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1903
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Revolta do grelo, aparecem os nacionalistas, greves e protestos de viticultores
(Ver pormenores em anuário CEPP)
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Junqueiro republicano –
Saúdo...os homens obscuros que em 31 de Janeiro se deixaram matar pelo Bem e
pela Verdade, e lembro ao Partido Republicano o duplo dever, de acção e de
união, constituindo uma nobre família moral, um baluarte de luz e de vida
heróica. Não realizar esse dever é cometer um crime (Guerra Junqueiro envia
ao jornal Voz Pública um telegrama em 31 de Janeiro).
Remodelação – Em 23 de
Fevereiro: Teixeira de Sousa passa da marinha para a fazenda; Manuel Rafael
Gorjão (1846-1918), celebrizado como governador de Moçambique, onde foi
responsável pelas obras do porto de Lourenço Marques, assume a pasta da marinha;
para os estrangeiros entra Wenceslau de Sousa Pereira de Lima; Alfredo Vieira
Coelho Pinto Vilas Boas (1860-1926), 1º conde de Paçô Vieira, governador de
Ponta Delgada, nas obras públicas.
Governo da Turquia. João Arroio,
na Câmara dos Pares, chama ao gabinete de Hintze governo da Turquia. Face
à defesa feita pelo presidente do conselho, o par do reino retira-se da sala e o
casaca de ferro fulmina-o: o digno par pode retirar-se; está no seu
direito; mas eu também estou no meu direito de continuar a responder-lhe.
Greve geral em Coimbra, dita revolta do grelo
(13 de Março). O protesto tem como pretexto a contribuição industrial,
impedindo-se a entrada na cidade dos pequenos agricultores dos campos de
Cernache. Intervenção da polícia e morte de um manifestante. Populares respondem
à pedrada e ferem gravemente o comandante da força, o alferes Antunes. Nova
carga policial e mais um morto. Estudantes manifestam-se em solidariedade para
com as vítimas e a Universidade é encerrada. Nomeado um governador militar, com
a cidade a ser ocupada por 500 soldados. No dia 14, greve de protesto dos
comerciantes, que encerram as lojas. Os soldados são atacados a tiro.
Progressistas apoiam as medidas do governo para o restabelecimento da ordem. Só
no dia 16 é que a região volta à normalidade. Segundo denúncias publicadas no
jornal O Dia, de 16 de Março, sociedades secretas de estudantes teriam
previsto um ataque ao comboio no qual regressa a Lisboa, vindo de Paris, Pereira
Carrilho. Embora o mesmo não tenha sido descarrilado, é efectivamente atacado a
tiro e à pedrada.
Franquistas – Grande actividade
de propaganda e implantação, no país interior e nas classes médias, caçando
no mesmo terreno dos republicanos. Inaugurado o Centro Regenerador-Liberal
em Lisboa (16 de Maio). João Franco discursa, afirmando-se monárquico contra
a utopia e ardentemente liberal, apesar de reconhecer que teve de ser
autoritário de 1893 a 1897, face às circunstâncias. O discurso patriótico, em
nome da moralidade e liberdade, consegue mobilizar alguns
republicanos de Lisboa e muitos agricultores, todos insatisfeitos com os
rotativos.
João Arroio contra a família real.
O par do reino João Arroio faz acusações à família real, criticando a viagem de
D. Amélia pelo Mediterrâneo e a França, dizendo que o rei ter uma orientação
demasiado jacobina e a rainha presumia uma tendência para as congregações
católicas. Faz graves insinuações sobre as relações de Soveral com a rainha
(11 de Maio). Segundo Raul Brandão, o rei chama nomes ao Arroio, o Arroio
chama-lhe corno...Na altura, também se diz que o rei tem uma lista de
ladrões. Também consta que Arroio, ameaçando com novo discurso contra o rei,
onde se provaria que o monarca pedia dinheiro aos ministros, foi procurado em
sua casa por José Luciano que o dissuadiu, dizendo que não o fazia por pressão
de Hintze.
Congresso do Partido Nacionalista
em Viana do Castelo, onde se vota o programa (3 de Junho). Na comissão
central do novo agrupamento, o conde de Samodães, o conde de Bertiandos, par do
reino desde 1842 e especialista em questões vinícolas, Jacinto Cândido da Silvaö
, general Hugo de Lacerda, António Mendes Lages e José Pulido Garcia.
Republicanos – António José de
Almeida regressa a Lisboa, depois de exercer durante sete anos clínica em S.
Tomé e Príncipe (23 de Julho). Discurso de Bernardino Machado na sala dos
Capelos (30 de Julho) Conferência do mesmo professor no Ateneu Comercial de
Lisboa: não é lícito esperar a salvação dentro da monarquia (31 de
Outubro). A anarquia da nação demonstra-se: no
interior pelo desencadeamento das forças dissolventes do caciquismo, da
plutocracia e a agitação do clericalismo, e fora, pelas mesmas consequências
dolorosas que se seguem a qualquer ditadura progressista ou regeneradora.
Emídio Navarro em o
Novidades, a propósito do assassinato dos reis da Sérvia, ataca a família
real: destes acontecimentos há para nós uma
lição a tirar: e é que não há povo tão oprimido, tão privado de liberdade, tão
caído em vilipêndio que, num momento dado não possa erguer-se, num ímpeto
irresistível e desordenado, para vingar a sua ruína e sacudir a afronta da sua
opressão
Associação Comercial de Lisboa
em rebeldia contra o governo que, em sua substituição, cria uma Câmara do
Comércio.
Operários e viticultores no contra
– Em Junho, várias greves operárias no Porto. Em Dezembro, greve dos
metalúrgicos. Manifestação de protesto de cerca de 3 000 viticultores em Lisboa,
promovida pela Real Associação Central da Agricultura Portuguesa (18 de Maio).
& Brandão, Raul (I): 94; Oliveira, Lopes: 196, 197, 199; Paixão, Braga (III, 1971): 29 ss., 31; Serrão, Joaquim Veríssimo (X): 85, 104, 105, 108; Silva, Amaro Carvalho da (1996).