A SEMENTE DO POEMA

Hoje o poema não é para recitar
mas segredo de que não sei a cor.
Hoje o poema resiste em surdina
num reino que não é de palavras.




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Entre passado e presente
hei-de retomar a semente
do poema por fazer
(tenho os versos todos prestes
no vulcão do meu ser).

Expatriar da memória
restos de velhos poemas
já sem data nem pretexto
que retomo, refaço
e onde imerso me confondo

E sempre o mistério da poesia,
esta acção de me escrever
descrevendo meu passado,
este ser que vou sofrendo
procurando aperceber-me
de quem fui, mas já não sou.

Poesia, este sacrário de signos
que dia a dia trago comigo
estes destroços de mim mesmo
que vão enchendo gavetas
com resmas soltas de papel.