ENTREVERSOS, ENTRELINHAS
Quantos poemas se não esvaem
pelos interstícios do tempo...
Quantos corpos desertos à procura de mar!
Quanta terra seca à procura de chuva!
Entre o ser e o não ser,
sempre um espaço vazio
para meu sonho preencher...
A palavra será o porquê da caminhada. A vida virá depois.
Ser abelha do poema e noutros poetas procurar o pólen das minhas próprias palavras.
Palavras com que procuro tecer meu ser.
Quantos poemas por fazer
nas entrelinhas de um verso
Quantos poemas acontecem
sem nada que os detenha:
uma folha branca de papel,
ou um simples pedaço de jornal.
Nada a não ser assobiá-los
para depois deles me lembrar.
De versos me visto, revisto,
e assim disperso procuro
entretecer quem sou,
sorvendo quem hei-de ser.
Sempre versos diversos
com que procuro universo
sobre o meu próprio reverso.
E verso a verso,
tecer meu ser,
palavra a palavra, soletrar
o mistério de quem sou
mas que não sei dizer.