José Adelino Maltez, Tópicos Jurídicos e Políticos, estruturados em Dili, na ilha do nascer do sol, finais de 2008, revistos no exílio procurado da Ribeira do Tejo, começos de 2009

 

Guerra Fria

 

 

O equilíbrio entre o grupo anglo-americano e os soviéticos, com o findar da Segunda Guerra Mundial, foi imediatamente rompido, quando se iniciou a guerra civil grega, a partir de 3 de Dezembro de 1944.

Não tarda que Winston Churchill (1874-1965), em 5 de Março de 1946, no célebre discurso de Fulton, venha reconhecer que, sobre a Europa, tinha caído uma cortina de ferro, imagem que, aliás, fora adaptada da propaganda goebbelsiana, depois de ter sido lançada em 1920 pela trabalhista Ethel Snowden, em Trough Bolshevik Russia.

É natural que os norte-americanos tenham sistematizado o processo de combate anti-soviético. Primeiro com a doutrina de Truman, que, em discurso perante o Congresso, de 12 de Março de 1947, vem declarar a vontade norte-americana de lutar, na Grécia, na Turquia e em qualquer parte do mundo contra o comunismo, dispondo-se a apoiar os povos livres que resistem às tentativas de servidão exercidas contra eles por minorias armadas ou por pressões exteriores.

Depois, com o célebre Plano Marshall, de ajuda económica à reconstrução da Europa, enunciado pelo discurso do general George Marshall (1880-1959), então secretário de Estado, na Universidade de Harvard, em 5 de Junho do mesmo ano de 1947.

Compreende-se assim que, na Conferência de Moscovo dos chamados três grandes, em 24 de Abril de 1947, já se tenha assistido a um total desacordo. A escalada da Guerra Fria vai começar.

Primeiro, a série de expulsões de militantes comunistas de vários governos, tanto na Europa Ocidental como noutros países situados na esfera de influência norte-americana. Assim, em 4 de Maio, os comunistas saem do governo francês, então presidido pelo socialista Paul Ramadier; em 13 de Maio, do governo italiano, na sequência de uma cisão do Partido Socialista, donde se destacou, em 9 de Janeiro, um Partido Social-Democrata contrário ao unitarismo com os comunistas.

A resposta de Estaline não se fez esperar. Em 5 de Outubro de 1947 restaurava o Komintern, sob a forma de Kominform e, de 31 de Março de 1947 a 12 de Maio de 1948, impunha o Bloqueio a Berlim.

Entretanto, perante a sugestão do Plano Marshall, que a URSS logo recusou em 2 de Julho de 1947, no que foi seguida pelos países já por ela satelitizados, reunia-se em Paris, em 12 de Julho de 1947, um grupo de dezasseis países aceitantes do modelo de apoio norte-americano, o núcleo duro donde vai sair a OECE, em 16 de Abril de 1948, a mesma instituição que, depois, se universaliza em OCDE, em 14 de Dezembro de 1960.

Outros tiros organizacionais eram dados pelo lado ocidental, com destaque para a assinatura do Pacto do Atlântico, em 4 de Abril de 1949, e para o processo de unificação da Europa Ocidental, através de uma série de etapas.

Primeiro, o Tratado de Dunquerque, entre a França e a Alemanha. Depois, a instituição do Benelux, em 1 de Janeiro de 1948, a que se segue o Tratado de Bruxelas, de 17 de Março de 1948, e, em 5 de Maio de 1949, o Conselho da Europa.

Já em 9 de Maio de 1950, surge o célebre discurso do Salon de l'Horloge do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Robert Schuman, onde se propõe o aproveitamento comum do carvão e do aço entre a França e a Alemanha, base do Tratado de Paris que instituiu a primeira das comunidades europeias, a CECA, em 18 de Junho de 1951, e do Tratado de Roma, de 25 de Março de 1957, fundador da CEE.

Por seu lado, em 27 de Maio de 1952, surge a falhada Comunidade Europeia de Defesa, que a Assembleia Nacional Francesa não aprova em 30 de Agosto de 1959.

Enquanto isto, a URSS, através de Estaline, responde com a instituição do COMECON, em 25 de Janeiro de 1949, e depois, já sob a liderança de Khruchtchev, com o Pacto de Varsóvia, em 14 de Maio de 1955.

Contudo, o principal ping pong entre o Leste e o Oeste ocorreu na Alemanha. Em 22 de Abril de 1946, na zona de ocupação soviética, dava-se a fusão entre o SPD e o PC, enquanto em Abril de 1947 K. Schumacher (1895-1952) reconstruía o SPD na zona ocidental. Em 23 de Maio de 1949 surgia a República Federal da Alemanha, onde, depois das eleições de 14 de Agosto, tomava posse, em 15 de Setembro, o novo chanceler, o democrata-cristão Konrad Adenauer.

Os soviéticos respondem com a criação, em 12 de Outubro de 1949, da República Democrática Alemã que, em 29 de Setembro de 1950, aderia ao COMECON depois de, em 18 de Janeiro de 1946, já ter constituído forças armadas próprias.

Outro episódio fundamental do processo é a Guerra da Coreia. Em 16 de Janeiro de 1948 era proclamada a República Popular da Coreia, Norte, sob o signo de Kim Il Sung, um pouco antes de, na vizinha China, Mao Tsetung proclamar a República Popular da China, em 1 de Outubro de 1949.

Nesta sequência, em 25 de Junho de 1950, tropas norte-coreanas invadem a Coreia do Sul. Como resposta, em 29 de Julho, tropas norte-americanas intervêm a favor do Sul, com a cobertura da ONU. Em 8 de Julho, Mac Arthur, o vencedor dos japoneses, era nomeado comandante-chefe das forças armadas que actuavam sob a legitimidade onusiana.

Pouco tempo depois, em 26 de Setembro, já norte-americanos e sul-coreanos retomavam Seul, para, em 2 de Outubro, transporem o paralelo 38. Entretanto, em 15 de Outubro, voluntários chineses intervinham em apoio dos norte-coreanos, obrigando, a partir de 2 de Dezembro, a um recuo das forças da ONU, de tal maneira que, em 24 de Dezembro, os comunistas já voltam a penetrar no Sul, ocupando, mais uma vez, Seul, logo em 5 de Janeiro de 1951. Mas a ofensiva dos nortistas acaba por ser detida em 24 de Janeiro, para mais uma contra-ofensiva face ao Norte e uma nova reconquista de Seul, em 14 de Março de 1951. O Armistício só vai chegar em 27 de Julho de 1953.

Do mesmo modo, urge ressaltar a chamada Crise do Suez, subsequente à subida ao poder de Nasser, em 18 de Abril de 1954, que, dois anos depois, inicia um processo de aproximação aos soviéticos, pelo que, em 10 de Julho de 1956, já o Egipto começa a receber armamento de Moscovo.

Tudo se agrava quando os USA recusam financiar a construção da projectada barragem de Assuão, em 19 de Julho de 1956, posição a que, dois dias depois, a URSS responde, prometendo examinar as possibilidades de apoio.

Nasser decide então nacionalizar o canal de Suez, em 26 de Julho de 1956, afrontando directamente tanto os interesses como o orgulho dos europeus ocidentais e em 5 de Novembro eis que se dá o desembarque de tropas franco-britânicas em Port Said.

A Europa ocidental verifica, então, que deixara de ser protagonista na cena mundial. Sem o apoio norte-americano, vê-se alvo de um ultimato soviético, ao mesmo tempo que Nehru ameaça abandonar a Commonwealth, não faltando sequer uma formal condenação da ONU. As tropas franco-britânicas são assim obrigadas a recuar e o fruto amargo dos ventos da história mostra quem foi o efectivo derrotado na Segunda Guerra Mundial.

 

© José Adelino Maltez

 

Última revisão:06-05-2009

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