Tudo me dá lembrança

 

Nestes dias de viver saudade 

tudo me dá lembrança 

para poder seguir vivendo.

Porque dóem os dias

tão docemente,

se, nesta calma da tarde,

há um sol doirado

que vai tisnando

os pálidos corpos da invernia

e o barulho das ondas

nos embala como sempre?

A quieta melancolia da paisagem,

o mar em sol, 

o repousar do vento 

e as velas de um barco 

que, ao largo, vai passando. 

Respiro fundo, 

olho as gaivotas, 

deixo que o sol me fustigue, 

guardando seu calor 

para a friagem da cidade. 

No entretém 

do tempo que passa,

quando o vento guarda 

sua pausa, 

logo apetece sorver 

a fluidez da tarde 

e respirar 

a largueza do ar.  

Um corpo redivivo 

sustém a espera, 

nos braços abstractos 

da amargura.

E, recordando, 

vou sendo mais.