SENTINELA DE MIM MESMO>
Entre sossego e revolta,
pelas estradas da noite,
sem sombras onde me acoite,
vou fugindo de mim mesmo.
Sorvendo vou a vaga que das veias se desprende e nos inunda e nos enleia. Sorvendo
vou a voz inteira, sorvendo vou em mim este mais além que pensa. Sorvendo vou as trevas
da noite e nelas me diluo, me dissolvo, nelas me prendo ao próprio movimento. Sou a onda
e o vento, a nuvem que circunda.
As subjectivas trevas que, dia a dia, construo. E voando me prendo ao próprio movimento
de voar. Sombra, porque há sol e um corpo opaco lhe dá resistência.
Suspenso neste silêncio,
sentinela de mim mesmo,
os sentidos todos sustenho.
Há uma qualquer vaga
que das veias se desprende,
muito leve, lentamente.
E sua voz inteira
nos inunda e nos enleia.
As trevas da noite
vou sorvendo
e assim diluído
me dissolvo inteiro.
Sempre a nuvem que circunda
e que voando me prende
ao seu próprio movimento.
Suspenso, hirto de medo
da própria sombra
me vou temendo:
sempre um corpo contra o sol
sem a transparência do vidro
translúcidos apenas são
os olhos com que nos vemos.
18 de Maio de 1981