José Adelino Maltez, Tópicos Jurídicos e Políticos, estruturados em Dili, na ilha do nascer do sol, finais de 2008, revistos no exílio procurado da Ribeira do Tejo, começos de 2009
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Imagem, Sondagem e Sacanagem
Algumas das direitas e das esquerdas a que chegámos vivem daquilo que Manuel Alegre um dia disse da esquerda: vivem da imagem, da sondagem e da sacanagem. E olhando para Portugal como um país de bananas governado por sacanas, para recorrer a um dito atribuído ao rei D. Carlos, vão devorando os seus próprios filhos em nome da fabricada imagem de alguns. Federando sacanas, acabam por dominar os muitos bananas que, marcados por um inconsciente salazarento, recuperam os discursos dos césares de multidões. À direita e à esquerda, domina um árido deserto de ideias, onde até se admitem, como porta-vozes de várias correntes, certos zeros axiológicos, acolitados por peritos em habilidades propagandísticas. Se poderão ser plebiscitados por maiorias políticas tácticas, nunca terão o conforto de qualquer maioria moral. Marcados pelo paganismo egocêntrico, apenas contribuirão para o acréscimo do niilismo, desenvolvendo a faceta utilitarista das pós-revoluções. Assumindo o poujadismo da revolta dos porcos de certa animal farm até nos deixam saudades das intuições e do sentido de risco de Francisco Sá Carneiro, do exercício das imaginativas metáforas de Francisco Lucas Pires, da honestidade e sentido de missão de Ramalho Eanes. Desses que até saudariam o sentido moral do antigo adversário comunista se este tivesse a humildade de subscrever a tolerância, o pluralismo e o fundamentalismo do Estado de Direito, preferindo as liberdades reais, dos homens concretos, às regras de salvação ideológica que se disfarçam na invocação de uma abstracta humanidade. Neste tempo cinzento não vemos que saltem as raposas nem que esvoacem as pombas. Pelo contrário: predominam os répteis feitos moluscos, essa legião de invertebradas criaturas que saem das tocas da hibernação e babam o modelo cobarde de, ao mesmo tempo, estarem com Deus e com o diabo, porque, temendo a derrota, preferem o antijogo que nos leva a sucessivos empates.
© José Adelino Maltez |

Última revisão:06-05-2009
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