Vago remanso dos meus dias,
No sossego da madrugada, quando repenso meus passos, há um sertão de palavras para
desbravar. Quando a noite não é noite nem é dia e farrapos de nevoeiro anunciam nova
manhã, meu amor secreto e proibido sobre lençóis de musgo e trevo e essências de
hortelã. Solidão, silêncio e medo.
Vago remanso dos meus dias,
quando as horas deslizam num suave entardecer
e palavras de ternura me sitiam mansamente.
Olho através da janela farrapos de luz
fugindo com o poente.
As pálpebras do tempo se fecham mansamente
e meu corpo cansado vai também adormecendo.
Pouco a pouco, me vou esquecendo.
A terra inteira é um berço,
balouçando no vaivém do tempo.
Saem traineiras da barra assobiando
e o chlope chlope da proa vai cortando
o rendilhar das ondas,
enquanto os carros regressam à cidade
lentamente.
Vendo e pensando, já não sei se estou sonhando.
As mãos não conseguem escrever
e a cabeça de tão leve vai pesando.
É a noite que vem chegando.
A brasa do dia que se apaga
neste poente sem nuvens
com o sol poisando suavemente
na curva do horizonte.
A noite crescendo sorrateira
por entre farrapos de trevas
desprendidos de nascente.
Amanhã, a manhã virá
de onde as trevas estão chegando.
Outro dia igual aos mais
que, dia a dia, vou passando