José Adelino Maltez, Tópicos Jurídicos e Políticos, estruturados em Dili, na ilha do nascer do sol, finais de 2008, revistos no exílio procurado da Ribeira do Tejo, começos de 2009

 

Sofistas

 

Numa primeira fase, o pensamento grego é exageradamente cosmológico, quando faz uma distinção absoluta entre o natural e o positivo, onde a natureza é perspectivada como um transcendente, como algo que se contrapõe a uma ordem criada por acção do homem, àquilo que o homem acrescenta à natureza, entendida como uma ordem confeccionada, exógena, artificial, como o puro resultado de uma construção. Neste sentido, o natural não corresponde ao mero naturalístico, àquela natureza que os sentidos nos dão, configurando-se  como uma ideia abstracta, sendo uma representação da realidade, esse algo de supra-sensível que Jürgen Habermas qualifica como uma suposição ontológica fundamental de um mundo estruturado em si. Depois, com os Sofistas, cerca de cinco séculos antes de Cristo, dá-se uma viragem no sentido antropológico, reagindo-se contra os anteriores excessos metafísicos, mas caindo-se num excesso de sinal contrário, quando se nega a possibilidade do transcendente, muito em especial de uma justiça superior. Os Sofistas são assim os autores gregos anteriores à emergência de Sócrates que ensinam aos jovens atenienses os rudimentos da lógica e da retórica, mas aceitando recompensas monetárias para fazerem discursos. Se reagem contra o pensamento cosmológico e fundam o pensamento antropológico, ao considerarem que o homem é a medida de todas as coisas, para utilizarmos palavras de Protágoras, ainda estão no sincretismo genético e acabam carregados de cepticismo. Exagerando na retórica, degeneram pelo abuso da chicana, passando a sustentar qualquer opinião, desde lhes pagassem para discursar.  Mais do que isso: cultivam a demagogia, sabendo que conquistar a palavra pode ser conquistar o poder.

© José Adelino Maltez

 

Última revisão:12-04-2009

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