Chamar Deus ao que me cerca
Se não existisse Alberto Caeiro, tinha-o inventado hoje, porque senti Cesário Verde em mil novecentos e setenta e quatro. É que os prados não desapareceram, apesar da poluição, dos jornais censurados e da Skylab qualquer coisa. Eu é que hei-de morrer um dia. Mas, francamente, não me apetece descobrir para onde vou, porque ainda caminho e o caminho em si apetece.
De vez em quando apetece
trocar a ordem das coisas,
mexer e remexer
na paisagem que me rodeia,.
Fugir à prisão dos meus sentidos:
inventar novas cores
para além do arco íris
e descobrir novas flores
que os compêndios não coligem.
Viver meu pensamento
e chamar Deus ao que me cerca,
sentir o todo de uma impressão
sem analiticamente descrever pássaros.
Copyright © 1998 por José Adelino
Maltez. Excerto do livro inédito "Escritos Inúteis".
Todos os direitos reservados. Página revista nesta edição para a
Internet, em: 15-12-1998