POR DENTRO DE MIM, DENTRO BEM FUNDO
Por dentro de mim, dentro, bem fundo,
onde já não sou quem pensa,
dentro de mim
onde silêncio e fogo me dão ser,
já não sei quem sou nem para onde vou
Pelas veias sendas do meu ser
nem mãos nem corpo nem viagem
Apenas o mistério
de não sentir prazer nem dor
A procura de mim mesmo
sem porquês nem morte
a pura força de viver, o infinito,
Esfera a esfera, a bruma
condensando-se em orvalho de manhã
e a luz da primavera despertando o pensamento
Então partir de novo do cimo do meu ser
rumo ao mar encapelado das palavras que resguardo
E sempre a distância de não saber
sempre os dias desfeitos
nas areias do mistério,
sempre mais além cada vez mais longe
Eis meu destino:
ir e vir dentro de mim,
palavra a palavra a poesia da viagem
e peregrinando poemas,
perseguir meu fim
prosseguir dentro de mim
Até sem saber quando
perder as forças e morrer
morrer sem saber o medo de morrer,
morrer simplesmente como nasceu meu ser
nas dores que não são minhas mas dos meus
Copyright © 1983 por José Adelino
Maltez. Excerto do livro "Pátria Prometida", P. 20.
Todos os direitos reservados. Página revista nesta edição para a
Internet, em: 16-12-1998