DESTE LUGAR QUE NAO TEM LUGAR
Sou deste lugar que não tem lugar,
deste sítio de ficar por ter de estar,
terra pátria, meu chão de sonho,
donde sempre ousei partir,
a prometer voltar.

Memória dos dias em que fui feliz, quando, amando-te, eu não pecava...
Agora o peso do passado morto feito lodo nos meus braços.
Sou tanto tempo de ausência por teu ser que já nem sou apenas eu, mas espera e parte do teu ser.
Minhas folhas murcham de saudade e o remorso de não sermos enfraquece estes restos de sonho que resistem.
Aqui me dói sobre um chão que não é meu.
Quem me dera ter vinte anos de primavera nestes dias de inverno, deixar escorrer entre os meus dedos a areia longa do tempo..
Já não sei poemas da emoção de quem descobria um mundo novo. Queria respirar distância, sentir o horizonte até ao fundo dos meus olhos.
Hei-de vencer o mar que nos separa, seguir de barco em busca de um novo mundo.
Ser um Mayflower qualquer que me dê a Pátria Prometida, p. que procuro do outro lado do mar.
Sei das palavras secretas que dentro de mim gravitam e dos passos proibidos que no passado pequei.
Quis fugir da noite que, tentadora, me perseguia, mas seus braços de trevas logo me enrodilharam

Pinheiro postado numa paisagem de mar,
português de Portugal,
fundas raízes revolvendo
a terra da memória.

É a voz de meus avós
que dentro de mim ecoa
a voz de meus avós
por minha voz falando.
Palavras secretas, rituais
que irrompem do passado.
Os poetas de antanho
que antes de mim sofreram
a pátria que agora sinto.

Continuo a ser quem fui,
menino de olhos fundos
com ânsia de descobrir mundo.
Sobretudo, a força da alegria
na memória dos dias em que fui feliz.