Retomar o sentido dos gestos

 

O sol destes fins de tarde vai tisnando
os pálidos corpos da invernia. E as cores do nevoeiro fazem apetecer sol. Não, ainda não perdi o sentido dos gestos, ainda sou capaz de sonho e meu corpo sustentará o peso do passado. Guardo em segredo, uma força que não sei, a força de dizer sol, de dizer mar, de dizer pinhal, a força de ser quem sou.  Sonho, o corpo sustentando dias passados.  O corpo frente à sombra e os músculos de carne, rasgando pedras e penhascos. Há uma força que não tem tempo, que não tem fim, uma força que vai além de mim. A força de ser, de reviver, de relembrar, para devir.

 

Deixa que o silêncio sugira
as palavras que em surdina
me apetecem.
Deixa que os gestos recobrem
o sentido da pureza primitiva.
Essa força antiga
que a cinza do tempo não amaina.
Que os gestos possam traduzir, secretos,
o signo para que fui talhado.