Sem versos que nos despertem

Fomos folhas sem destino

Minha geração perdeu-se em crenças e descrença

Sem vozes que nos congreguem,

sem termos raiva nem esperança, cobardes nos vamos perdendo nas sombras longas da invernia.

E os fáceis vencedores, em vingança vão crescendo, arreganhando seu desdém.

Sem versos que nos despertem, dispersos, vamos minguando à sombra doentia das montanhas a que subimos no passado. E os lobos esfaimados em pleno dia nos perseguem. Sem seiva que nos sustente minha geração se vai perdendo na crença de só haver descrenças. Feitos folhas sem destino, vamos ao sabor do vento sem norte que nos dê rumo.

Inventar mar e madrugada

nas horas mais amargas do meu ser.

Suster o peso do sonho

326, Sem versos que nos despertem, Pátria prometida, p. 84.2 (20.12.74)