Apetecia ter um cão que servisse apenas de cão

 

 

Apetecia ter um cão que servisse apenas de cão, 

que não fosse de guarda, nem de caça, nem de luxo, 

um cão amigo, mesmo sem raça. 

Um cão apenas cão, com diminutivo de gente, 

que, fiel, lãzudo, me servisse de companhia. 

Apetecia ter o cão que nunca tive, 

a quem se pudesse dedicar um poema 

como Francisco Bugalho fez à sua égua lazã. 

Apetecia ter um cão amigo, sentado aqui comigo, 

neste escritório que também não tenho, 

um sinal de natureza que dormitasse na carpete, 

enquanto eu fosse lendo e escrevendo. 

Apetecia ter um cão como o que tenho,

este bicho tão querido, meu irmão.