Estar sozinho, mas estar contigo

 

 

Como um pintor a retratar a paisagem, 

eis-me diante do mar, 

nesta manhã de verão suave 

em que apeteceu passear, 

pisando as areias da maré baixa!

Depois da chuva, 

o sol venceu a neblina 

e logo chegou a calmaria. 

Zumbem breves os insectos 

e os pássaros, de tão leves, 

livres, voam mais lestos 

nesta paisagem aberta e desolada 

ao vento que vem do norte. 

Olhar o mar cá de cima,  

no mais alto da falésia, 

sentindo a praia deserta. 

Estar sozinho, 

mas estar contigo. 

Com o barulho do mar tão perto, 

brancas ondas de espuma, 

que as areias dessedentam. 

O mar todos os dias à minha beira, 

nesta praia ocidental onde, sentado, 

apetece ser vagabundo, 

sonhando ter um lugar onde

em qualquer sítio do mundo. 

Há intervalos que apetecem, 

por mais breves que sejam. 

As finas melodias que dedilho, 

os trilhos de silêncio que prossigo 

sem que ninguém mais saiba.