1836
●Belenzada Logo reage o Paço e o anterior situacionismo através de uma movimentação palaciana, com a rainha a sair das Necessidades para Belém. Mas o governo resiste, graças à rápida movimentação das Guardas Nacionais, mobilizadas para Campo de Ourique, que criam uma Junta com Silva Sanches e Alexandre de Campos, enquanto César Vasconcelos passa a comandar a Guarda Municipal. Sá da Bandeira marcha à frente dos batalhões até Belém de forma extremamente vagarosa, para que pudesse funcionar a pressão palaciana, evitando-se o derramamento de sangue. Esta maobra dilatória, visando evitar que a populaça assaltasse o paço revela, segundo Victor de Sá a duplicidade política característica deste período, bem expressa por uma certa ambiguidade intencional nas declarações públicas, dado que o setembrismo de Passos Manuel e Sá da Bandeira apenas corresponderia ao "juste milieu" da Monarquia de Julho em França. O próprio Passos Manuel declarou expressamente: Eu não fiz a revolução, não a aconselhei; opus-me a que ela se fizesse no Porto no dia 24 de Agosto. Aliás, conforme, mais tarde, reconhecerá o próprio barão da Luz, a movimentação dos batalhões da Guarda Nacional para Campo de Ourique veio transtornar os planos que havia para o restabelecimento da Carta, e o que estava a ponto de se efectuar, nomeadamente por encontros de membros do governo com os belenzistas em Oeiras.
●As negociações – Saldanha solicita conferência a Sá da Bandeira. Passos, dirigindo-se a Terceira, clama: estamos na véspera da guerra civil; amanhã V. Ex.a vai comandar os exércitos da Rainha; e eu - os da Republica: se a espada de Bouças se medir com a espada da Asseiceira, nem por isso a minha amizade e consideração para com V. Ex.a soferá a menor quebra
●As pretensões belgas – O processo terá sido inspirado pelo próprio rei Leopoldo da Bélgica, através do embaixador Van der Weyer, não faltando até uma esquadra britânica surta no Tejo, que desembarca 700 marinheiros para defenderem o Paço, e falando-se no apoio da diplomacia francesa. O rei dos belgas pretenderia, aliás, que lhe fosse atribuída uma das nossas possessões africanas. Em troca, promete enviar tropas belgas, em navios ingleses e franceses.
●Governo resiste – D. Maria II tem 17 anos e D. Fernando, apenas 20. Sá da Bandeira e Passos Manuel, apoiados de 800 guardas municipais e de 12 000 guardas nacionais, resistem e dizem quererem combater as influências estrangeiras, procurando conciliar certo radicalismo de autenticidade liberal com a resistência nacionalista (4 de Novembro).
●Gabinete dos mortos – Chega a estar constituído um governo, sob a presidência do marquês de Valençaö, o gabinete dos mortos, com Alexandre Tomás de Morais Sarmento, Francisco de Paula Oliveira, Joaquim da Costa Bandeira (visconde de Porto Covo), José Vasconcelos Bandeira de Lemos (barão de Leiria) e José Xavier Bressane Leite.
●Avilez cerca Belém – O gabinete do marquês de Valença acaba por não ser empossado e os setembristas consolidam posições, exigindo o embarque das tropas britânicas, principalmente depois do conde de Avilez, à frente de dois esquadrões, cercar Belém. Silva Carvalho refugia-se a bordo de um navio inglês e pede ajuda a Passos Manuel e Sá da Bandeira (6 de Dezembro).
●O nacionalismo – Passos proclama expressamente que Portugal não seria uma prefeitura britânica nem Sua Majestade um alto-comissário das ilhas Jónicas. Quando D. Fernando diz que os vassalos não obedecem à rainha, o mesmo Passos observa: Porque Sua majestade manda o que não pode ou o que não deve.
●O compromisso – Mas Passos Manuel acaba por fazer um compromisso com o Paço, prometendo uma constituição moderada que servisse de armistício. Este tipo de golpe será repetido, com êxito, em Outubro de 1846, com a chamada emboscada de Saldanha, em apoio do cabralismo.
●A vítima – Entretanto, Agostinho José Freire, fardado e cheio de comendas, é assassinado na Pampulha, pelo sapateiro Manuel da Silva, sendo o respectivo cadáver arrastado pelas ruas da capital.