MEMÓRIAS DE BARCA BELA
Gaivotas rapinas da peste petrolífera
circundam a cidade do Tejo morto.
Frias casas, abandonadas
sombreiam restos de fragatas,
ferrugem, lodo e retorcidas chapas...
Quanto apetecem barcos à vela:
branco sobre o azul da barra,
com um sol de oiro a pique.
Memórias de barca bela
que me levem de viagem,
além de mim, além mar,
Lá, onde o sonho é espuma de onda,
espaço de praia deserta,
com palmeiras marulhando
e gazelas galgando selvas.
Onde há mulheres donzelas,
papaias, terra vermelha
e sempre um tempo tropical
de sal e sonho, à beira mar.
Que não um Tejo que seja resto
de barcas que foram à Taprobana,
de ferros retorcidos, enferrujados
e velas podres presas no lodo.
Venham gaivotas brancas,
naves de velas pandas,
venham comigo
descobrir mais mar.
Há sempre sereias e pátria
para quem for digno de sonhar.
Há praias, poetas
e cordas de guitarra,
uma vida intensa por dedilhar.
Venham comigo, mulheres de amar,
há tantos mar por desvendar