FINGI NOS MEUS POEMAS



Fingi nos meus poemas
ser aquilo que não era
para que os outros
quando me lessem,
pensassem de mim
quem já não sou.

Pelos salões da sociedade
vaidoso fui recitando
as minhas rimas
para receber elogios.

A ti, poesia, me confesso
só nas palavras confio

Quem me dera escrever
por ter mesmo de escrever
e palavra a palavra segredar
o que tenho medo de pensar
palavra a palavra soletrar
o que dia a dia vou mentindo

Amei e já não amo,
cantei e já não canto.
No silêncio do meu quarto
já não anseio distância

Copyright © 1983  por José Adelino Maltez. Excerto do livro "Pátria Prometida", P. 28.
Todos os direitos reservados. Página revista nesta edição para a Internet, em: 16-12-1998