Partido Liberal (1919)
Imediatamente após a queda do sidonismo, surgem tentativas para a unificação
das oposições republicanas aos democráticos. Alberto Madureira, em 13 de
Abril de 1919, tenta a criação de um partido
republicano conservador, com o unionista Nunes da Ponte, o sidonista ex-monárquico
Francisco Fernandes e o sidonista António Miguel de Sousa Fernandes, antigo
governador civil de Lisboa. Em 15 de Abril, a Junta Municipal de Lisboa dos
evolucionistas manifesta-se contrária à dissolução do partido. No dia 16 de
Abril, reunião no consultório de Egas Moniz de delegados dos partidos
centrista, unionista e evolucionista, com republicanos independentes, tendo em
vista a unificação naquilo que então se qualificava como o partido republicano reformador. malogro, face à resistência dos
evolucionistas O evolucionista Ribeiro de Carvalho, em entrevista a A
Capital, defende um grande partido
moderado, incluindo democráticos, que se oposraia a um grande
partido radical, para onde deveriam transitar os radicais democráticos,
evolucionistas e unionistas, o que só se conseguiria com a dissolução
dos três grandes partidos. Em 24 de Abril, ex-parlamentares evolucionistas reúnem
com António José de Almeida e manifestam-se contrários à dissolução do
partido. Mas, em fins de Setembro, sob o governo de Sá Cardoso, onde apenas
participam democráticos, depois de António José de Almeida ter sido eleito
presidente em 6 de Agosto, dissolvem-se os partidos unionista e evolucionista. A
reunião dos unionistas decorrem em 29 de Setembro. O congresso dos
evolucionistas em 30 de Setembro e 1 de Outubro. No dia 5 tomava posse António
José de Almeida. Não tarda que o novo partido, já integrado por
evolucionistas e unionistas, abra as portas aos sidonistas: primeiro, à facção
do ex-evolucionista e ex-centrista, Egas Moniz. Depois, aos restantes sidonistas
moderados. Assim, em 13 de Outubro o directório do Partido
Nacional Republicano, então
liderado por Egas Moniz, aconselha a dissolução do mesmo grupo. Idêntica
posição é tomada em 15 de Outubro, pela facção sidonista que se lhe opunha,
então dirigida por Feliciano Costa e que publicava A
Situação. No entanto, um grupo de antigos evolucionistas, liderado por Júlio
Martins, não adere à fusão e, com o apoio de alguns democráticos radicais e
do ex-centrista e ex-sidonista Cunha Leal, em 8 e Outubro, trata de constituir o
grupo parlamentar populares. Nesse mesmo dia, o novo partido liberal logo elege
como líder parlamentar o antigo evolucionista António Granjo, que se havia
destacado como conspirador contra o sidonismo. Entretanto, o governo Sá Cardoso
pede a demissão em 3 de Janeiro de 1920 e António José de Almeida logo trata
de convidar os novos liberais para constituirem governo, o que fazem sob a
presidência de Fernandes Costa, com António Granjo, Mesquita de Carvalho,
Mendes dos Reis, Tito de Morais, Jorge Vasconcelos Nunes, José Barbosa, Pinto
Veloso e Fernandes de Almeida. Contudo, o gabinete nem sequer chega a tomar
posse, marcada para o dia 15 de Janeiro de 1920, face a uma manifestação
promovida pela ala radical dos democráticos, a chamada formiga branca. Nesse
mesmo dia, chega a esboçar-se uma tentativa de assalto aos jornais apoiantes
dos liberais, A Luta
e a República. António José de Almeida reconduziu imediatamente
o gabinete de Sá Cardoso e logo trata de convidar algumas personalidades para a
constituição de um ministério nacional. Tenta, em primeiro lugar, o
liberal e ex-unionista Tomé de Barros Queirós, que logo desiste. Recorrre,
depois, ao presidente do Senado, Correia Barreto, que também desiste.
Finalmente tenta o presidente da Câmara dos Deputados, Domingos Pereira, que em
21 de Janeiro já constitui gabinete, com quatro democráticos e outros tantos
liberais, acompanhados por um socialista. Era a primeira vez que os liberais,
enquanto tal, acediam ao governo, mobilizando o ex-evolucionista Luís Augusto
Pinto Mesquita de Carvalho para a justiça, o ex-unionista José Barbosa para as
colónias; o ex-evolucionista Celestino Germano pais de Almeida para as colónias;
e Jorge Vasconcelo Nunes para o comércio. Dura pouco esta concentração e em 8
de Março de 1920 no governo democrático de António Maria Baptista apenas
aparece o ministro liberal Joaquim Pero Vieira Júdice Biker, na marinha. Em 19
de Julho de 1920, os liberais voltam ao governo e à presidência do ministério,
com António Granjo numa experiência de conjugação com os reconstituintes e
um democrático, que dura apenas quatro meses. Entre os ministros liberais deste
gabinete, para além de Granjo na preisdência e na agricultura, Inocêncio
Camacho nas finanças, Manuel Ferreira da Rocha nas colónias e Júlio Ernesto
Lima Duque no trabalho. Entretanto, os liberais são afastados dos gabinetes de
Álvaro de Castro, Liberato Pinto, Bernardino Machado de 20 de Novembro de 1920
a 23 de Maio de 1921. Contudo, nesta data voltam ao poder com Tomé de Barros
Queirós num governo integralmente constituído por elementos do partido, com os
generais Abel Hipólito e Alberto Carlos da Silveira, José de Matos Cid,
Ricardo Pais Gomes, Melo Barreto, António Granjo, Fernandes Costa, Ginestal
Machado, Lima Duque e Manuel Sousa da Câmara. É durante este gabinete que se
realizam as eleições de 10 de Julho de 1921 que dão a primeira e única vitória
eleitoral dos liberais face aos democráticos. Estes ficam reduzidos a 54
deputados (cerca de 30%) contra 88 deputados liberais (cerca de 50%), mas com
15% para os reconstituintes de Álvaro de Castro, à frente da dissidência dos
reconstituintes, oriunda dos mesmos democráticos. Uma fraca maioria relativa,
aliás, dependente de uma minoria dominada pelos ex-jovens turcos. Mesmo assim,
constitui-se novo governo liberal a partir de 30 de Agosto, agora liderado por
António Granjo, com Raúl Lelo Portela, Vicente Ferreira, Freitas Soares,
Ricardo Pais Gomes, Melo Barreto, Ferreira da Rocha, Ginestal Machado, Lima
Duque, Fernandes Costa e Aboim Inglês. A experiência é bruscamente
interrompida pelo golpe outubrista de 19 de Outubro e pelo assassinato do próprio
chefe do governo. Depois dos liberais, juntamente com os democráticos e os
reconstituintes, terem em finais de Novembro, acordado no princípio da não
colaboração com os governos outubristas, segue-se o gabinete de concentração
partidária liderado por Francisco Cunhal Leal, em 16 de Dezembro de 1921, onde
participa o liberal Augusto Joaquim Alves dos Santos, na pasta do trabalho. Aliás,
neste gabinete, estava previsto que os liberais assumissem a pasta do comércio,
através de Celestino de Almeida, mas Cunha Leal rejeitou o nome. Seguem-se as
eleições de 29 de Janeiro de 1922 onde os democráticos voltam à vitória,
com 74 deputados. Com efeito, depois de se esboçarem listas conjuntas de democráticos,
liberais e reconstituintes, o governo decidiu apresentar listas próprias,
baralhando todo o esquema e prejudicando essencialmente os liberais, dado que
estes foram obrigados a uma conjunção com os reconstituintes e os cunha
lealistas. Segue-se o longo governo democrático de António Maria da Silva,
de Fevereiro de 1922 a Novembro de 1923, o governo mais estável da I República,
que também marca o fim dos liberais que, em 5 de Fevereiro de 1923 se diluem
num partido nacionalista, onde também começam por participar os
reconstituintes e os seguidores de Cunha Leal.