A cidade nos deu saudade

Muitos pensam que a nostalgia
é apenas olhar para trás,
num regresso que não vem,
quando viver é sempre seguir em frente,
num nascer de novo, todos os dias.
Todo o tempo à nossa frente nos dava paz:
o verde fresco dos campos da primavera,
o viço das flores amarelas,
a rugosidade aromática dos eucaliptos
e as pedras soltas de uma capela em ruínas.
A pátria inteira que nossos passos conheciam. Todos sonhos que, no sono, se aconchegam, voltaram a ser possíveis.
E, vencendo o tempo que passou,
o destino recomeça.
Somos quem sempre fomos.
As mesmas palavras de sempre,
as ingénuas palavras de um amor adolescente. De quem não perdeu o sentido dos gestos.
Nunca mais voltámos ao parque da cidade,
à beira rio, a esse pequeno recanto
onde vivemos o fluir das águas
que prometiam um lugar no mar sem fim.
E não sei se poderei retomar
as rotas inacabadas.
Se o corpo da paisagem ainda resguarda
os sinais da viagem prometida.
Fiquei à espera. Ainda hoje estou à espera.






Entre nós e o passado,
passos e passos de conversa,
entre as casas vazias
de uma cidade que já não há.
Foi num desses domingos,
ao cair da tarde,
peregrinando sonhos
e sítios do passado.
A cidade nos deu saudade
e, pouco a pouco,
as mãos se foram dando