brilhantes excepções de pequenas ilhas de grande reflexão, com autores de dimensão internacional e um ritmo de publicações e traduções que nos causam inveja. Contudo, a média geral continua a pautar-se pela difusão de doutrinarismos e vulgatas que impedem a maior potência da língua portuguesa de encetar um movimento de recuperação que poderia abranger toda a lusofonia.
Merecem destaque os arendtianos e heideggerianos como Celso Lafer [1979, 1980 e 1988], Djacir Menezes [1975], José Eduardo Faria [1978], Aloysio Ferraz Pereira [1980] e Leitão Adeodato, com os seus estudos sobre a legitimidade [1978 e 1989]. Fernando Henrique Cardoso é um clássico da escola sociológica desenvolvimentista [1967, 1971, 1975 e 1984], e nesta família de pensamento inserem-se autores como Álvaro Vieira Pinto [1956 e 1960] e Hélio Jaguaribe [1958 e 1962], em torno do Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Alguns nomes com dimensão mundial ainda marcam a cultura brasileira, com destaque para Miguel Reale [1934, 1940, 1960, 1963 e 1965] e Gilberto Freyre, e talvez valha a pena continuar a estudar Pedro Calmon [1952] e atender às recentes obras de Roberto Campos [1996] e Meira Penna [1988].
[1] A Fundação Getúlio Vargas criou um Instituto de Direito Público e de Ciência Política e, em 1958, começou a editar uma Revista de Direito Público e de Ciência Política.
[2] A colecção Pensamento Político da Editora da Universidade de Brasília traduziu em português alguns dos textos fundamentais da politologia, antiga e moderna, nomeadamente Harold Lasswell, Alexis de Tocqueville, Eric Voegelin, Maurice Duverger, Ralf Dahrendorf, Norberto Bobbio, Raymond Aron, Stuart Mill, Anatol Rapoport, Maquiavel, Thomas More, Edward Hallet Carr, Marcel Merle, Robert Dahl, A. S. Cohan, Charles E. Lindblom, Samuel Finer, Giovanni Sartori, Karl Deutsch, Carl von Clausewitz, Oswald Spengler, Bernard Crick, Thomas Paine, e John Rawls.
[3] A escola da teologia da libertação, misturando Santo Agostinho com Che Guevara, é representada por autores como Joseph Comblin, Le Pouvoir Militaire en Amérique Latine. L'Idéologie de la Securité National, Paris, Ed. Jean Pierre Delarge, 1977; Théologie de la Révolution, Paris, Universitaires, 1970; Teologia da Libertação, Teologia Neoconservadora e Teologia Liberal, Petrópolis, Editora Vozes, 1985; Teologia da Reconciliação. Ideologia ou Reforço da Libertação, Petrópolis, Editora Vozes, 1986; A Força da Palavra, Petrópolis, Editora Vozes, 1986; e Antropologia Cristã, Petrópolis, Editora Vozes, 1990; Leonardo Boff, Destino do Homem e do Mundo, Petrópolis, Editora Vozes, 1982 (6ª ed.); Teologia à Escuta do Povo, Petrópolis, Editora Vozes, 1984; Do Lugar do Pobre, Petrópolis, Editora Vozes, 1986 (3ª ed.); E A Igreja se Fez Povo, Petrópolis, Editora Vozes, 1986 (3ª ed.); Teologia do Cativeiro e da Libertação, Petrópolis, Editora Vozes, 1987 (5ª ed.); A Trindade e a Sociedade, Petrópolis, Editora Vozes, 1987 (3ª ed.); Santíssima Trindade é a Melhor Comunidade, Petrópolis, Editora Vozes, 1989 (2ª ed.); Clodovis Boff, Cartas Teológicas sobre o Socialismo, Petrópolis, Editora Vozes, 1989; Como Trabalhar com o Povo, Petrópolis, Editora Vozes, 1989 (9ª ed.); Frei Chico, Filosofia e Práticas de Democracia Avançada, Petrópolis, Editora Vozes, 1987; José Ivo Folmann, Igreja, Ideologia e Classes Sociais, Petrópolis, Editora Vozes, 1985; Frei Beto, A Semente e o Fruto, Petrópolis, Editora Vozes, 1984; Gustavo Gutiérrez, Teologia da Libertação, Petrópolis, Editora Vozes, 1986.