Natura rerum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Que tempo fará quando voltares?

Que sonho será quando for dia

e à beira de quem fomos regressar?

Há uma força antiga,

desmedida,

que as forças que penso ter

já não conseguem deter.

Uma força que não tem tempo,

que não tem fim,

uma força que, d’além, nos dá além.

Uma excedente saudade,

que me passa, trespassa

e sobrepassa.

Não é tropismo,

reflexo condicionado,

automatismo.

É uma força bem mais forte,

bem mais funda.

Tem a autenticidade

das nascentes de água cristalina,

a calma serena dos poentes,

o saudoso tamanho

das mais pátrias raízes

e a maternal sombra

das árvores centenárias.

É uma força serena e perfumada,

tão antiga e tão suave

quanto o húmido musgo

das pedras do velho muro

que bordeja meu jardim.

E nesse íntimo segredo,

que me sustenta e fere,

há um dinâmico imobilismo,

a pétrea semente

de um tempo antiquíssimo,

o virtuoso, imanente,

a natureza das coisas,

que procuro.

A pensada raiz da emoção,

que, em carne viva,

pelo sonho, me sustenta.

Humano, demasiado humano,

tão simples como o fluir do tempo,

o seguir a brisa que me leva

à própria raiz do vento,

a força de dizer sol,

de dizer mar,

de dizer pinhal.

onde volta a ter sentido

o sítio para onde vou.