NA TEIA DO POEMA
Escrever tem que ser sempre peregrinar a memória, retomando a semente dos poemas por
fazer. Este passadismo permanecente, sofrendo o amanhã neste presente, estas pedras
palavras desencontradas que dia a dia hei-de erguer comigo para o poema ganhar sentido.
Os dias teço, entreteço
e na teia que refaço, desfaço,
por onde me perco, não acho.
Na teia do poema
onde meu signo procuro
é a esperança que se ateia.
Palavra a palavra
regresso num abraço.
aos infindáveis dias
do poema por fazer.
Ato e desato a seda
o fio de lira
que levemente sustenta
meu delírio.
Na teia longa do poema,
me diluo, me revolvo
e, de passado e futuro,
é meu ser que vou tecendo.
Esta saudade de que sou
sinal permanecente.