Desidério Erasmo, dito Erasmo de Roterdão (1469-1536)

 

erasmus a negro

 

Todo aquele que se dedica às coisas sagradas das musas, é meu compatriota (homopatrida).

 

 

 

•Desiderius Erasmus Roterodamus, o humanista, é filósofo político, teólogo e poeta. Filho de sacerdote, começa como frade agostinho e é ordenado padre em 1492, apenas passando à vida secular  quando obtém dispensa papal em 1517.

•Estuda teologia em Paris, de 1495 a 1499, data em que vai a Inglaterra, onde se torna amigo de Thomas More. Visita várias partes da Europa, chega a ser nomeado conselheiro de Carlos V, torna-se professor de teologia em Lovaina (1517), mas depois muda-se para Basileia (1521).

•Se é afastado da primeira escola pela censura teológica, também é obrigado a largar a segunda, quando a cidade se torna protestante, refugando em Friburgo. Em 1524 entra em confronto com Lutero e em 1535 vê o seu amigo Thomas More ser executado em Inglaterra, pelo mesmo Henrique VIII, com quem simpatiza e até chega a subsidiá-lo.  

•É mais conhecido pela sua obra satírica Elogio da Loucura, onde critica particularmente os costumes eclesiásticos da época, mas de cuja obra também faz parte um ataque às teses de Lutero.

•Um dos inspiradores do jusnaturalismo cristão renascentista. É um pacifista que tanto não advoga, como Dante, o imperium mundi de uma monarquia universal, como também parece não nutrir qualquer espécie de nostalgia pelo Império Romano, defendendo o pluralismo político e considerando que a paz não é contrária à multiplicidade dos reinos, desde que a lei evangélica seja respeitada, por considerar o reino de Cristo como o único reino universal.

•Adversário do maquiavelismo, adopta um programa prático de pacifismo que até se mostra céptico face à teoria da guerra justa, defendendo, pelo contrário, que seja encorajada a formação de uma consciência cristã comum, pela estabilização do estatuto territorial da Europa, pela intervenção necessária da população em matéria de declaração de guerra, pela organização da arbitragem e pela mobilização de todas as forças morais a favor da paz. Assim, tal como os estóicos, considera que, todo aquele que se dedica às coisas sagradas das musas, é seu compatriota (homopatrida).

 

Enchiridon militis christiani, 1503 (Manual do Cristão Militante, obra escrita em 1501).

Encomion moriae, Paris, 1511 (Elogio da Loucura)

Institutio Principis Christiani, 1516  (A Educação de um Prínciepe Cristão). Um regime de príncipes dedicado ao futuro Carlos V, onde se coloca numa perspectiva bem diversa da assumida por Maquiavel. Ver a ed. port. Walter da Costa Porto, Conselhos aos Governantes, Brasília, Edições do Senado Federal, 2003, 3ª ed, pp. 267 ss.

Querela pacis (Questão da Paz, 1517).

De libero arbítrio, 1524 (Sobre o Livre Arbítrio, obra escrita contra as teses de Lutero).

 

 

0 Dias, J. S. Silva, O Erasmismo e a Inquisição em Portugal. O Processo de Fr. Valentim da Luz, Coimbra, 1975.

 

1 Maltez (1996), pp. 475 segs;  Martins, J. V. Pina, Aspectos do Erasmismo de André de Resende, Lisboa, 196;  Morujão, Alexandre Fradique, «Erasmo», in Logos, 2, cols. 140-143. ;  Russell, Bertrand, A History of Western Philosophy, 1945 (Nova Iorque, Simon & Schuster, 1972), pp. 512 segs..

 

 

 

                                                     Institutio principis christiani, 1516

 


 

 

erasmeduredet

 

Desidério Erasmo (1466-1536), no seu regime de príncipes, dedicado a Carlos V, no ano em que ele se assume como rei de Aragão e institui a Espanha, aliás, três anos antes de ser eleito Imperador, coloca-se numa perspectiva radicalmente diversa da assumida por Maquiavel e da razão de Estado, considerando que não pode haver uma moral privada diversa da moral pública. A obra é publicada em Basileia, três anos depois de Maquiavel escrever Il Principe e no mesmo ano em que o mesmo Erasmo promovia a publicação da Utopia do seu amigo Thomas More em Lovaina.

O rei continua a ser considerado como imago Dei, pelo que deve estar mais vinculado à moral cristã do que os próprios súbditos. Faz depender a legitimidade do poder mais do exercício do que do título, enfatizando o facto das acções do príncipe estarem dependentes da lei e ao serviço do bem comum.

•Não admite também a resistência activa face aos poderes estabelecidos e condena as sedições. Defende uma monarquia limitada, controlada e temperada pela aristocracia e pela democracia onde os diversos elementos de equilibram uns aos outros. Era a perspectiva de Cícero e de São Tomás, algo que vai retomado por Montesquieu, Constant e Tocqueville.

•No plano da política internacional assume-se como pacifista, considerando que a raiz da concórdia tem de situar-se no interior do homem. Não se mostra favorável ao conceito da própria guerra justa, estabelecendo-lhe inúmeras limitações, defendendo a arbitragem internacional.

•Com efeito, alguns ainda mantêm o universalismo da ideia medieval de res publica christiana, como o humanismo renascentista de Erasmo de Roterdão e Juan Luis Vivès, outros, continuando tal senda, até introduzem a ideia de comunidade universal, como os teóricos da neo-escolástica peninsular, de que se destacam Francisco de Vitória e Francisco Suarez.

 

Última revisão:15-02-2009