Respublica     Repertório Português de Ciência Política         Edição electrónica 2004


1925

 

Jan.  Fev.  Mar.  Abr.  Mai.  Jun.  Jul.  Ag.  Set.  Out.  Nov.  Dez.


Janeiro

2

Reconhecimento da URSS

O novo governo aprovou o reconhecimento do actual regime da Rússia (2 de Janeiro).

 

5

Conselho Económico e Social

Nomeado Norton de Matos embaixador em Londres, enquanto se institui um Conselho Económico e Social (5 de Janeiro).

 

7

Alerta contra golpe das forças vivas

Jornal A Internacional, em 7 de Janeiro, denuncia a iminência de um golpe das forças vivas.

 

10

Morte de António Sardinha

Morte de António Sardinha em 10 de Janeiro.

 

12

Reabertura do parlamento

Reabertura do parlamento em 12 de Janeiro. Cunha Leal discursa sobre Angola.

 

15

Apresentado o orçamento

Apresentação do orçamento em 15 de Janeiro.

 

17

Decreto bancário

 O governo vai ser agitado por um decreto de 17 de Janeiro em que se reformava o exercício das actividades bancárias que, entre outras medidas, afectava a independência do banco emissor.

 

17

Ezequiel de Campos e a reorganização fundiária

A novidade governamental passa pelo ministro da agricultura Ezequiel de Campos, com Sarmento Pimental como chefe de gabinete, que em 17 de Janeiro chega a apresentar uma proposta de lei de organização rural. A Batalha considera-a como burguesa e comedida. Ataques de Nemo em A Época.

Previsto o parcelamento das grandes propriedades agrícolas do Centro e do Sul, visando a constituição, em regime de propriedade privada, de unidades familiares.

 

19

Retalhistas contra a fiscalização excessiva

Associação de Retalhistas de Víveres ataca o governo pela fiscalização excessiva em 19 de Janeiro.

 

19

Oposição dos nacionalistas e das associações económicas

Logo no dia 19 Cunha Leal no parlamento considerava o decreto inconstitucional e os nacionalistas desencadearam uma guerra ao governo. Associaram-se aos nacionalistas a Associação Comercial de Lisboa e a própria assembleia geral do Banco de Portugal.

 

20

Medidas contra o desemprego e a mendicidade

O ministro do trabalho, João de Deus Ramos, em entrevista ao Diário de Notícias  de 20 de Janeiro, considerava que os graves problemas do país eram a crise do desemprego e a mendicidade nas ruas, referindo até que os prestamistas particulares praticavam juros de 120%. Neste sentido, o governo pôs em funcionamento a fábrica Stephens da Marinha Grande e permitiu a venda directa de stocks de lanifícios da Covilhã.

 

23

Vitória parlamentar do governo

Em 23 de Janeiro o governo obtém uma vitória parlamentar quando foi rejeitada uma proposta de suspensão do decreto apresentada pelo bonzo António Maria da Silva, para este baixar para estudo a uma comissão parlamentar (56-51).  Nesse dia o jornal A Ditadura critica a obra bolchevista do Ministro das Finanças.

 

24

Arrolamento de gados

Determinado o arrolamento de gados no continente.

 

25

Apoio ao governo de radicais e sindicalistas

Esboça-se, em 25 de Janeiro de 1925, a criação de uma frente comum de apoio ao governo, com socialistas, comunistas, CGT e Federação Nacional das Cooperativas.

 

29

Resistência do Banco de Portugal ao governo

Banco de Portugal em 29 de Janeiro decide recusar por todos os meios legais as reformas bancárias e cambiais do governo.

31

Alerta contra golpe das forças vivas

Em 31 de Janeiro a CGT recomenda ao proletariado de todo o país que se prepare para repelir por todos os meios o ataque das forças vivas. Já no dia 30 A Batalha considera que se vive uma hora de perigo. As forças vivas preparam uma violenta e brutal ditadura. O mesmo jornal em 5 de Fevereiro critica a União de Interesses Económicos: a guerra elevou muitos aventureiros à privilegiada situação de ricaços.

 

31

Congresso do partido radical

Em 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro reúne em Coimbra o congresso Inaugural do Partido Radical.

 

 


Fevereiro

2

Tumultos no parlamento

Sessão agitada na Câmara dos Deputados, no dia 2 de Fevereiro, com evacuação de galerias.

 

4

Ezequiel de Campos defende política de irrigação

Ezequiel de Campos, em 4 de Fevereiro, afima no Senado que o problema da irrigação no Alentejo podia resolver-se com 250 000 libras quantia esta que dá para aí a meia dúzia de revolucionários civis.

 

6

Dissolução da Associação Comercial de Lisboa e manifestação de apoio ao governo

Em 6 de Fevereiro o governo dissolve a Associação Comercial de Lisboa, há uma manifestação de apoio ao governo com uma tentativa de assalto a um posto policial em Lisboa. Apoio da CGT, dos socialistas e dos comunistas, contra os manejos das forças vivas. José Domingues dos Santos assiste à manifestação das janelas do ministério do interior e chega a dirigir-se aos manifestantes num discurso onde proclama: o povo tem sido explorado pelo alto comércio e pela alta finança. O Governo da República colocou-se abertamente ao lado dos explorados contra os exploradores. O Governo vai fazer uma grandiosa obra de saneamento moral! Lamento profundamente o acontecimento que se acaba de dar. Não quero que a Força Pública seja para fuzilar o Povo.

 

8

Comício de apoio ao governo

No dia 8, comício de apoio ao governo promovido pela Federação Nacional das Cooperativas reúne cerca de 20 000 pessoas.

 

11

Aprovada moção de desconfiança

Em 11 de Fevereiro é aprovada uma moção de desconfiança (45-65), apresentada por Agatão Lança, segundo a qual o governo afectou o prestígio da força pública, a disciplina militar e a ordem pública. A sessão foi agitada, com um deputado a atirar um copo à cara de outro. José Domingues dos Santos declara então: ficámos entendidos – a Câmara quer um governo que esteja ao lado dos exploradores contra os explorados, a Câmara quer um governo que espingardeie o povo.

 

13

Manifestação de apoio ao governo

No dia 13, surge em Lisboa uma manifestação de apoio ao governo que terá reunido cerca de 80 000 pessoas, promovida pela União dos Interesses Sociais. Há comícios em Faro, Évora, Figueira da Foz e Cascais. Entregue mensagem ao governo pela sua obra de ataque à s colectividades económicas.

 

14

Os perigos do regresso à monarquia e do bolchevismo

Em 14 de Fevereiro, em entrevista ao Diário de Notícias, proclama Brito Camacho: é preciso republicanizar a república, sob pena  de darmos um passo atrás e cairmos na monarquia, ou um salto em frente e cairmos no bolchevismo,

 

14

Bispos apoiam Centro Católico

Em 14 de Fevereiro, os bispos intervêm no confronto entre A Época e o Novidades dizendo que o CCP tem o apoio do episcopado e do próprio papa. Nemo abandona então o CCP e A Época transforma-se em jornal catolico, independente do Centro. Reacções contra os bispos: O Correio da Manhã considera a declaração dos bispos como uma impertinência política. O Comércio de Viseu, dirigido pelo visconde de Banho, põe-se ao lado de Nemo. Na Covilhã, um padre centrista chega a ser sovado por membros das Juventudes Monárquicas. O papa recusa recebr D. Manuel II.

 

16

Divisão dos baldios

Decreto sobre a divisão dos baldios em 16 de Fevereiro.

 

15

Governo de Vitorino Guimarães

Constituído o governo em 15 de Fevereiro.

 

15

Os vitorinos que nos governam

O gabinete era constituído por sete democráticos (juntando bonzos e canhotos), dois alvaristas (Xavier da Silva e Sampaio e Maia) e dois independentes (Pereira da Silva e Pedro Martins). Os vitorinos que nos governam, como então se dizia. Um cacharolete de democráticos, alvaristas e independentes, segundo a expressão de Cunha Leal. Até porque Vitorino Guimarães se situava na ala central do partido, não alinhando nem com bonzos nem com canhotos. Ainda era um gabinete concentracionista dirigido por um centrista dentro do partido democrático.

 

18

Nacionalistas abandonam a sala na votação do governo

Na votação do governo, no dia 18 de Fevereiro, os dezoito deputados nacionalistas abandonaram a sala, tendo o governo passado, por 63-3.

 

23

Suspensão do decreto bancário

Uma das primeiras medidas do novo governo, logo em 23 de Fevereiro, foi a suspensão do decreto bancário de 17 de Janeiro, numa cedência à s forças vivas.

 

 


Março

 

Congresso sindical

Primeiro congresso das Juventudes Sindicalistas

 

2

Motins em Valpaços

Motins em Valpaços contra o pagamento dos impostos (2 de Março).

 

 

Notas Alves dos Reis

Nesse mês começaram a circular as notas de Alves dos Reis.

 

4

Teófilo Duarte elogia o fascismo

Em 4 de Março, o tenente Teófilo Duarte elogia o fascismo italiano e critica o nosso socialismo de Estado, bem como o movimento das forças económicas  que se arrogam a pretensão de substituir as forças políticas na governança do Estado.

 

5

Tentativa de revolta

Em 5 de Março, três oficiais monárquicos (capitão Cal, tenente Mendes de Carvalho e alferes Martins Lima, todos afastados do exército por causa da revolta de Monsanto) tentam apossar-se do quartel general da guarnição militar de Lisboa.

 

7

Congresso dos nacionalistas. Integração de sidonistas

No Congresso do Partido Nacionalista, de 7 e 8 de Março, houve uma integração dos derradeiros  sidonistas que permaneciam independentes. Ataques a Teixeira Gomes e ao governo.

 

14

Homem Cristo proibido de conferenciar

Em 14 de Março o governador civil de Coimbra proíbe o jornalista Homem Cristo, filho, amigo de Mussolini, de realizar uma conferência.

 

20

Novo decreto bancário

Novo decreto bancário em 20 de Março.

 


Abril

10

Governo de esquerda em França

Governo do cartel das esquerdas em França, presidido pelo radical Edouard Herriot, anuncia a intenção do lançamento de um imposto sobre os lucros das empresas e as grandes fortunas.

 

18

Golpe dos fifis

Em 18 de Abril de 1925, nova revolta militar, liderada por Filomeno da Câmara e apoiada por Fidelino de Figueiredo (a chamada revolta dos fifis). Outros líderes militares são Raul Esteves, Freire de Andrade, Pedro José da Cunha e Jaime Baptista. 61 oficiais envolvidos.  Era a primeira vez, desde 1870, que uma revolta militar era comandada por oficiais generais no activo. Entre os conspiradores civis, Antero de Figueiredo, Carlos Malheiro Dias, José Pequito Rebelo e Martinho Nobre de Melo. O golpe teve o apoio da Cruzada Nun’Álvares. Tinha algumas semelhanças com o de Primo Rivera em Espanha.

 

18

Combates na Rotunda

Ocupada a Rotunda pelos revoltosos, com o batalhão de maetralhadoras, o batalhão de sapadores de caminhos de ferro e a artilharia de Queluz, a partir das 17 horas do dia 18.

 

19

Sinel de Cordes, emissário dos revoltosos

No dia 19, Sinel de Cordes vai ao quartel do Carmo tentar conciliação. Preso Cunha Leal que não teria qualquer ligação com o episódio. Os jornais O Século e o Diário de Notícias são suspensos. Sinel de Cordes chegou a sugerir a Teixeira Gomes que nomeasse Filomeno chefe do governo. Para o jugular do golpe teve especial destaque o ministro da marinha (Pereira da Silva), dado que o ministro da guerra (Vieira da Rocha) defendia que se parlamentasse com os revoltosos.

 

21

Demissão do ministro da guerra

Em 21 de Abril é exonerado o ministro da guerra.

 

22

Deputados nacionalistas presos

Em 22 de Abril os deputados nacionalistas discutem o caso dos deputados presos (Cunha Leal e Garcia Loureiro). O jornal do CCP, Novidades, critica o golpe de Estado em 22 de Abril.

 

22

Banco Angola e Matrópole

Neste mesmo dia era apresentado o primeiro requerimento para a fundação do Banco de Angola e da Metrópole, de Alves dos Reis (o respectivo funcionamento será autorizado em 17 de Junho).

 

25

Novo regime dos fósforos

Em 25 de Abril, a lei nº 1 770 estabelecia novo regime dos fósforos, acabando com o exclusivo da Companhia Portuguesa de Fósforos e fixando um novo regime de liberdade. Encerrada a fábrica e sendo despedidos cerca de 1 200 operários, eis que o governo seguinte, através do ministro das finanças Torres Garcia, permitiu a reabertura por 90 dias, que terminavam no dia 15 de Fevereiro de 1926, embora se autorizasse a importação de caixas de fósforos. O governo começava a enredar-se em fósforos e tabacos, tal como acontecera com os últimos governos monárquicos.

 

26

Hidenberg, presidente alemão

Hidenburg é eleito presidente alemão.

 

30

Continuação do estado de sítio

Em 30 de Abril, enquanto o parlamento suspendia a sua actividade até fins de Maio, continuava o estado de sítio em Lisboa. Segundo Marques Guedes, o governo de Vitorino Guimarães, apesar de ter vencido o 18 de Abril, apresentou-se mais como réu do que como vencedor. Começava então a falar-se numa revolução de remorso face à demissão do Exército dos implicados no movimento de 18 de Abril.

 

Salazar no Funchal

Salazar, no mês de Abril, está no Funchal, onde profere duas conferências: Laicismo e Liberdade e O Bolchevismo e a Congregação.

 


Maio

1

Comícios da CGT

CGT realiza comícios em 20 localidades.

 

2

Caso Alves dos Reis

Vitorino Guimarães manda ouvir a Inspecção do Comércio Bancário sobre o requerimento para a constituição do Banco Angola e Metrópole em 2 de Maio.

 

2

Comissão para o estudo da carestia de vida

Criada uma comissão para estudar as causas da subida do custo de vida em 2 de Maio.

 

13

Peregrinações a Fátima

Em 13 de Maio, mais de cem mil pessoas nas cerimónias de Fátima.

15

Atentado contra Ferreira do Amaral

Em 15 de Maio, a Legião Vermelha promove um atentado contra Ferreira do Amaral. Segue-se a prisão de cerca de uma centena de terroristas que foram deportados para África. Um deles, Bela Kun, ao ser deportado, diz aos jornais que a sua ausência seria curta, porque em breve reabriria o parlamento.

 

28

Ditadura da incompetência

Em 28 de Maio o jornal A Época  fala em ditadura da incompetência.

 

28

Bolsa Agrícola

Criação da Bolsa Agrícola pelo decreto nº 10 805 de 28 de Maio.

 

 


Junho

4

Congresso dos democráticos

Congresso do partido democrático em 4 de Junho.

 

14

Conferência de Salazar

De 14 a 19 de Junho, X Congresso da Associação Espanhola para o Progresso das Ciências em Coimbra. Salazar apresenta uma comunicação sobre o Aconfessionalismo do Estado.

 

17

Autorizado o funcionamento do banco de Alves dos Reis

Vitorino Guimarães autoriza o funcionamento do Banco Angola e Metrópole em 17 de Junho.

 

19

J. D. dos Santos nega ligação com a Legião Vermelha

José Domingues dos Santos nega ligação com os extremistas da Legião Vermelha. Responde-lhe o deputado Agatão Lança que recorda a manifestação de 13 de Fevereiro quando ele permitiu que à frente dela seguissem 60 homens armados.

 

25

Golpe militar na Grécia

Golpe militar de direita na Grécia, comandado pelo general Pangalos.

 

26

Governo pede a demissão

Vitorino Guimarães pede ao parlamento que lhe permita governar em regime orçamental de duodécimos. Por 52-24, a Câmara dos Deputados apenas lhe permite viver em tal regime durante o mês de Julho (votação em 26 de Junho). António Maria da Silva não alinha na proposta do presidente do ministério e este pede a demissão. Conforme observa Cunha Leal, esgotadas as soluções governativas democráticas de bonzos canhotes e centristas, ia cimentar-se, até mais ver o consulado de António Maria da Silva.

31

Subsídio de desemprego no Reino Unido

Instituído o subsídio de desemprego no Reino Unido.

 

 


Julho

1

Governo de António Maria da Silva

Constituído o gabinete no dia 1 de Julho. Todos bonzos, à excepção do ministro da marinha, o independente Pereira da Silva.

 

 

Termina entendimento entre alvaristas e  democráticos

Depois de um governo misto, da simpatia dos canhotos, um governo exclusivamente bonzo que leva ao fim do entendimento existente entre os democráticos e os alvaristas, os chamado bloco.

 

6

Discussão do programa de governo

No dia 6 de Julho, discussão do programa de governo na Câmara dos Deputados. Era um programa limitado, com argumento se estar à beira das férias de Verão. Rodrigues Gaspar, pelos democráticos oficiais, os bonzos, apoia. Sá Nogueira, pelos canhotos, diz que não convém um governo que vem dividir ainda mais os grupos, duma forma cada vez mais grave. José Domingues dos Santos defende a constituição de um governo presidido por um independente, para se garantir a imparcialidade nas eleições. Sá Cardoso, pelos alvaristas, considera que o actual governo não corresponde aos intereses do país.

 

 

Brito Camacho vota a favor do governo

Governo passa na Câmara dos Deputados apenas por um voto, depois de uma moção de desconfiança apresentada pelo alvarista Sá Cardoso (52-51). Uma vitória precária, prenunciadora de uma derrota a curto prazo. O voto de desempate coube a Brito Camacho, que se independentizou do respectivo grupo, havendo uma forte oposição de alvaristas, nacionalistas, esquerdistas e monárquicos.

 

11

Reabertura da Associação Comercial de Lisboa

Reabertura da Associação Comercial de Lisboa no dia 11 de Julho. Havia sido encerrada seis meses antes pelo governo de José Domingues dos Santos.

 

15

Interpelação ao governo

O alvarista Sampaio Maia critica o governo em 15 de Julho. Votada, como urgente, uma interpelação ao governo sobre o problema da ordem pública e apresentada uma moção de desconfiança pelos alvaristas. António Maria da Silva manda convocar todos os deputados democráticos, masmo aqueles que estavam no Norte, as chamadas mulas de reforço.

 

16

Camoesas discursa durante nove horas

Na noite de 16 para 17 de Julho ocorre um facto curioso, quando o deputado João Camoesas, para garantir a presença de deputados pró-governamentais fez um discurso parlamentar que durou nove horas (das 0 à s 9 horas). Segue-se o deputado Agatão Lança, que começa à s 9 horas e termina à s 13 horas e 30 minutos já do dia 17. Esperava-se a chegada dos deputados democráticos nortenhos no rápido das  14 horas. Mas as chamadas mulas de reforço não chegaram. O governo perde a votação (49-58), sendo aprovada a moção de desconfiança. Aliás, vários deputados democráticos votaram contra o governo do respectivo partido, sendo, depois, irradiados.

 

18

Governo pede a dissolução parlamentar

No dia 18 de Julho é aprovada no Senado uma moção de confiança ao governo por 28-10. António Maria da Silva, com base na decisão do Senado, vai a Belém pedir a Manuel Teixeira Gomes a dissolução parlamentar. Consegue também que o directório democrático irradie os deputados que votaram contra o governo. José Domigues dos Santos e um grupo de vinte deputados constituem a chamada Esquerda Democrática. Era o rancor do bonzismo contra o justicialismo social do canhotismo, com o manobrador António Maria da Silva a procurar atingir uma falsa aparência de unidade através de uma operação de alta cirurgia.

 

19

Revolta de Mendes Cabeçadas

Em 19 de Julho dá-se a revolta de Mendes Cabeçadas e Jaime Baptista. Decretado o estado de sítio. Baptista estava detido em S. Julião da Barra, mas consegue evadir-se e assalta o forte do Bom Sucesso. Cabeçadas revolta o cruzador Vasco da Gama. Batalhão de telegrafistas instala-se no Alto da Ajuda. A revolta é dominada por forças fiéis ao governo comandadas por Agatão Lança.

 

20

Governo pede a demissão

No dia 20 de Julho António Maria da Silva consuma o pedido de demissão, depois de contido o golpe.

 

22

Convites a Bernardo Faria e J. P. Martins

Não aceitam formar governo o general Bernardo Faria e, depois, o independente Pedro Martins em 22 de Julho.

 

25

Presos do 18 de Abril transferidos para Lisboa

No dia 25 de Julho chegam a Lisboa os presos de Elvas implicados no 18 de Abril, a fim de serem  julgados. Filomeno da Câmara declara: os políticos enganaram-se julgando que o problema nacional é um problema de eleições.

 

26

Convite a Domingos Pereira

Domingos Pereira era então presidente da Câmara dos Deputados e encontrava-se em Paris, quando aceitou o encargo de formar governo (26 de Julho). Segundo Cunha Leal, o Presidente da República teve de fazer sair da toca de grilos do PRP alguém que, pelos seus dons inatos de simpatia e de aprumo, merecia o respeito de todos os seus correlegionários e, pela sua relativa imparcialidade, não iria pregar a guerra santa contra o canhotismo.

 


Agosto

1

Governo de Domingos Pereira

Constituído o governo no dia 1 de Agosto. Entre os membros não democráticos do gabinete, apenas o independente Pereira da Silva, transitando do governo anterior, e a novidade de Nuno Simões, um cheirinho a extrapartidarismo, conforme a expressão de Cunha Leal.

 

5

Apresentação do programa de governo

O programa de governo, marcado pela sobriedade, é apresentado em 5 de Agosto, com a oposição dos nacionalistas e monárquicos. Apoio dos bonzos. Expectativa dos canhotos e alvaristas. Nacionalistas apresentam moção de desconfiança que não é aprovada (29-93). 

 

15

Discurso de Gomes da Costa nos cumprimentos ao m. guerra

Discurso violento de Gomes da Costa  na cerimónia de cumprimentos ao novo ministro da guerra, em 15 de Agosto. Fala no miserável estado do Exército e apela a Vieira da Rocha para este cortar a cabeça a todos os chefes das quadrilhas que, com a maior desvergonha e impunidade, andam há anos a esta parte comprometendo a honra da nação.

 

24

Sérgio admite ditadura

António Sérgio na Seara Nova de 24 de Agosto aceita a possibilidade da ditadura ditadura que se fizesse, não em benefício de uma classe, mas em benefício da Nação; ditadura preparadora de uma verdadeira Democracia, passagem sincera e reformatriz para um regime de maior justiça, – não passagem para mais sólida, mais estável, mais omnipotente oligarquia. Ditadura de reforma, lealíssima, que saiba o que quer e diga o que quer, que queira relamente aquilo que diz, e nos convença pela clara Ideia, antes de vencer pelo canhão.

 

 


Setembro

1

Julgamento do 18 de Abril

Começa o julgamento da Revolta de Abril, na Sala do Risco do Arsenal da Marinha (1 de Setembro). O tribunal era presidido pelo general Ilharco. O juiz-auditor, Almeida Ribeiro. O general Óscar Carmona, o promotor de justiça. Cunha Leal e Tamagnini Barbosa são os defensores dos réus.

 

15

Seara Nova contra os bonzos

Raul Proença, num artigo publicado na Seara Nova, em 15 de Setembro, salienta: parece que o problema capital desta República é agora o aniquilamento absoluto dos pequenos agrupamentos partidários. É este o mot d’ordre olímpico dos bonzos eleitos no último congresso democrático.

 

23

1º Congresso da CGT

Realiza-se em Santarém de 23 a 27 de Setembro o 1º Congresso da CGT, participando 135 sindicatos.

 

26

Sentença do 18 de Abril

Em 26 de Setembro, sentença do 18 de Abril. Carmona declara a Pátria está doente, manda acusar e julgar neste tribunal os seus filhos mais dilectos. Reacções do poder. Carmona é afastado do comando da 4ª divisão militar, de Évora. O general Ilharco é destituído de chanceler da Ordem de Aviz. É demitido o auditor militar, Almeida Ribeiro. Sá Cardoso tentar fundar uma junta para a defesa da República.

 

 

O descontentamento do Exército

Segundo Marques Guedes, no julgamento da Sala do Risco, o descontentamento do Exército achou ali o seu tubo de descarga e a revolução jugulada a tiro quatro meses antes no alto da Rotunda, vencia agora sem armas no tribunal da Sala do Risco, proclamando-se a legitimidade da insurreição contra a situação política dominante.

 

Congresso Sindical

6º Congressso dos Rurais

 

 


Outubro

3

Manifesto de Gomes da Costa contra a classe política

No jornal A Época de 3 de Outubro é publicado um manifesto de Gomes da Costa: Portugal tem de reagir para que não o assassinem… um lugar no Parlamento é para estes Catões a garantia da gamela bem cheia, a fartura e o regafobe garantidos… É a isto que chegámos ao cabo de 15 anos de regimen republicanos! Os grandes homens da República – expulsos. O Povo, - miserável. A Nação – na desordem, na anarquia, - escárnio dos estrangeiros. O Exército indisciplinado, esfrangalhado.

 

23

Liquidação dos bairros sociais

Em 23 de Outubro, decreto nº 11 174, liquida todos os bairros sociais, à excepção do do Arco do Cego. No preâmbulo é feito um longo historial do processo.

 

24

Ditadura de reforma

António Sérgio na Seara Nova  de 24 de Outubro, analisando o julgamento do 18 de Abril,  diz aceitar a possibilidade de uma certa ditadura preparadora de uma verdadeira Democracia e de um governo nacional extraordinário. Uma ditadura de reforma, lealíssima, que saiba o que quer e diga o que quer, que queira realmente aquilo que diz, e nos convença pela clara Ideia, antes de vencer pelo canhão.

 


Novembro

8

Eleições. Vitória dos democráticos

Em 8 de Novembro, eleições para deputados e senadores (82 democráticos, 31 nacionalistas, 9 independentes, 7 esquerdistas, 7 da União de Interesses Económicos, 7 monárquicos, 5 católicos, 2 socialistas). 

 

 

Maioria curta

Comentando os resultados eleitorais, o jornal O Século, observava: com uma maioria de 12 ou 15 apenas, nenhum partido pode vangloriar-se de ter assegurada uma forte maioria parlamentar. Não pode, tem de entrar em combinaçõies que lhe tolherão os movimentos.

 

 

Julgamento do 19 de Julho

Termina o julgamento dos implicados no 19 de Julho. Os réus são absolvidos.

 

 

A questão das deportações

Discutida na Câmara dos Deputados a  deportação de elementos da Legião Vermelha para a Guiné. José Domingues dos Santos protesta contra a decisão governamental.  António Maria da Silva responde, informando ter sido descoberto que os agitadores em causa, no tempo do governo de José Domingues dos Santos projectaram atacar à bomba o parlamento se uma moção de confiança a esse governo não fosse aprovada. O deputado Amâncio Alpoim considera que o sr António Maria da Silva ainda hoje é conhecido como o melhor organizador de revolução com bombas e sem bombas.

 

21

Seara Nova defende um cartel das esquerdas

A Seara Nova  de 21 de Novembro observa que em Lisboa e no Porto, se se tivesse formado um cartel das esquerdas (Esquerda Democrática, partido radical, partido socialista e representantes de algumas classes), este teria vencido.

 

23

O Século levanta a questão Alves dos Reis

Primeiro artigo em O Século sobre o caso Angola e Metrópole: O Que Há? Em 23 de Novembro.

 

25

Extinção do Ministério do Trabalho

Extinção do Ministério do Trabalho em 25 de Novembro.

 


Dezembro

5

Prisões do caso Alves dos Reis

Prisões no Porto no caso Alves dos Reis, em 5 de Dezembro. Alves dos Reis é detido no dia 6.

 

5

Bichas para a troca de notas

Em 8 de Dezembro, longas bichas em todo o país nas filiais do Banco de Portugal para a troca das notas de Alves dos Reis.

 

10

Teixeira Gomes renuncia. Eleito Bernardino Machado

Em 10 de Dezembro, por ocasião do recomeço dos trabalhos parlamentares, o presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, renuncia ao mandato, sucedendo-lhe Bernardino Machado, eleito no dia 11. Chegou a falar-se na eleição de Gago Coutinho por plebiscito.

 

11

Deportação de sindicalistas

Prisão e deportação de inúmeros sindicalistas

 

13

Demissão do governo

Governo apresenta a demissão no dia 13 de Dezembro.

 

17

Teixeira Gomes parte para o exílio voluntário

Em 17 de Dezembro, Teixeira Gomes parte num cargueiro para o exílio argelino: vou enfim libertar-me de 15 anos de cativeiro, arrastados por Londres e Lisboa.

Confessará depois a Norberto Lopes que se libertou da gaiola dourada de Belém e que os políticos eram intoleráveis. Procurei estudá-los mais como romancista do que como homem de Estado … recusei-me a continuar na presidência sem o orçamento votado, porque entendo que um país deve ter as contas em dia. Não quiseram ouvir-me. Foi esta a razão por que me vim embora.

Fica exilado em Bougie, onde acabou por falecer em 18 de Outubro de 1941.

 

17

Governo de António Maria da Silva

Apesar de Bernardino Machado ainda tentar a hipótese de um governo de concentração, o governo, presidido por António Maria da Silva é democrático bonzo, com a oposição de monárquicos, nacionalistas e esquerdistas. Silva, segundo Cunha Leal, lançou-se sobre o presidente como ave de rapina sobre uma presa. Surgia assim o “de profundis” da república parlamentar no cantochão de António Maria da Silva. Aquele que tinha sido o progenitor da prevalência do Exército na vida da República, quando desarmou a GNR, não desistia da táctica que havia de transformá-lo em seu coveiro. Constituído em 17 de Dezembro.

 

21

Apresentação parlamentar

Apresentação parlamentar em 21 de Dezembro (63 votos favoráveis e 23 votos contra). Oposição de nacionalistas, monárquicos e esquerda democrática. Socialistas, católicos e alvaristas dizem-se na expectativa. São vivos os ataques de José Domingues dos Santos, pelos esquerdistas, e de Pedro Pitta, então líder parlamentar dos nacionalistas.

 

 

Silva dizia então: não sou da esquerda nem da direita, sou do partido republicano (10 de Junho de 1925). Será o último governo da I República. Derrubado pelo golpe de 28 de Maio de 1926.

 

22

Dispersa manifestação da CGT

Governo manda dispersar manifestção de protesto da CGT contra as deportações.

 

24

Mussolini deixa de ser responsável perante o parlamento

Governo italiano de Mussolini deixa de ser responsável perante o parlamento.

 

 

 


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