Respublica     Repertório Português de Ciência Política         Edição electrónica 2004

||Home

ANO:1848


SUMÁRIO:
Destaques Cronologia Acontecimentos Bibliografia Personalidades Livros do Ano Falecimentos e Nascimentos

I – DESTAQUES

PORTUGALMUNDO

Política

· Criada a comissão revolucionária de Lisboa (Maio)

·

· Primavera dos Povos

· Manifesto Comunista

· Revolução francesa (Fevereiro)

· Golpe de Luís Bonaparte, em França (Dezembro)

Ideias

· A República. Jornal publicado sob a invocação do lema Republica circumit orbem. Tem como subtítulo Jornal do Povo.

 

· Christian Socialists. Movimento protestante de cristianismo social, chefiado por Charles Kingsley, Frederik Maurice e John M. Ludlow. Visa a criação de escolas, associações operárias e cooperativas de produção e consumo. Considera que em primeiro lugar está a reforma moral, mas aceita a linha quase filantrópica do socialismo associacionista de Owen.

· Buchez. Deputado desde 1848, chega a ser presidente da Assembleia Constituinte de 5 de Maio a 6 de Junho do mesmo ano. Considera o catolicismo e a Revolução Francesa como dois dos pilares do progresso, criticando o individualismo protestante e defendendo a síntese da caridade e da fraternidade. Propõe a constituição de cooperativas de produção, uma remuneração segundo as obras produzidas e um poder forte que, ajudado pela science sociale, estaria ao serviço de le but commun. Um dos teóricos do federalismo, defendendo uma república democrática, integrando associações de produtores.

· Clericalismo Termo com significado polémico que entra na luta política principalmente pelo uso do seu contrário, o anticlericalismo. Os dois apenas começam a ser usados a partir de 1848.

· Comte funda a Sociedade Positivista

· Marx depois de 1848, terá tentado abandonar as categorias hegelianas e, ao descobrir o empirismo inglês, deuse como objectivo fundar uma verdadeira ciência do socialismo. Já no fim da vida teria tentado voltar para o utopismo neo-jacobino da juventude, quando sentiu o malogro dos primeiros volumes de Das Kapital, que não chegou a concluir. E teria sido Engels que lhe deu um sistema totalitário e grosseiro. Durante este ano, volta a Bruxelas, passa a França, entre Março e Junho, e vai para Colónia, onde funda um jornal revolucionário.

· Ocidentalismo. Movimento reformista russo nascido na tempo de Nicolau I e que se opunha aos eslavófilos. Destacaram-se Herzen e outros socialistas que seguiam Saint-Simon e Proudhon. Dissolveu-se em 1848, em virtude de ferozes perseguições policiais.

· Feminismo. Em Inglaterra, surge a primeira grande reivindicação de Elizabeth Cady Stanton, na Declaração de Sentimentos. Já antes Mary Woollstencraft em Vindictation of the Rights of the Women de 1792 esboçara o modelo.

· Janet, Paul (1823-1899). Historiador francês da filosofia moral, respondendo a um concurso da Academia das Ciências Morais e Políticas Um dos primeiros a utilizar o nome de ciência política, embora como sinónimo de filosofia oral.

· Lamennais, Felicité, funda o jornal Le Peuple Constituant.

II – CRONOLOGIA

NACIONAL

· Janeiro

8 Brigadeiro Fernando da Afonseca Mesquita e Sola, Barão de Francos, ministro da guerra, em vez de Saldanha. Fronteira chegou a ser convidado, mas recusou

- Protesto de alguns pares do reino a Guizot, sobre o acto eleitoral. Bernardo Gorjão Henriques, assumindo efectivamente a pasta de 21 de Janeiro de 1848 a 21 de Fevereiro seguinte. O memso Fronteira observa que os cavalheiros que compunham o Ministério eram probos e a maioria era de homens instruídos; contudo, apenas tinha dois homens capazes de administrar: Gomes e Castro e Falcão.

28 Alguns antigos chefes da Junta do Porto escrevem a Guizot, protestando contra o acto eleitoral. Segundo Fronteira, Queirós era de tanta idade e vivia tão retirado que todos nós o reputávamos morto. Assim, mantendo-se ausente, foi logo substituído pelo ministro do reino.

· Fevereiro

21 D. José Joaquim de Azevedo e Moura, bispo de Viseu, no ministério dos negócios eclesiásticos e justiça, em vez de Joaquim José Queirós (até 29 de Março de 1848)

· Março

29 Remodelação. Saldanha no reino em vez de Gorjão (até 1 de Junho de 1849). João Elias da Costa Faria e Silva, ministro dos negócios eclesiásticos e justiça, em vez do bispo de Viseu (até 29 de Janeiro de 1849); José Joaquim Januário Lapa, Visconde Vila Nova de Ourém na marinha e ultramar, em vez de Albano.José Joaquim Gomes de Castro nos estrangeiros, até 18 de Junho de 1849 (substituído por Saldanha de 3 de Maio a 1 de Junho de 1849, por doença)

· Maio

17 Criada uma comissão revolucionária de Lisboa com Oliveira Marreca, Rodrigues Sampaio e José Estevão. à comissão aderem Casal Ribeiro, Henriques Nogueira, Anselmo Braamcamp. Luís Augusto Palmeirim e Lobo de ávila

· Ainda em 1848...

- Fundação da Ordem de S. Miguel da Ala. Sociedade secreta miguelista, presidida pelo próprio rei exilado, que dura de 1848 a 1859. Tão secreta que só veio a ser conhecida em 1868, a partir de um artigo de Martins de Carvalho no jornal O Conimbricense.

INTERNACIONAL

· Março

5 Em Itália, Carlos Alberto abandona o modelo da legitimidade da Santa Aliança, concedendo uma carta constitucional.

- Mazzini, marcado pelo ideal, simultaneamente nacionalista e europeísta. regressa ao seu país, onde dirige a revolta de Nápoles contra os austríacos, passando, depois, para a Toscânia e para Roma.

- Kossuth, Lajos (1802-1894) Político húngaro. Começa como jornalista político, sendo preso de 1837 a 1840. Enquanto Ministro das finanças, depois da Revolução ocorrida neste mês, procura uma ruptura com Viena, favorecendo a criação de um exército nacional. Presidente do comité de defesa depois de Setembro desse ano. Derrotado depois da intervenção russa ao lado dos austríacos.

· Setembro A Confederação Helvética, com 22 cantões soberanos, em regime de neutralidade transforma-se num Estado federal. Durante este mês surge uma nova constituição que estabeleceu um modelo de Estado federal, aprovada por referendo, com 1 897 887 votos favoráveis contra 293 371; o modelo de Estado Federal foi reforçado pela revisão constitucional de 1874

· 2 de Dezembro Golpe de Estado de Charles Louis Napoléon Bonaparte (Napoleão III-1808/1873) Presidente da República de 1848 a 1852. Montalembert, religioso, deputado em 1848, apoia o golpe, mas logo passa à oposição, sendo das raras vozes que como tal podem manifestar-se no Corpo legislativo do II Império, até 1857. Chega a declarar em 1852 que em regime parlamentar os católicos deveriam contar apenas com eles mesmos.

· Ainda em 1848...

III - ACONTECIMENTOS DO ANO

Manifesto Comunista No ano de 1848, é elaborado o célebre Manifesto, escrito por Marx a partir de um esboço feito por Engels.

Subscritores do Manifesto do Partido Comunista de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels, poderiam filiar-se no universo daquele idealismo absoluto que proclama deverem as ideias ser separadas da matéria. Ou a inserir o socialismo científico nas teias daquela utopia que fugia do real. Importa, portanto, situar o comunismo no tempo e no espaço, e procurá-lo ao nível das realizações históricas que invocaram os modelos de Marx e de Engels. Saliente-se contudo que a ideologia comunista, apesar de tar como criador Karl Marx, depressa se transformou numa criatura que se libertou do criador, constituindo um sistema abstracto recriado pelos glosadores e comentadores do mestre que foi gravitando em torno de uma sede de poder, o Estado Soviético, corporizado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Repetir o Manifesto Comunista de 1848, considerando que o direito é o conjunto das regras de conduta que exprimem a vontade da classe dominante, legislativamente estabelecida, e ainda dos seus costumes e das regras de convivência sancionadas pelo poder estatal, e cuja aplicação é garantida pela força coerciva do Estado a fim de tutelar, sancionar e desenvolver as relações sociais e os ordenamentos úteis e convenientes para a classe dominante. Assim, proclamava que, no caso do seu país, o direito é um sistema de normas estabelecidas com força de lei pelo Estado dos trabalhadores, e expressão da vontade de todo o povo soviético, orientado pelas classes trabalhadoras chefiadas pelo partido comunista para a protecção, desenvolvimento e fortalecimento das relações socialistas e formação de uma sociedade comunista. E o ministro hitleriano da justiça, no congresso do partido nazi

 

Primavera dos Povos de 1848 Outro impulso para os nacionalismos europeus foi dado pela Revolução de 1848 em França, que instituiu a Segunda República, fazendo cessar a Monarquia de Julho, que vigorava desde 1830. Neste processo foi particularmente afectado o Império da áustria, instituído em 1804, que era particularmente sensível à questão das nacionalidades, dado que, dos 48 milhões de súbditos do Imperador, cerca de 28 milhões constituíam minorias nacionais. Com efeito, o rastilho da Revolução de Fevereiro de 1848 incendiou imediatamente o Império herdeiro do Sacro Império Germânico, sucedendo-se revoltas liberais e nacionalistas na Hungria, em 3 de Março, e na Boémia, em 11 de Março. Com efeito, em 18 e 19 de Março dá-se, também, uma primavera dos povos em Berlim. O rei da Prússia Frederico-Guilherme IV que já no anterior tinha prometido uma reforma constitucional pela convocação de uma dieta, põe-se logo à frente do movimento, prometendo ao povo prussiano uma constituição e uma assembleia eleita por sufrágio universal. As revoltas lastram por outras zonas da Alemanha. Assim, logo em 18 de Maio, reúnia, em Francoforte, um parlamento eleito por sufrágio universal, o qual imediatamente proclama a necessidade de passar-se da Confederação para um Estado Federal, um Bundestaat em vez de um Staatenbund. Neste sentido, em Junho é imediatamente constituído um governo federal provisório sob a presidência do arquiduque João de Habsburgo que assume o título de vigário do Império. Contudo, no seio do parlamento, os partidários de uma pequena Alemanha, sem a áustria e sob a direcção da Prússia, opõem-se aos defensores de uma grande Alemanha, com a áustria e sob o comando dos Habsburgos.

Se num primeiro momento o Imperador cede às reinvidicações nacionalistas pela criação de ministérios próprios, responsáveis perante Dietas nacionais, eis que o processo acaba por ser invertido, a partir de Junho, nomeadamente na sequência do congresso de todos os povos eslavos do Império que se desenrolava em Praga e que terminou de forma brutal - a chamada insurreição do Pentecostes. Entretanto, os húngaros insistem no separatismo e em 14 de Abril de 1849 proclamam a sua independência plena. A tentativa de liquidação do novo Estado vai ser extremamente violenta, sendo o país atacado em todos os quadrantes: a norte e noroeste pelos austríacos; a sul e sudoeste pelos sérvios e pelos croatas, que viam, igualmente, o nacionalismo a emergir no seu país sob a batuta de Josip Jelacic, que assume a oposição aos secessionistas húngaros. A resistência magiar vai cessar quando entram em cena os russos, chamados pelo Imperador Francisco José, sendo os húngaros obrigados a capitular depois da derrota de Vilagos, ocorrida em 14 de Agosto de 1849. Mas nem tudo se perdeu, dado que o Imperador foi obrigado a ceder às pressões autonomistas dos húngaros que se concretizaram pelo chamado Compromisso, negociado entre o chanceler austríaco Beust e o líder moderado húngaro Francisco Deak e assinado em 28 de Junho de 1867. Segundo o documento referido, a Hungria passa a ser um reino plenamente independente e hereditário, que é atribuído à família dos Habsburgos. Assim, de acordo com o sistema da união pessoal, o rei dos húngaros tinha de ser coroado em Budapeste, onde exerceria o poder executivo, assistido por um governo húngaro responsável perante a Dieta Nacional, eleita por sufrágio censitário. O antigo Império da áustria passava, portanto, à estrutura dualista do Império Austro-Húngaro, marcado pelo princípio então designado do K.u.K., isto é, Kaeserlich und Kõniglich, imperial relativamente à áustria e real quanto à Hungria, apenas existindo uma administração comum quanto aos ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Guerra e das Finanças. Surgia assim a Monarquia do Danúbio, dividida ente uma Cisleithania - o Império da áustria - e uma Transleithania - o Reino da Hungria - , nomes tomados do Rio Leithes, pequeno afluente da margem direita do Danúbio que passou a servir de fronteira entre as duas novas unidades políticas. Acontece que o exemplo de autonomia húngara vai estimular outras nacionalidades a reivindicações semelhantes, com destaque para os croatas, no quadro húngaro, e para os checos, no quadro austríaco. Assim, os croatas, em 1868, obtêm um tipo de dualismo no seio do próprio reino húngaro, passando a ter em Zagreb uma Dieta Nacional Também os checos vão tentar obter a sua autonomia: uma Declaração de 22 de Agosto de 1868 reconhece-lhes os direitos históricos e um Rescrito de 14 de Setembro de 1871 chega a instituir um Estado triplo, austro-húngaro-boémio. Contudo, esta concessão de autonomia aos checos vai gerar a oposição do Império Alemão e não obtém a concordância dos húngaros, pelo que o Rescrito é dado sem efeito, mantendo-se o hibridismo anterior.

Acontece também que vai chegar a Itália o choque da primavera dos povos que assume particulares dimensões na Lombardia, onde em 22 de Março de 1848, e instaura uma república em Milão; aproveitando as circunstâncias o Piemonte de Carlos Alberto assume a liderança do processo e trata de declarar a guerra à áustria, proclamando então que a Itália se libertará por si mesma (L'Italia farà da se). Contudo, Pio IX vai deitar água na fervura quando, em 29 de Abril, sob o pretexto de condenar qualquer guerra entre cristãos, não apoia a luta dos italianos contra os Habsburgos. Aliás o próprio movimento de revolta cresce entre os Estados pontificais. Nos finais de 1848, em Roma, o primeiro-ministro do Papa é assassinado, Pio IX é obrigado a fugir para Gaeta e os mazzinianos tomando a ofensiva chegam a proclamar uma república em 9 de Fevereiro de 1849.

O Piemonte, no entanto, vai alastrando e entre Junho e Julho de 1848 estende-se a Parma, Modena, a toda a Lombardia e a Veneza. Contudo, entre 23 e 25 de Julho, Carlos Alberto é derrotado na batalha de Custozza e é obrigado a abandonar Milão, nos termos do armistício de Salasco, assinado em 9 de Agosto. No ano seguinte volta entretanto à guerra, mas em 23 de Março, sofre nova derrota na batalha de Novara, abdicando em pleno campo de batalha a favor do filho Vitor Emanuel II, Il Re Galantuomo.

 

República ocidental Augusto Comte (1798-1857), no Catecismo Positivista de 1848, vai depois propor a criação de uma República Ocidental, com as cinco grandes potências do Ocidente (França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália e Espanha), associadas às nações escandinavas, à Holanda, á Bélgica, a Portugal e à Grécia, um conjunto que, depois, se estenderia a doze outros países considerados coloniais, nos quais incluía os Estados Unidos da América e várias nações sul-americanas. Haveria na grande República ocidental uma divisão em sessenta repúblicas independentes, que só terão verdadeiramente em comum o regime espiritual. Nela jamais surgirá autoridade temporal capaz de mandar em toda a parte, como o inútil imperador da Idade Média, que não passou, em relação ao sistema católico, de um resquício perturbador, empiricamente emanado da ordem romana. Cada nação conservaria a respectiva bandeira, mas em cada uma delas se inscreveriam as divisas positivistas, de um lado, ordem e progresso, do outro viver para outrém. Surgia assim um projecto confederativo, dirigido por um comité, onde inicialmente estariam oito franceses, sete ingleses, seis alemães, cinco italianos e quatro espanhóis. A capital seria em Paris, mas quando a confederação fosse alargada, o centro passaria para Constantinopla. Haveria uma marinha e uma moeda comuns e uma das espécie teria até o nome de Carlos Magno. Comte considerava, no entanto, que o sentimento nacional ainda constituía o verdadeiro intermediário entre a afeição doméstica e o amor universal. Nesta base, referia expressamente que Portugal e a Irlanda, se não surgir nestes qualquer divisão, formarão no começo do próximo século as maiores repúblicas do ocidente. A sua intenção era a de restringir a santa noção de Pátria, que se tornou demasiado vaga e consequentemente quase estéril entre os modernos, dada a exorbitante extensão dos Estados ocidentais. Considera que uma população de um a três milhões de habitantes constitui a extensão que convém aos Estados verdadeiramente livres, pois só assim se hão-de classificar aquelas cujas partes estão todas reunidas sem qualquer violência pelo sentimento espontâneo duma activa solidariedade. O prolongamento da paz ocidental, ao dissipar os receios sérios de invasão exterior, e mesmo de coligação retrógrada, não tardará em fazer sentir por todo o lado a necessidade de dissolver pacificamente certas agregações fictícias, e definitivamente desprovidas de verdadeiro interesse. Assim, prevê que antes do final do século XIX, a República Francesa achar-se-á livremente decomposta em dezassete repúblicas independentes, cada uma delas formada por cinco departamentos actuais.

II República Francesa (1848) Instaurada em 24 de Fevereiro de 1848, depois da queda da monarquia de Julho, durante o governo de Guizot. Logo em 26 de Fvereiro, perante a grave crise de miséria social, o governo cria os ateliers nationaux. Nas eleições de Abril de 1948 surge uma maioria de republicanos moderados, ditos parti de l’ordre. Os elementos mais radicais, ligados aos socialistas revoltam-se durante as chamadas journésés de Juin, mas são esmagados por Cavaignac e cerca de 4 000 são deportados para a Argélia. Emitem a Constituição de 1948, estabelecendo o sufrágio universal e a eleição de um Presidente da República por quatro anos. Mas em 10 de Dezembro de 1848 já eleito Luís Napoleão. Este, dirigindo-se directamente ao povo, passa por cima da assembleia, considerada muito conservadora. Em Julho de 1851 estabelece uma revisão constitucional que reforça os poderes do presidente. Em 2 de Dezembro de 1851 faz um golpe de Estado, no sentido presidencialista, modelo que é aprovado por plebiscito de 21 de Dezembro de 1851. Não tarda que seja instaurado o Império em 2 de Dezembro de 1852.

Bonapartismo Pode ser entendido como movimento político histórico, como sistema de governo e como conjunto de ideias políticas. Como movimento político histórico, foi aquele que apoiou a eleição de Luís Napoleão em 1848. Como sistema de governo essa mesma personalidade da história francesa instituiu o centralismo como sistema de governo, com os representantes das províncias a serem nomeados pelo poder central, e adoptou o populismo, num misto de autoritarismo e soberania do povo. Guizot, um dos epígonos do movimento, defendeu a autoridade como garantia da revolução. De qualquer maneira, se admitiu formas de representação parlamentar, sempre as fez depender do poder policial e militar. Assumiu sobretudo o diálogo directo entre as massas populares e o líder, considerado um representante directo de uma soberania popular una e indivisível, utilizando frequentemente o sistema do plebiscito. O movimento está próximo do futuro gaullismo. O bonapartismo está assim próximo dos conceitos de cesarismo e usurpação. Há quem o alargue a outras experiências históricas, desde a de Napoleão I ao gaullismo, passando pelo próprio modelo da revolução a partir de cima gerada por Bismarck, salientando o facto de se assumir como uma ditadura modernizante. Em Portugal, alguns analistas políticos referiram o eanismo como um bonapartismo democrático.

Centrismo Atitude política dos que procuram distanciar-se dos extremismos da direita e da esquerda. O primeiro partido centrista foi o Zentrum alemão, surgido em 1848 no parlamento de Frankfurt. O partido alemão de inspiração católica, assume-se como frontal oposição à política da Kulturkampf liderada por Bismarck. Mas logo apoia o chanceler quando este lança a política de socialismo de Estado, a partir de 1879. Obtém, nas eleições de 1890, 100 dos 374 lugares do Reichstag. Entram na coligação governamental com os conservadores de 1893 a 1906. Contrários à política colonial de Bulow. Participam em 19 dos 21 governos da República de Weimar. Dissolvido por Hitler em 5 de Julho de 1933.

Checoslováquia Em 1848 formou-se em Praga o comité de S. Venceslau que reclamou a constituição de um Estado checo independente; outra facção dos checos, reunida no congresso pan-eslavo do mesmo ano, apenas defendia autonomia política e cultural dentro do Império. Bakunine não deixava de assumir o eslavismo. Num congresso eslavo realizado em Praga chegou a declarar: sinto bater em mim um coração eslavo de tal maneira que comecei quase por esquecer todas as simpatias democráticas que me ligavam à Europa Ocidental. Assim, em Dezembro de 1848, publica em Leipzig um Apelo aos Eslavos onde propõe uma federação dos eslavos dentro de uma federação geral das repúblicas europeias. Refira-se que, a este apelo, respondeu Engels, em 15 e 16 de Fevereiro de 1849, na revista Neue Rheinische Zeitung, com um artigo entitulado Paneslavismo Democrático, onde , marcado por uma clara eslavofobia, negava o direito dos povos eslavos a uma existência autónoma e desconfiava do próprio futuro de tais gentes.

IV – BIBLIOGRAFIA

AUTORES

OBRAS

BALMES, Jaime

Escritos Políticos

BASTIAT

L'état

BLANC, Louis

Le Droit au Travail

CAREY, Henri.Charles

The Past, the Present, the Future

CASAL RIBEIRO, J. M.

O Soldado e o Povo

CHATEAUBRIAND

Mémoires d'Outre Tombe (1848 - 1850).

COMTE, Auguste

- Appel au Public Occidental, 1848

- Discours sur l'Ensemble du Positivisme

Ou Discours Préliminaire, in vol. I do Système.

DARWIN, Charles

The Voyage of the Beagle

D'AZEGLIO, Luigi Taparelli

Esame Critico degli Ordini Rappresentativi nella Societè Moderna

DONOSO.CORTéS, Juan

Discurso sobre la Dictadura

FERRãO, Silva

Repertorio Commentado sobre Foraes e Doações Regias

2 vols., Lisboa, Imprensa Nacional, 1848.

HILDEBRAND, Bruno (1812-1878)

A Economia Nacional no Presente e no Futuro, 1848.

MARX, Karl;

ENGELS, Friedrich

Manifest der Kommunistischen Partei, Londres, 1848 (Manifesto Comunista) (com Friedrich Engels, 1848, ed. originária em alemão) (cfr. trad. port. Manifesto do Partido Comunista, in Obras Escolhidas, 3 tomos, Lisboa-Moscovo, Edições Avante-Edições Progresso, tomo 1, 1982; 1ª ed. em alemão, 1848; 2ª ed. em inglês, 1850)

RENAN

L'Avenir de la Science, Obra escrita em 1848, mas apenas publicada em 1890. Uma profissão de fé no cientismo.

RENOUVIER, Charles-Bernard

Manuel Républicain de l'Homme et du Citoyen, 1848

V - PERSONALIDADES DO ANO

Napoleão III (1808-1873) Charles Louis Napoléon Bonaparte. Presidente da República de 1848 a 1852. Imperador francês desde 1852. Filho de Luís Bonaparte, rei da Holanda e sobrinho de Napoleão I. Começa marcado pelas ideias de Saint-Simon e em 1839 ainda propõe uma associação europeia. Mesmo depois de subir ao poder ainda salienta a existência de uma missão europeia da França. Neste sentido, favorece a unificação da Itália e da Alemanha. Promove golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851, a que se seguem dois plebiscitos: no primeiro, assume-se como presidente durante 10 anos; no segundo, de 1852, passa a Imperador.

· Rêveries Politiques, suivies d'un project de Constitution

1832.

· Idées Napoléoniennes

1838.

· La Paix ou la Guerre

1843.

Comte, Auguste (1798-1857) Fundador do positivismo. Nasce em Montpellier, estuda em Paris na école Polytechnique. Colabora com Saint-Simon, de quem é secretário, de 1817 a 1824. Nunca consegue obter um lugar estadual de professor universitário, assumindo-se como um professor livre que vive, sobretudo, dos subsídios de discípulos. Começa as lições públicas do Cours de Philosophie Positive em 1826. Em 1826-1827, vive intensos conflitos conjugais e sofre uma crise mental. Só volta a leccionar em 1829, publicando o primeiro tomo do mesmo em 1830. A partir do encontro com Clotilde de Vaux em 1845, passa a considerar que o sentimento é superior à razão, defendendo a tríade família, pátria, humanidade. Clotilde morre logo em 1846. Em 1848 funda a Sociedade Positivista. Em 1851 publica o primeiro tomo do Système de Politique Positive. Aprova o golpe de Estado de Luís-Napoleão e vê-se abandonado pelo grupo de Littré.

1820 Sommaire Appréciation sur l’Ensemble du Passé Moderne; Tem uma primeira edição no Système Industriel de Saint-Simon, em 1820.

1822 Prospectus des Travaux Scientifiques Nécéssaires pour Réorganizer la Societé; Tem uma primeira edição no Système Industriel de Saint-Simon, em 1822.

1824 Système de Politique Positive; 1ª parte (1824) (reed. com outro título da obra de 1822). Saint-Simon publicou o trabalho sem nome do autor em Cathécisme des Industriels.

1825 Considérations Philosophiques sur les Sciences et les Savants; Obra publicada em Le Producteur de Saint-Simon.

1825 Considérations sur le Pouvoir Spirituel; Obra publicada em Le Producteur de Saint-Simon.

1830 Cours de Philosophie Positive; 6 vols., 1830- 1842.

1848 Appel au Public Occidental

1848 Discours sur l'Ensemble du Positivisme Ou Discours Préliminaire, in vol. I do Système.

1851 Système de Politique Positive ou Traité de Sociologie instituant la Réligion de l'Humanité

1851-1854.

1852 Cathécisme Positiviste ou Sommaire Exposition de la Région Universélle, en Onze Entretiens Systématiques entre une Femme et un Prêtre de l’Humanité; Trad. port. de Fernando Melro, Catecismo Positivista ou Exposição Sumária da Religião Universal em Onze Colóquios Sistemáticos entre uma Mulher e um Sacerdote da Humanidade, Mem Martins, Publicações Europa-América, s. d..

1854 Plan des Travaux Scientifiques Nécéssaires pour Réorganiser la Societé

1855 Appel aux Conservateurs

1856 Synthèse Subjective, ou Système Universel des Concéptions Propres à l’état Normal de l’Humanité. I. Système de Logique Positive, ou Traité de Philosophie Mathématique

Engels, Friedrich (1820-1895) Político e filósofo alemão. Fundador do marxismo. Escreve várias obras em conjunto com Karl Marx, sendo também co-autor do manifesto de 1848. Começa como hegeliano, convertendo-se ao comunismo em 1842, ano em que conhece Marx, por influência de Moses Hess. Fixa-se em Manchester entre 1842 e 1844, onde contacta com o movimento do chartism. Contacta com Marx em Paris, no ano de 1844, começando os dois numa colaboração que dura até 1883, ano da morte de Marx. Os dois elaboram o célebre Manifesto de 1848, escrito por Marx a partir de um esboço feito por Engels. Depois da morte de Marx, trata de editar o segundo e o terceiro volume de Das Kapital que Marx deixara sob a forma de esboços e notas.

· Die heilige Familie oder Kritik der Kritische Kritik, com Karl Marx, 1845.

· Die deutsche Ideologie, com Karl Marx, 1847 cfr. trad. port. A Ideologia Alemã, in Obras Escolhidas, 3 tomos, Lisboa-Moscovo, Edições Avante-Edições Progresso, tomo 1, 1982.

· Manifesto Comunista, com Karl Marx, 1848 cfr. trad. port. Manifesto do Partido Comunista, in Obras Escolhidas, 3 tomos, Lisboa-Moscovo, Edições Avante-Edições Progresso, tomo 1, 1982; 1ª ed. em alemão, 1848; 2ª ed. em inglês, 1850.

· Anti-Dühring, 1877.

· Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats, 1884. Cfr. trad. port. de João Pedro Gomes, A Origem da Família, da Propriedade e do Estado Lisboa, Edições Avante, 1986.

· Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassische deutsche Philosophie, 1888.

· Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, Trad. port., Lisboa, Editorial Avante, 1975.

 

Blanc, Louis (1811-1882) Jean Joseph Louis Blanc. Um dos socialistas utópicos. Funda em 1839 La Revue du Progrès. Defende, então, a criação de ateliers nationaux financiados pelo Estado e dirigidos por associações de trabalhadores. Colabora desde 1843 no jornal La Réforme. Entra para o governo em 1848, por pressão dos operários. Vive no exílio britânico de 1848 a 1871. Recusa a aderir à Comuna de Paris em 1871. Influencia as teses de Lassalle.

· Le Droit au Travail, 1848.

Lacordaire, Henri-Dominique (1802-1861) Antigo advogado, ordenado padre em 1827. Dominicano desde 1839, restabelece a ordem em França. Companheiro de Lamennais e Mamtalembert na fundação de L'Avenir em Outubro de 1830. Um dos militantes do liberalismo católico, líder da respectiva ala esquerda. Critica o individualismo. Célebre pelas conferências proferidas em Paris na igreja de Notre Dame. Eleito deputado em 1848. Considera-se um liberal impenitente e um peregrino de Deus e da liberdade.

Ribeiro, J. M. Casal (1825-1896) José Maria do Casal Ribeiro. Conde do Casal Ribeiro desde 1870. Depois de ter sido um revolucionário republicano em 1848, casa em 1851 com uma filha do barão de Quintela e passa-se para os regeneradores, de que é deputado e ministro. Deputado em 1851-1852; 1853-1856; 1857-1858; 1860-1861; 1861-1864; 1865; 1865. Par do reino desde 1865. Ministro da fazenda de 16 de Março de 1859 a 4 de Julho de 1860. Ministro interino dos negócios estrangeiros de 24 de Abril a 4 de Junho de 1860. Volta à pasta dos estrangeiros no governo da fusão, de 9 de Maio de 1866 a 4 de Janeiro de 1868, acumulando a das obras públicas, comércio e indústria de 9 de Maio a 6 de Junho de 1866. Como par do reino em 1884, é um dos opositores à lei eleitoral de Fontes e Barjona que veio alargar o sufrágio, anunciando a intenção de formar um novo partido, dito católico, apenas concretizado entre 1903 e 1910, com o partido nacionalista, liderado por Jacinto Cândido. Morre em 14 de Junho de 1896.

· O Soldado e o Povo

Coimbra, 1848.

· Hoje não é Hontem

Lisboa, Typographia de José Baptista Morando, 1848.

Renouvier, Charles-Bernard (1815-1903) Filósofo francês. Aluno da Politécnica, onde se forma em matemática. Tendo estabelecido a lei dos números, segundo a qual cada número é único e irrepetível, aplica essa ideia aos seres humanos. Em 1903, consagra a expressão personalismo, depois retomada por Mounier a partir de 1932. Um dos teóricos do republicanismo francês.

1848 Manuel Républicain de l'Homme et du Citoyen

1869 La Science de la Morale

1899 La Nouvelle Monadologie

  1. Le Personnalisme

VI - LIVROS DO ANO

Principles of Political Economy, 1848 Obra onde se atinge o apogeu da chamada Escola Clássica da economia, interseccionando-se, no plano meramente económico, com o utilitarismo de Bentham e o positivismo de Comte. Aí se sistematizam as leis que vão marcar o chamdo liberalismo clássico: a lei do interesse pessoal ou princípio hedonístico (cada individuo procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria), a lei da concorrência, a lei da população, a lei do salário, a lei da renda e a lei da troca internacional (o país mais pobre e menos industrializado beneficia sempre com a liberdade do comércio). Mill, no entanto, se é inteiramente liberal quanto à produção, defendendo o liberalismo concorrencial, considera que a justiça social, isto é a acção do Estado, pode intervir na distribuição: a sociedade pode submeter a distribuição da riqueza às regras que lhe parecerem melhores.

VII - FALECIMENTOS E NASCIMENTOS

FALECIMENTOS

NASCIMENTOS

ADAMS, John Quincy (1767-1848)

BALMES, Jaime Luciano (1810-1848)

BELINSKI, Vissarion (1811-1848)

CHATEAUBRIAND, François-René de (1768-1848)

GõRRES, Joseph (1776-1848)

LICHNOWSKY, Príncipe Félix (1814-1848)

ARRIAGA, José de (1848-1921)

BOSANQUET, Bernard (1848-1923)

BALFOUR, Arthur James, Conde de (1848-1930)

ENES JúNIOR, António José (1848-1901)

QUEIRóS, Francisco Teixeira de (1848-1919)

PARETO, Vilfredo Frederigo Marchese (1848-1923)

WINDELBAND, Wilhem (1848-1915)


Image
© José Adelino Maltez. Todos os direitos reservados. Cópias autorizadas, desde que indicada a proveniência: Página profissional de José Adelino Maltez ( http://maltez.info). Última revisão em: 08-04-2009 © José Adelino Maltez. Todos os direitos reservados. Cópias autorizadas, desde que indicada a proveniência: Página profissional de José Adelino Maltez ( http://maltez.info). Última revisão em: 08-04-2009