Somos o sítio onde estamos

 

Um campo atapetado por caruma,

o rouco som do mar em fundo

e a manhã que vem chegando.

Na semente de quem somos,

o próprio centro do mundo,

a máquina do tempo

que nos dá o transcendente.

De olhos dados,

de corpos postos,

o sabor dos lábios

dando sossego ao sonho.

Sobre o azul do céu,

o risco branco

da nuvem que passa. 

Ermos, lentos montes

já nos dão viagem,

o tempo imenso,

o mundo inteiro.

Nas longas praias do poente,

um horizonte sem fim

que a retina não concentra,

não há métrica que o meça

nem rima que o detenha

A paisagem cresce por mim dentro,

raízes do tempo revolvendo

as terras fundas da memória.

Braços que são ramos,

raízes que florescem,

as nuvens já não ensombram

o azul do horizonte

e um lento ritmo de sol

norteia meu pensamento.