Utopia não há nem vale a pena 

 

Estar aqui e ser agora,

pelo prazer de descobrir

os meandros da procura.

Ser um outro qualquer,

este lugar não ter que ser

e poder mudar meu tempo.

Porque ainda apetece

o perfume da procura,

não me temo de pensar

o meu próprio sentimento.

Dia a dia, todos os dias,

sagrar o Deus instante,

descobrindo eternidade

no próprio tempo que tenho.

Ser e devir,

ser o movente,

permanecente.

Ficar assim, hora a hora,

à espera do tempo que vier,

sem desesperar com a demora.

Seja o que Deus quiser!

Utopia, não há, nem vale a pena

para quem faz do poema

o seu próprio mais além.

Só apetecia que viver não fosse

viver aqui e agora,

num sítio que seja lugar,

dum tempo que seja momento.