Governo de João Crisóstomo (1890-1892)

1890 Do Ultimatum ao falado governo extra-partidário

1891 Do 31 de Janeiro à Rerum Novarum

1892 A desilusão governamental de Oliveira Martins e a manha de Zé Dias

Governo nº 41 de João Crisóstomo (14 de Outubro, 462 dias), com uma alteração completa do gabinete em 25 de Maio de 1891. O governo dito nefelibata, presidido pelo octogenário general, que conta como apoio da Liga Liberal, constitui-se depois da recusa do regenerador Martens Ferrão, então embaixador em Roma.

Visa-se a criação de um ambiente de apaziguamento e concórdia, mas a missão torna-se impossível tanto pela emergência de uma série de escândalos financeiros, como pela impossibilidade de se concretizar um grande empréstimo externo, numa altura em que até se fala num poço sem fundo no plano financeiro.

Presidente acumula a pasta da guerra. António Cândido Ribeiro da Costa (1850-1922) no reino. António Emílio Correia de Sá Brandão (1821-1909) na justiça. José de Melo Gouveia na fazenda. António José Enes Júnior (1848-1901) na marinha e ultramar. José Vicente Barbosa do Bocage nos estrangeiros. Tomás Ribeiro nas obras públicas. Em 24 de Novembro de 1890: Augusto José da Cunha substitui José de Melo Gouveia na fazenda.

Pelos prestigiosos nomes que se mobilizam, trata-se de um dos gabinetes do liberalismo monárquico com mais qualidade. Mas, se as estrelas não fazem uma boa equipa, também as circunstâncias hã-de tornar este governo impotente para dar uma adequada resposta aos desafios.

Governo renovado – A partir de 25 de Maio de 1891, há uma remodelação completa, surgindo uma nova equipa. Tal ocorre depois de uma corrida ao levantamento dos depósitos bancários. Perante a crise, o rei consulta por escrito José Luciano e António Serpa e estes, depois de várias diligências levadas a cabo pelo rei, acabam por aceitar a continuidade de Crisóstomo, dado que as circunstâncias apontam para a chamada de Dias Ferreira. Em primeiro lugar, falha a tentativa de um gabinete organizado pelo conde de São Januário, indicado ao rei por João Crisóstomo, dado que não ter sido possível mobilizar Mariano de Carvalho, o jornalista ligado à ala radical dos progressistas e grande amigo do prior da Lapa, que havia regressado de Moçambique em 1890 e dizia ter planos financeiros para salvar o Estado. É depois convidado António Serpa, que também fracassa. Acaba por ter de optar-se por uma recomposição levada a cabo por Crisóstomo e assente numa efectiva aliança do regenerador Lopo Vaz e do progressista Mariano de Carvalho, que pretendem, através deste acto, o afastamento dos respectivos líderes, António Serpa e José Luciano, respectivamente, pelo que o gabinete deixa, efectivamente, de ser extra-partidário.

Lopo Vaz de Sampaio e Melo no reino e passa a exercer a pasta de ministro da instrução pública, então restaurada; Alberto António de Morais de Carvalho na justiça; Mariano de Carvalho na fazenda; Júlio de Vilhena na marinha; Conde de Valbom nos estrangeiros; João Franco nas obras públicas.

A recepção parlamentar – Expectativa benévola dos progressistas e meros reparos dos regeneradores. Arriaga, pelos republicanos, diz não confiar no gabinete e proclama a fraqueza do regime. Ataque violento de Eduardo Abreu (30 de Maio). O ministro João Franco chega a nomear Bernardino Machado director do Instituto Comercial e Industrial de Lisboa, pedindo-lhe até a elaboração de um plano de reforma. Nas eleições municipais de Lisboa 15 de Novembro ainda vencem os monárquicos.

  Governo anterior

Governo posterior  

Governo de João Crisóstomo.

De 14 de Outubro de 1890 a 17 de Janeiro de 1892.

462 dias

20º governo depois da Regeneração

7º governo do rotativismo

3º governo do reinado de D. Carlos

 

·Presidente acumula a pasta da guerra e em 25 de Maio de 1891 são substituídos todos os ministros anteriores.

·António Cândido no reino

·António Emílio Correia de Sá Brandão na justiça

·José de Melo Gouveia na fazenda

·António Enes na marinha e ultramar

·José Vicente Barbosa do Bocage nos estrangeiros

·Tomás Ribeiro nas obras públicas[1]

·O governo vai ser apoiado pela Liga Liberal. Sofrerá os efeitos da revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891.

·Os republicanos estão divididos, especialmente pela campanha jornalística de Homem Christo contra Elias Garcia. mas a unidade é estabelecida no congresso realizado no Porto de 5 a 7 de Janeiro de 1891. Aprovado novo programa para o partido que foi publiacdo em 11 de Janeiro de 1891.

·Revolta republicana do 31 de Janeiro de 1891. Conforme salienta Lopes d’Oliveira, desde o 31 de Janeiro todo o programa republicano é Revolução[2]

Em 24 de Novembro de 1890:

 ·Augusto José da Cunha substitui José de Melo Gouveia na fazenda

·Cortes reabrem em Março de 1891 para votarem as bases do monopólio do tabaco e um grande empréstimo de 10 milhões de libras. Conde de Burnay emprestara 3 milhões de libras, com a condição de lhe ser concedido o monopólio do tabaco.

·Adiado o parlamento no dia 1 de Abril. Governo anuncia que vai governar em ditadura.

·No dia 3 de Abril, sentenças contra os implicados no 31 de Janeiro. Dividem-se os monárquicos. Lopo Vaz, no Diário Ilustrado fala num erro judiciário. Contra ele, assumem-se Emídio Navarro no Novidades (já pedira o restabelecimento da pena de morte); Carlos Lobo d’Ávila no Tempo; Pinheiro Chagas no Correio da Manhã e Hintze Ribeiro n’O Português.

·Em 7 de Maio é suspensa por 90 dias a convertibilidade das notas de banco. Depois de uma corrida à conversão das notas, uma corrida ao levantamento dos depósito. O papel-moeda fica desvalorizado em cerca de 10%

·Sucessivas prevenções militares


 

Continuação do governo de João Crisóstomo.

De 14 de Outubro de 1890 a 17 de Janeiro de 1892.

462 dias

Em 25 de Maio de 1891:

·Lopo Vaz de Sampaio e Melo substitui António Cândido no reino e passa a exercer a pasta de ministro da instrução pública, então restaurada;

·Alberto António de Morais de Carvalho substitui António Emílio Correia de Sá Brandão na justiça;

·Mariano de Carvalho substitui Augusto José da Cunha na fazenda;

·Júlio de Vilhena substitui António Enes na marinha e ultramar;

·Conde de Valbom substitui José Vicente Barbosa do Bocage nos estrangeiros;

·João Franco substitui Tomás Ribeiro nas obras públicas;

·Perante a crise, o rei consulta por escrito José Luciano e António Serpa. Estes preferem a continuidade de Crisóstomo à chamada de Dias Ferreira. São Januário ainda foi encarregado de formar novo governo, mas não consegue mobilizar Mariano de Carvalho. Este jornalista, ligado à ala radical dos progressistas e grande amigo do prior da Lapa, havia regressado de Moçambique em 1890 e dizia ter planos financeiros para salvar o Estado. A recomposição levada a cabo por Crisóstomo assentava numa efectiva aliança de Lopo Vaz e Mariano de Carvalho e o governo deixa de ser extrapartidário.

·No tocante à frente britânica, Valbom vai conseguir ajustar as bases do tratado de Londres em 28 de Maio e apresentá-las na Câmar dos Deputados em 2 de Junho. Apesar de tudo, José Falcão ainda proclama: eu supunha que havia coisas que não se podiam vender…Mas, depois da questão inglesa, ia desabar a questão financeira que se jogava entre banqueiros de Paris.

·Mariano parte imediatamente para o estrangeiro. Acredita que a situação é um poço sem fundo, para onde me lanço de olhos abertos. Faz uma sucessão de adiantamentos, sem conhecimento dos seus colegas de governo, à Companhia Real, ao Banco Lusitano e ao Banco do Povo. A quebra da bolsa de Paris no Outono impede que se concretize uma operação de grande empréstimo a Portugal.

·Aires de Gouveia na Câmara dos Pares critica a perseguição aos republicanos, considerando-os como pequena minoria (23 e 25 de Junho)

·Decretado o curso forçado das notas de banco, em 9 de Julho de 1891.

·Conflitos entre os ministros Lopo Vaz e Mariano.

·Em 15 de Janeiro de 1892, João Crisóstomo confirma que Mariano fez adiantamentos à Companhia Real dos Caminhos de Ferro sem conhecimento do restante governo. Trata-se de um golpe de Lopo Vaz que terá dito: fodi o Zé Luciano e o Serpa. Mariano apresenta a demissão, proclamando: suponho que a minha carreira política está finda; esteja ou não esteja, há uma coisa para que fico vivo.

·Começa a falar-se num governo de Lopo Vaz, mas este adoece e acaba por morrer em 1892. Chega a ser sondado o conde de Valbom, mas acaba por ser chamdo José Dias Ferreira, tendo na fazenda Oliveira Martins, um dos grandes inimigos de Mariano.


 

[1] António Ribeiro dos Santos, p. 210; Pinheiro Chagas/ marques Gomes, 12º, pp. 580-589; Alfredo Gallis, I, p. 133 e pp. 154-155; Lopes d’Oliveira, pp. 88-89.

[2] Idem, p. 93.

[3] A remodelação visava liquidar os dois chefes formais dos progressistas ( José Luciano) e dos regeneradores (António Serpa), pela mobilização de Mariano de Carvalho e Lopo Vaz..

 O ano de 1891 foi marcado pela revolta republicana do Porto de 31 de Janeiro, a tal sargentada mal organizada, de tal maneira que o ministro do reino, António Cândido, foi previamente avisado da ocorrência, através de um amigo e o próprio ministério dos estrangeiros foi alertado pela via diplomática, um mês antes. Nesse mesmo ano, em 15 de Maio, Leão XIII editava a Rerum Novarum, enquanto, entre nós, se suicidava Antero de Quental (11 de Setembro). Em 21 de Junho, António Enes era nomeado comissário régio em Moçambique. Entretanto, em 9 de Fevereiro de 1891, Oliveira Martins reconhecia que esta crise com efeito veio provar que Portugal pede um tirano; mas a nossa desgraçada pátria nem tiranos tem. Tudo é papas. Temos a consistência das alforrecas … O ministério que parece vingará é uma espécie de tambor que todos vão malhar à vontade e que será esmagado miseravelmente (apud LOPES DE OLIVEIRA, p. LXII).

Projecto CRiPE- Centro de Estudos em Relações Internacionais, Ciência Política e Estratégia. © José Adelino Maltez. Cópias autorizadas, desde que indicada a origem. Última revisão em: 31-03-2009