José Adelino Maltez, Tópicos Jurídicos e Políticos, estruturados em Dili, na ilha do nascer do sol, finais de 2008, revistos no exílio procurado da Ribeira do Tejo, começos de 2009

 

Historicismo

 

 

O historicismo suscitou um relativismo que considera toda a formação histórica individual, toda a instituição, toda a ideia e toda a ideologia somente como momento transitório no curso infinito do devir

Meinecke*, Friedrich

 

 

Em sentido amplo, o qualificativo, originário do alemão Historismus, é dado a correntes do pensamento, segundo as quais é a história que faz o homem e não o homem que faz a história. Baseia-se no modelo romântico inaugurado por Herder e Schelling, segundo o qual o universo deixou de ser um sistema e passou a ser entendido como história, numa passagem do cosmológico para o antropocêntrico. De certa maneira, é o exacto contrário do conservadorismo, gerando uma fuga para a frente, através do evolucionismo e do progressismo.

 

O termo começa por ser utilizado por Carl Menger, em 1883, para qualificar e criticar a intervenção de alguns membros da Escola Histórica nos domínios da economia, nomeadamente G. Schmoller. O historiador alemão F. Meinecke* consagra a expressão em 1936, na obra Die Enttstehung des Historismus.

 

Segundo Popper, o historicismo foi fundado por Hegel e Marx e tem como precursores Platão e Santo Agostinho. Para Hayek, o historicismo é caracterizado por estabelecer leis gerais do devir à imagem e semelhança das leis físicas. Generaliza a partir do particular. Para tais correntes, a história obedece a uma necessidade, tendo leis que nos escapam. Os movimentos historicistas falam num sentido da história ou num processo histórico. Aceitam que pesquisando determinadas leis se poderia determinar o futuro da humanidade.

 

Diz-se também das orientações epistemológicas que consideram a história como a verdadeira ciência do homem e que a interpretação dos fenómenos sociais por assinalar-se  o encadeamento dos fenómenos sociais no tempo bem como a respectiva singularidade. Neste sentido, consideram como tarefa da ciência a contemplação do processo histórico, tudo tendendo a reduzir à filosofia da história.. Conforme a definição do dicionário do pensamento político da Blackwell, a filosofia da história fornece a base racional de qualquer conhecimento pertinente das actividades e das obras humanas.

 

Em sentido estrito, também se dizem historicistas as perspectivas do entendimento de um qualquer período da história, não de acordo com as ideias e os conceitos de hoje, mas com os instrumentos intelectuais disponíveis nesse tempo. Em sentido intermédio, o historicismo pode também significar revivalismo, o amor ou nostalgia por uma forma cultural de um tempo passado.

 

Sob o qualificativo de historicismo, reúnem-se, contudo, múltiplas e contraditórias perspectivas. Neo-hegelianos como Crice reclamam-se de um historicismo idealista, dito historicismo absoluto. Historicista é também o materialismo dialéctico e o vitalismo de Spengler e Ortega y Gasset, bem como o existencialismo de Heidegger, Jaspers e Sartre.

 

Historicismo de Hegel Atinge-se, assim, aquilo que será vulgarizado como historicismo, onde o homem é o personagem de uma liberdade, ideal ou social que se desenvolve objectiva e universalmente, segundo leis racionais, imanentes na história, conforme observa Miguel Reale. Trata-se, aliás, de um panteísmo imanentista onde Deus se confunde com o mundo e onde o direito é a expressão do que está imanente ao mundo, conforme Carl Schmitt.

 

Historicismo para Leo Strauss O abandono du padrão de dever-ser, de uma ideia que transcende a própria história, passando a haver uma coincidência do racional e do real, do dever-ser e do ser. A partir de então, a teoria passa a estar ao serviço da prática, torna‑se inteligência do que a prática engendrou, a inteligência do actual, e deixou de ser a procura do que devia ser: … deixou de ser teoricamente prática.

 

Historicismo absoluto Qualificativo que Benedetto Croce dá à sua posição espiritual. A partir de então assume-se como espiritualista e defensor do historicismo absoluto, também dito idealismo realista, considerando que a realidade é o Espírito concebido dialecticamente. Entende, deste modo, que há não só uma dialéctica de opostos como também uma dialéctica de distintos. Na primeira, o positivo só tem vida triunfando sobre o negativo (caso do bem e do mal ou do verdadeiro e do falso); na segunda, cada termo não anula o outro, podendo os dois harmonizar‑se (caso do belo e verdadeiro ou do útil e bom). Daqui deriva uma concepção de graus do espírito. Dois graus teóricos (a intuição e o conceito) e dois graus práticos (a volição do individual e a volição do universal) que correspondem a quatro formas fundamentais de espírito: a artística, a filosófica, a económica (a economia como volição do individual é actividade espiritual) e a ética (como volição do universal). O espírito tem, assim, circularidade dado que todas as formas estão numa situação de unidade‑distinção, todas se implicam umas às outras.

 

© José Adelino Maltez

 

Última revisão:06-05-2009

eXTReMe Tracker
  Index

 

Procure no portal http://maltez.info