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Facções dentro do partido único
Não havendo partidos, geram-se facções dentro do partido
único que em 1912 se transformam em incipientes organizações com esse
nome, mas sem poderem assumir-se como alternativas ao remanescente do
partido único, o qual, em 1913 assume o governo em exclusividade.
Dentro das próprias forças apoiantes do governo, desde
logo surgem três sensibilidades, cada qual com o seu jornal. Os
afonsistas congregam-se em torno de O Mundo, dirigido por França
Borges; os chamados conservadores republicanos, preferem A República,
sob a direcção de António José de Almeida; naquilo que poderemos
considerar uma espécie de centro-direita ficou A Luta, com a
liderança de Brito Camacho.
Pouco a pouco, essas sensibilidades adquirem bandeiras.
Os afonsistas são particularmente activos nos centros urbanos, apoiam-se
na Maçonaria e na nomenclatura do PRP e, graças ao maior
dinamismo organizacional, são os únicos que conseguem uma efectiva
implantação nacional.
Os camachistas conseguem, sobretudo, apoio na zona dos
intelectuais e naquilo a que hoje damos o nome de classe política
da capital.
Os almeidistas que pretendem assumir as reivindicações
da província, tiveram o apoio de muitos quadros históricos do PRP e
foram gradualmente constituindo-se como os críticos conservadores do
radicalismo afonsista.
Ambos estes últimos, maioritários na Assembleia Nacional
Constituinte, assumiram frontais críticas ao anticlericalismo radical
dos afonsistas.
O velho Partido Republicano Português, a partir
de 1911, com a saída dos adeptos de António José de Almeida e de Brito
Camacho, passa a ser conhecido como Partido Democrático, ficando
sob a forte liderança de Afonso Costa, apesar de se desenhar uma ala
direita, a dos bonzos, que será chefiada por António Maria da
Silva, e uma ala esquerda, a dos canhotos, que terá a liderança
de José Domingues dos Santos. Assim, em Fevereiro de 1912, eis que a
partir destas dissidências surgem dois novos partidos: os almeidistas
instituíram um Partido Republicano Evolucionista, que tem como
órgão o diário República e os camachistas constituíram o
Partido Republicano Unionista, que tem como órgão o jornal A
Lucta.
Os novos partidos, sem ideias alternativas, destacam-se
da matriz por meros tacticismos e acabam por ser marcados apenas pelo
estilo faccioso das personalidades liderantes da cisão. Isto é, os
evolucionistas são sempre almeidistas, e os unionistas camachistas,
enquanto na margem esquerda do regime tenta estruturar-se outro grupo,
marcado pelas indecisões da personalidade que o mobiliza, Machado
Santos.
Os socialistas que permanecem e que constituem a única
garantia do formal pluralismo continuam ineficazes, enquanto os
monárquicos são proibidos ou seduzidos para a adesão ao novo regime.
Neste ambiente, as eleições não podem ser enquadradas
naquilo que hoje qualificamos como eleições livres. O espaço de
liberdade de escolha é revolucionariamente comprimido e nem sequer houve
a hipocrisia de o disfarçar. O acto eleitoral de 28 de Maio de 1911 tem
mais laivos plebiscitários do que de escolha e chega até a determinar-se
que não é preciso ir às urnas em círculos eleitorais onde comparecesse
apenas uma lista. Por outras palavras, praticou-se aquilo que se critica
no modelo de fabricação eleitoral do regime monárquico.
A chamada do povo às urnas faz-se de cima para baixo.
Agora já não é o embaixador britânico que faz as listas. É o próprio
governo que as dita. Melhor: as forças que conseguem penetrar no
governo, negoceiam os lugares entre si.
Acresce que o momento eleitoral de 1911 se prolonga
artificialmente. Aqueles que foram eleitos para fazerem uma Constituição
elegeram, depois, um presidente da República e transformaram-se em
cortes ordinárias, ao contrário do que sucedeu em 1822. Eleitos para
fazerem uma constituição, acabam por decidir a entrada de Portugal na
Grande Guerra e até adiam as eleições sine die em nome dessa
circunstância, só sendo renovados depois de mais uma revolução, a de 14
de Maio de 1915, de republicanos contra republicanos, e bem mais
sangrenta que a de 5 de Outubro de 1910
Republicanos históricos do Porto
Com Basílio Teles e Sampaio Bruno. Ligam-se a Machado
Santos e José Relvas.
Partido Reformista/Aliança Nacional
Revolucionários da Rotunda, liderados por Machado
Santos. Vão ter como órgão o jornal O Intransigente, que dura de
1910 a 1915, considerado a voz dos verdadeiros carbonários, isto
é, os que, através de António Maria da Silva, não passa a ser a mão de
rua do afonsismo. Adeptos da pureza do ideal republicano
Em 15 de Maio de 1911, num Manifesto ao Eleitorado
Português, chegam a esboçar uma chamada Aliança Nacional.
Querem eleger homens honrados capazes de pôr fim ao domínio dos
provisórios, defendendo uma república ampla e aberta a todos os
portugueses com cérebro e coração de portugueses, mas não aos
serventuários impudentes da Monarquia. Dizem-se união de todos os
portugueses honrados visando pôr fim à ditadura revolucionária
e a restabelecer a legalidade normal.
São subscritores do manifesto: António Machado Santos,
Sampaio Bruno, António Claro, José Carlos da Maia, José Mendes Cabeçadas
Júnior, Júlio de Matos, Alexandre Vasconcelos e Sá, José Eugénio Dias
Ferreira, Weiss de Oliveira e Aníbal Cunha.
No início de 1914, o grupo passa a assumir-se como
Centro Reformista, reunindo António Machado Santos, Augusto Machado
Santos, José Correia Nobre França, José Carlos da Maia, José Holbeche
Castelo Branco, Manuel Gonçalves de Carvalho e Carlos de Castro Lopes
Alpoim, a que também se junta Francisco da Cunha Leal. Depois de muitos
deles aderirem ao sidonismo, estão na base da Federação Nacional
Republicana, criada em 1920.
A República Portuguesa
Logo em Outubro de 1910 começa a emitir-se o jornal A
República Portuguesa, que pretende mobilizar a geração da greve
académica de 1907, mobilizando nomes como Alfredo Pimenta (1882-1950),
Alberto Xavier, Lopes de Oliveira e Tomás da Fonseca, que assumem
oposição a Costa e Bernardino
A Águia
Na mesma onda, refira-se a criação, em Janeiro de 1912
da revista A Águia, de Teixeira de Pascoaes, pretendendo criar
um novo Portugal, ou melhor ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancá-la
do túmulo onde a sepultaram alguns séculos de escuridade física e moral,
em que os corpos definharam e as almas amorteceram. O mesmo Pascoaes
que em O Espírito Lusitano ou o Saudosismo, considera a saudade
como o desejo da coisa ou criatura amada, tornado dolorido pela
ausência que animou a alma popular no dia 5
de Outubro... essa última esperança que não devemos deixar morrer
Anarco-sindicalistas
Reúnem-se em torno da revista Terra Livre. Têm
como principal activista Carlos Rates e começam a estruturar a
unificação sindical. Criam em 17-03-1913 a União Operária Nacional
Socialistas
Apresentam-se apenas em 12 dos 91 círculos, nas eleições
de 28 de Maio de 1911, recebendo 4 000 em 250 000 votos. |
Seguidores de Afonso Costa
Em 29 de Agosto de 1911 já Afonso Costa anuncia um novo
programa político, divulgado no dia 4 de Setembro, para, no dia 1 de
Outubro, inaugurar em Lisboa o primeiro Centro Republicano
Democrático, ao mesmo tempo que formalmente defende a manutenção da
unidade do velho PRP, que considera dever ser o partido único da
República.
Desta forma, obriga os opositores a terem que assumir um
acto formal de dissidência, de tal maneira que é na sequência de uma
manifestação de carbonários e afonsistas contra os jornais afectos ao
bloco, em 19 de Outubro, António José de Almeida, em nota publicada
em A República, de 22 de Outubro, declara-se independente,
confirmando o abandono do velho PRP.
Tudo acontece na véspera do congresso deste mesmo
partido, realizado no dia 27 de Outubro, no Coliseu da Rua Nova da
Palma, em Lisboa, onde as teses afonsistas são esmagadoramente
confirmadas, com a marginalização dos elementos afectos ao grupo de
Brito Camacho que nele ainda comparecem.
Não tarda que Brito Camacho, em 3 de Novembro, siga o
exemplo de António José de Almeida, a que, antes se opusera, declarando
formalmente em A Luta que a unidade do PRP é impossível.
Os afonsistas conseguem 86 deputados nas eleições de 28
de Maio de 1911.
Ligados ao GOL, dirigido por Magalhães Lima.
Apoiados pelo jornal O Mundo de França Borges.
Ligados a Bernadino Machado.
Integram, a partir de 1913, os chamados independentes
agrupados de António Maria da Silva.
Criam em 1911 os Voluntários da República, apoiados pela
Carbonária e pelo GOL.
Dominam os governos de Afonso Costa (1913) e Azevedo
Coutinho (1914-1915) e têm três ministros no governo de Bernardino
Machado (1914)
Grupo do directório do Partido Republicano –
Com Brito Camacho e José Relvas. Tem como órgão o jornal
A Lucta. Está na base dos unionistas.
Domina o governo de João Chagas e têm três ministros no
de Augusto Vasconcelos.
Os grupos de Camacho e Almeida conseguem 121 deputados
nas eleições de 28 de Maio de 1911, formando o chamado Bloco que, em 24
de Agosto desse ano elege Manuel Arriaga como presidente da República.
Jovens turcos
Com Álvaro Castro, João Pereira Bastos, Hélder Ribeiro,
Américo Olavo, Vitorino Guimarães e Sá Cardoso. Apoiados por Teófilo
Braga. Está na base da revolução de 14 de Maio de 1915
Amigos de António José de Almeida
O chamado ministro da província. Tem a apoiá-lo o jornal
República. Estão na base dos evolucionistas.
Católicos
Os católicos emergiram em 1912, em torno do jornal
Imparcial, com um primeiro número de 12 de Fevereiro, e do regresso
à actividade do CADC, reaberto em sessão solene de 8 de Dezembro do
mesmo ano, que havia sido fundado em 1901. Os inspiradores teóricos da
geração de Cerejeira e Salazar são Maurras, Le Play e La Tour du Pin,
invocados desde 1908, quando os fundadores do integralismo ainda eram
liberalões e republicanos, como António Sardinha. Destaca-se o 2º
congresso das Juventudes Católicas, realizado no Porto em 3 de Maio de
1914, onde discursa o quintanista de direito, Oliveira Salazar, sobre
A Democracia e a Igreja. Mas é só em 1917 que instituem um canónico
partido o Centro Católico Português, directamente autorizado pela
Conferência Episcopal Portuguesa.
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