Saem traineiras da barra

 

 

Há farrapos de luz que se perdem no poente 

neste vago remanso dos meus dias, 

quando as horas deslizam 

em suave entardecer  

e palavras de ternura me sitiam mansamente. 

Balouçando no vaivém do tempo, 

a terra inteira é um berço,

quando as pálpebras do tempo, ao cerrar-se, 

o meu corpo vão adormecendo. 

Saem traineiras da barra assobiando 

e o chlope chlope da proa vai cortando 

o rendilhar das ondas, 

enquanto os carros, 

em longas filas de stresse, 

vão regressando, lentamente,

à lufa lufa da cidade. 

Vendo e pensando, 

pouco a pouco, me vou esquecendo..

e já não sei se estou sonhando,

como se olhar desta maneira

também não fosse pensar. 

As mãos não sustêm seu escrever 

e a cabeça, de tão leve, vai pesando. 

É a noite que vem chegando. 

A brasa do dia que se apaga 

neste poente sem nuvens 

com o sol poisando lentamente 

na curva do horizonte. 

Amanhã, a manhã virá 

de onde as trevas estão chegando. 

Outro dia igual aos mais 

que, dia a dia, vou passando