A minha pequena pátria natal

 

A minha pequena pátria natal 

é um espaço térreo, de memória vivida, 

entre o Cimo do Olival e o Penedo Alto, 

os peregrinos sítios que circundam 

a lenta planura da Ribeira 

e onde meus olhos vão mais longe, 

aos montes da Estremadura. 

Chamo-lhe ainda pátria prometida, 

campos serenos, raízes da manhã,

entre pinhais e terras de vinha, 

um passarinho que vai, de ramo em ramo,

e que, sozinho, diante do mistério,

pode saber vencer 

esse medo de não ser.

Foi nessa junção de lugares  

que aprendi todas as cores.   

Aí descobri o sabor da terra,  

a frescura trincada nos frutos,  

o correr das águas na regueira,  

o cheiro da cana verde  

e o conforto branco da farinha

no moinho da minha tia.  

A pequena fonte das Rodas,  

com água sabendo a barro,

e a oliveira velha, 

por cima do carreiro, 

onde se guardavam os panais 

e as enxadas.

Aí descobri que, além do mundo,

pode ser Deus,

mas que, Dele, apenas sei

os sinais que O pressentem:

o murmurar das ondas,

o fulgor do sol,

o mistério da dor.