Em Macau, não deixei de ser

 

Aqui e agora, no seio da noite, 

quanto apetecia acelerar 

os ponteiros do relógio 

e, adiantado no tempo, 

viver horas de acordar, 

para perder-me nas ruas 

desta cidade desconhecida. 

Para descobrir um qualquer lugar, 

onde, anónimo, pudesse vaguear, 

sorvendo a força da multidão. 

Ter o simples pretexto 

de uma compra para fazer, 

de uma fotografia para tirar. 

ou um qualquer ponto no mapa 

para fingir pesquisar. 

Talvez seja mais simples dizer 

que em Macau, às tantas da noite, 

de uma data que não digitei, 

acordei de medo

sem saber porquê 

e, confuso, quase chorei. 

Não, não me ilusionaram 

opiáceos pedaços, 

nem antros corruptos

onde se compram e vendem

pedaços de prazer e de poder. 

Também eu fui a esse oriente 

do ocidente, 

e às palavras regressei. 

Cansei-me de escrever, 

de escrever quem sou,  

procurando o sonho 

que me sustém.