Respublica
Repertório Português de Ciência Política
Edição electrónica 2004
Paixão
Hobbes, procurando
aquilo que pensava serem as origens das sociedades humanas,
considera que as mesmas não estão na razão, mas na paixão e na mais forte de
todas elas, o medo da morte, muito especialmente da morte violenta provocada por
outro. E é nela que faz assentar todo o respectivo modelo. Dessa paixão deriva
o primeiro dos desejos, o de conservarmos a vida, bem como o primeiro dos
direitos, o direito à vida. A partir de então, o facto moral essencial deixa
de ser um dever e passa a ser um direito, o direito fundamental e inalienável
à vida, o único direito incondicional e absoluto. Porque aquilo que
verdadeiramente move os homens é o medo da morte, o desejo de conservação, a
luta pela vida, pelo que não deixa de admitir-se que a razão é filha da necessidade e que a medida do direito é a utilidade. Assim, o direito, a moral e a
política passam a ser explicados pelas categorias da física, onde, no
movimento, há sempre uma imbricação das causas e de efeitos, num encadeamento
que faz do mundo e do próprio indivíduo, meros mecanismos.