Ser é escrever-me

 

 

Quando, em noites de solidão,

peregrinamos

o prazer da criação,

eis que as palavras

voltam a ser nascente,

águas vivas

da memória que resiste.

As palavras necessárias

que, às vezes, ganham sentido,

quando, sem procurar porquê,

a poesia acontecer.

Retomo a velha pena

de escrever-me

que recatara,

no tombo dos feitos

nunca findos. 

Lavo, de seu aparo dourado, 

restos secos,

de tinta sofrida,

e logo volta a fluidez

navegante

dos poemas por fazer.

A proa da caneta

riscando fina

a breve rugosidade do papel,

os manuscritos que resguardo

nas gavetas vivas do passado,

e os livros, companheiros,

que, lendo e relendo,

vou recriando

em madrugadas de espera.