Aqui na praia do Lizandro
Respiro fundo, olho as gaivotas, a espuma e as velas de um barco que ao largo vai passando. Deixo que o sol me fustigue. Guardo seu calor para o inverno da cidade. São horas de regressar.
O poeta, por vezes, apenas descreve sentimentos,
as paisagens íntimas que observa,
observando-se.
Especialmente quando a vida é tão intensa
que apenas apetece vivê-la
Outras vezes é a própria palavra
explodindo por dentro de si mesma.
Quando surgem palavras automáticas
em ritmo febril.
Palavras em catadupa
que a caneta não consegue reter.
Mas a poesia também acontece
quando glosamos palavras que já foram escritas, quando versos sobre versos
aperfeiçoam versos imperfeitos
que outrora nos vieram.
Pedaços, restos que procuramos retomar,
quando o mesmo sentimento se apodera de nós.
Hoje, não.
Aqui na praia do Lizandro, diante do mar,
sentado na areia molhada da manhã,
os versos saem, nesta solidão de estar aqui,
tentando vencer a saudade.
Aqui neste lugar onde, sonho quem sou,
pensando os sonhos que esta noite me atormentaram, os sonhos que lembrei, ao acordar.
Agora, apenas o prazer de estar aqui
no silêncio desta praia deserta.
O prazer de sentir o sol doirar meu corpo
O prazer de molhar os pés depois de uma longa caminhada.
O prazer de estar aqui a escrever sozinho
estas coisas que apetecem.