HÁ UMA ROSA COR DE ROSA

Pomos trancas na porta e dentro de casa, encastelados,
fingimos fugir deste tropel de que somos parcela
Mesmo sem querer somos cidade um mais um recenseados
um mais um igual a muitos na longa fila da sobrevivência.
Mas todos um a um sem sermos um
eis que vamos procurando a ilusão da liberdade,
sempre a vislumbrar nesgas de mar
nas vielas obscuras da cidade.
Especialmente à noite, eis que todos fingimos
fugir deste tropel de que somos pertença.
Pomos trancas em nós mesmos e tratamos de sonhar
que não somos resultante de tudo o resto.

Há uma rosa cor de rosa
dando luz e cor
à rotina do meu quarto.
Uma rosa mesmo flor
bem presa em sua jarra
e um corpo cansado,
sobre si amargurado.
Um delírio sem fim
remoendo em mim.

Assim dói a rotina
de mais um dia igual,
quando pesam nos olhos
os remorsos de não ser
de não ser tamanho
quantos os sonhos
que felizmente tenho.