AMANHÃ HÁ-DE VIR SOL

Seguirmos com o sol a viagem do tempo,
sermos átomos do horizonte
e genes da distância.

Posso não ser mais do que saudade,
de todos os passos que não dei,
mas, dos restos de quem fui
talvez possa romper
o misterioso fulgor
de qualquer manhã.
Posso talvez, dentro de mim,
esquecer quem fui
diluindo minha história
entre os vazios da memória.

Mas amanhã há-de vir sol
e quem sonho tem de vencer
a decadência de quem sou
(meu futuro fará esquecer
este ser que definha,
preso aquele que não sou).

Partir de mim, ver-me de cima,
ser um heterónimo de mim mesmo
e libertar-me da multidão,
não ser apenas mais um entre os demais.