© José Adelino Maltez, Tópicos Político-Jurídico, texto concluído em Dili, na ilha do nascer do sol, finais de 2008

 

 

Adam Smith (1723-1790)

 

 

 

O homem é levado por uma mão invisível a apoiar um objectivo que não fazia parte da sua intenção.

 

•Estuda em Glasgow e Oxford. Professor em Glasgow de 1751 a 1763. Começa por ensinar lógica, mas em 1752 transita para filosofia moral, até 1764. Considera que a ética se baseia na simpatia.

•Viaja pelo continente em 1764-1766, encontrando-se com os enciclopedistas, Voltaire e Turgot. Regressa à Escócia em 1767 e dedica-se à escrita. Parte para Londres em 1773 e publica A Riqueza das Nações  em 1776. There is no art which one government sooner learns of another than of draining money from the pocket of the people (1776).

•Comissário das alfândegas de Edimburgo de 1778 até à data da sua morte. Mestre da escola clássica da economia, é influenciado por Hutcheson, Hume, Mandeville e pelo liberalismo ético de Ferguson. Defende o princípio da divisão do trabalho.

•Na base do respectivo pensamento está o princípio hedonístico do interesse pessoal, segundo o qual os homens procuram melhorar a sua situação económica, procurando o máximo de satisfação com o mínimo de esforço, salientando que os motivos egoísticos e a espontaneidade das instituições realizam inconscientemente a providência divina.

•O Inquiry, de 1776, tem até ao final do século cinco edições inglesas e quatro traduções francesas. Estrutura assim o triunfante modelo do free trade e do capitalismo liberal, onde, à ética puritana dos produtores, corresponde o hedonismo dos consumidores. The natural effort of every individual to better his own condition ... is so powerful, that it is alone, and without any assistance, not only capable of carrying on the society to wealth and prosperity, but of surmounting a hundred impertinent obstructions with which the folly of human laws often encumbers its operations (1776).

 

The Theory of Moral Sentiments, Londres, 1759.

Jurisprudence or Notes from the lectures on Justice, Police, Revenue and Arms, lições proferidas em Glasgow, 1776. Cfr. ed. de R. L. Meek, D. D. Raphael e P. G. Stein, Oxford, 1978. Há uma primeira versão de 1762-1763.

An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (Londres, 1776) (cfr. Adam Smith, Essays on Philosophical Studies, Oxford, Oxford University Press, 1980; trad. port. de Teodora Cardoso e Luís Cristóvão de Aguiar, com pref. de Hermes dos Santos, Inquérito sobre a natureza e as causas da Riqueza das Nações, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian).

 

0Muller, Jerry Z., Adam Smith in His Time and Ours. Designing the Decent Society, Princeton, Princeton University Press, 1995;  Winch, D., Adam Smith's Politics, Cambridge, Cambridge University Press, 1978.

 

Duarte, Joaquim Cardozo, «Adam Smith», in Logos, 4, cols. 1185-118;  Ebenstein (GPT), pp. 547 segs;  Maltez (ESPE, 1991), II, pp. 220 segs. ;  Strauss/Cropsey (1987), p. 635.

 

 

An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (1776)

 


 

 

•Adam Smith fala numa ordem comandada por uma espécie de mão invisível, onde o homdm através de meios não desejados por ele, nem projectados por ninguém, é levado a promover resultados que, de maneira nenhuma, fazem parte das suas intenções.

•Expressão utilizada uma única vez a propósito apenas do comércio internacional. Uma mão invisível, depois transformada naquela ideologia, cuja vulgata parece esquecer que a matriz smithiana do moralismo escocês tem mais a ver com a escolástica peninsular do que com o contratualismo iluminista.

•Pelo menos Hayek, ao contrário de alguns pretensos smithianos portugueses da dita nova vaga, não deixou de o reconhecer e no discurso que proferiu, por ocasião da recepção do Prémio Nobel da Economia em 1974, declarou que o ponto chave (do conhecimento económico) já  o haviam visto aqueles notáveis precursores da economia moderna que foram os escolásticos portugueses e espanhóis do século XVI.

•O moralismo escocês, reagindo contra o conceito hobbesiano de Estado, mas sem retomar o conceito aristotélico de polis, considera, aliás, que o Estado não tem qualquer significação ética, como é defendido pelos clássicos greco-latinos, cabendo-lhe apenas definir e garantir as regras do jogo.

•É na sociedade civil, graças ao progresso da divisão de trabalho e das trocas monetárias, por efeito do desenvolvimento do comércio e das artes, que pode haver progresso e civilização. As actividades económicas passam assim a ser o vector fundamental da formação do laço social e a solidariedade a ser olhada como o resultado involuntário da interacção de comportamentos individuais.

•Procura-se, a partir de então, uma ordem espontânea sem qualquer espécie de transcendência, dado que a virtude ou excelência se realiza apenas no espaço privado das relações económicas e culturais


 

© José Adelino Maltez em Dili, Universidade Nacional de Timor Leste, ano de 2008

 

Última revisão:12-03-2009