NÃO FAZER NADA
O tempo que passa me consome
e crucificado na lama
tento esquecer meu sonho.
O problema é que apesar de tudo
sinto ser mais do que aquilo que pareço,
continuando a estender meus olhos
para o infindável norte
que certas estradas me prometem.
Ah! Esta revolta que domesticamente se gasta
esta fúria vã de quem não quer o que tem
prometendo ser quem nunca virá a ser.
Apetece não fazer mais nada
deixar a casa toda desarrumada,
sentar no sofá, ler o jornal,
ser um cidadão normal
sem sofrer o tempo que passa
(desses que se deixam conduzir
pelo fluir do telejornal).
Apetece não fazer nada
para assim não ter que fazer
aquilo que tenho medo de fazer
(e não fazer nada é muito
para quem, todos os dias,
tem que ser por ter de ser
fazendo aquilo que lhe mandam
p'ra cumprir sua função).